Ele morreu

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O som do disparo pôde ser ouvido da escola, daquilo eu tinha total certeza. Talvez não dela inteira, mas se mais alguém estava saindo de lá iria ouvi-lo. O ruído estrondoso me fez encolher, os olhos fechados com força. O som já havia sido apresentado, eu apenas aguardava o impacto. O coração batia desesperado, compassando uma musica própria de desespero, um coração que em breve pararia de bater. Eu podia escuta-lo nos ouvidos, em breve não escutaria mais nada. Eu já não via nada e em breve nunca mais veria. Os pensamentos foram silenciados por desespero primitivo e passageiro, que logo chegaria ao fim. Eu chegaria ao fim. Minha existência chegaria ao final. Um pequeno filme desordenado de tristeza, com um fim trágico, arrancando a felicidade de mim bem quando a alcançara.

Isso era cruel, meu fim era cruel.

Senti algo se chocar contra meu ombro e então outro disparo sendo soado. Meu corpo foi de encontro ao chão, mas percebi algo errado. Abri os olhos mirando DongYul, que antes estava ao meu lado. Ele havia me empurrado. Agora entre o preto de roupas que um dia haviam sido minhas havia carmim. Mas sua expressão mal deixava a mostra que ele tinha ciência daquilo, ou que se importava. Uma feição séria e determinada, mas ao mesmo tempo derrotada. Ele sabia que era seu fim. Seu braço estava erguido, em sua mão havia outra arma, a que havia disparado por ultimo. Lee não parecia ter forças para segurar aquilo, mas a empunhava firmemente.

Ele havia tomado o tiro por mim.

Olhei com urgência na direção de DongHyo, DongYul havia atirado e acertado seu peito. Ele cambaleava fraco, mas ainda assim apontou a arma para mim novamente. Outro disparo foi soado, o corpo de DongHyo foi ao chão. Inerte e sem vida. Completamente imóvel senão o sangue que reverberava de seu peito, manchando roupa e chão e neve.

Meu olhar retornou a DongYul, mal escutava o mundo ao meu redor sobre o rugido de minha mente. O ruído ensurdecedor que preenchia meus ouvidos. Ele olhou para mim lentamente, não parecendo ter forças para mais nada, seu braço tremia e ele parecia prestes a cair. Uma de suas pernas vacilou e seu corpo também foi de encontro ao chão, a arma caindo longe de suas mãos.

Estiquei o pescoço na sua direção tentando o ver, esgueirei-me até ele, aproximando-me de forma cautelosa. Ele parecia inconsciente, não aparentava mais estar respirando, mas algo me demonstrou que ainda estava vivo. Seus olhos semiabertos, pareciam se manter assim sofregamente. A neve branca era agora manchada por carmesim. Eu sentia meu corpo tremendo, por frio, por medo, pela morte inerente que suspirava por ali. Minhas roupas estavam levemente sujas de neve, eu sentia minhas mãos arderem pelo frio gritante.

Seus olhos se abriram mais quando surgi diante de si. Ele permanecia com aquele olhar derrotado, com uma pitada de culpa agora. Olhei paralisado para o escarlate que manchava os tecidos pretos.

_WonWoo? – Uma indagação alta, a voz de MinGyu clamava meu nome. O desespero era nítido, muito bem perceptível mesmo que eu estivesse de costas. Virei-me o olhando, ele corria até mim. Olhei para DongYul novamente, o corpo ainda tremia irrefutavelmente, eu sabia que nada podia ser feito. A morte era inevitável, não a minha, mas a dele. Nunca havia imaginado uma situação assim, nunca me permitia pensar de mais em DongYul. Mas aquilo, vê-lo morrendo na minha frente. Aquilo eu não era capaz de ver em nenhum pesadelo, eu não era capaz de imaginar tal coisa.

Os olhos de DongYul, a sina para sua alma reluziam ali. Ele não parecia se importar com a morte iminente enquanto olhava para mim, parecia conformado. Senti braços fortes envolverem meu corpo, MinGyu, mas mal me movi. Não retirara ao olhos de DongYul nem por um segundo. Em choque por ver aquele menino de tantas faces morrer, mas morrer em meu lugar por ter se sacrificado por mim.

Então ele queria mesmo ajudar?

_Desculpe – Ouvi seu sussurro, a ultima suplica. Sua ultima palavra. Seus lábios tremeram, maltratados pelo frio. Não em qualquer antecedência de choro. Não me movi, muito menos lhe disse algo, apenas o observei. E presenciei o momento em que o brilho deixara seus olhos.

Aquilo pareceu ser um gatilho, logo minhas lágrimas me foram percebíveis no rosto. Lágrimas de medo, pavor por temer minha morte. Tudo me foi percebido subitamente, o frio, a voz de MinGyu que continuava a repetir meu nome baixinho incessantemente. Tudo foi um baque quando a adrenalina se dispersou brevemente.

DongYul havia morrido

_Won, o que aconteceu? – Percebi a pergunta, a voz embargada em choro, abafada contra minhas roupas. Medo por minha porte ter sido possível, imaginei. Mas não ouvi, muito menos compreendi, minha mente pendia para o nada. Meus olhos pendiam o vazio dos olhos de DongYul. Havia uma pessoa morta bem a minha frente, aquela não era a primeira vez. Havia DongYul morto a minha frente.

Eu não conseguia me mover, desviar os olhos ou responder MinGyu. Estava imóvel, completamente inerte para o mundo ao meu redor. Não tinha forças ou capacidade de conseguir me mover. Apenas observava estático o corpo que jazia bem a minha frente.

Dissipando o choque, a escuridão me chamou.



O garoto estranho que usava pretoWhere stories live. Discover now