32 ¶ Segundo dia.

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"Somos muito pequenos. Como ratos que têm que ir pela vida fazendo buracos, porque não tem nem ideia de outra coisa que podem fazer."

Mas já imaginaram as milhares de coisas que nós podemos fazer?

Nós, seres humanos?

Saltar de um penhasco e voar, mesmo sem asas próprias. Ou como podemos ir o mais fundo que quisermos no oceano pacífico através de um submarino que há muitos anos atrás ninguém tinha noção que fosse existir. Mas estamos ocupados demais para nos glorificar de toda a benção que carregamos todos os dias, não?

Eu sei que eu estava.

Estava ocupada com medo das pessoas, dos seus comentários e dos olhares maldosos. Ocupada me importando com o que pensavam de mim quando — no final — nada disso era relevante. Aprendi isso da pior forma: Em uma maca de hospital, lutando contra uma parada cardíaca causada por estresse.

Por estresse! Como é possível uma garota de 17 anos ter tanto estresse?

Céus! Eu nem estava na idade adulta e já carregava mais cicatrizes na pele do que um idoso.

Por que?

O que eu tinha feito de tão ruim?

Joguei pedra na cruz?

Julguei Maria?

Eram perguntas aleatórias mas que mexiam muito com meu psicológico durante a madrugada de todas as noites desde a minha saída do hospital.

Movi meus pés rapidamente para fora do banheiro feminino. O corredor estava lotado de alunos perambulando de um lado para o outro, a correria me confortava, pois isso me livrava de olhares. Caminhei até o meu armário, me esquivando de cada corpo que encontrava no caminho, ignorando cada olhar.

Eles não me poupavam nenhum dia.

As inúmeras especulações sobre eu e Connor convivendo diariamente haviam se tornado cada vez mais absurdas.

— Oi.

Ouvi a voz de Scott ao meu lado. O olhei, mas não respondi. Abri meu armário sem deixar que notasse meus olhos vermelhos.

Não estava com raiva, muito menos ressentida, só não queria continuar usando minha máscara. Não queria ter que continuar me torturando, criando raízes quando ele não fazia o mesmo. Acho que devíamos nos manter longe um do outro. Eu era tóxica, assim como Connor, e talvez por isso nós dois estávamos no mesmo patamar da loucura.

— Lembra do dia da feira aqui na escola quando convidei você pra assistir o super bowl comigo?

Dei de ombros enquanto continuava vasculhando o armário.

— O que tem?

Scott se colocou na minha frente, me impedindo de continuar.

— Você nunca respondeu se aceitava ou não.

Franzi o cenho, confusa.

— Por que isso agora?

Havia dias em que eu estava cansada demais, até pra interagir. E esse era um desses dias. Eu só queria pegar meus livros, ir para aula, e depois para o trabalho.

— Quero saber sua resposta.

Suspirei. Carregava comigo o peso do mundo nas costas, e Scott não queria mesmo minha resposta naquele momento.

— Scott, não estou num bom dia, será que podemos conversar depois? — pedi, meio impaciente.

Encolheu os ombros.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora