Eu queria ser uma borboleta

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(Narrado por WonWoo)

Estava tudo branco, sem absolutamente nada ou ninguém. O vazio me era aconchegante, não era frio ou quente, e não era incômodo aos olhos apesar de ser claro. Era bom, eu poderia passar o resto dos meus dias ali e não reclamaria. Até que vi uma borboleta voar por ali, era colorida e pequena, tinha uma aparência frágil e trazia a cor amarela ao lugar. Observei-a voar por ali, sempre me rodeando.

Então outra apareceu. Daquela vez uma azul e maior, voando mais acima que a amarela, mas mais lentamente também. E outras surgiram voando mais perto, outras mais longe. Borboletas coloridas, de varias cores e jeitos e tamanhos. Algumas pousavam por perto outras iam embora, mas a amarela e a azul continuavam ali, uma perto da outra.

Sorri olhando em volta, eu me sentia em paz ali. Era um lugar bom que me deixava alegre por algum motivo. Ergui o braço deixando que borboletas pousassem ali, sorri mais quando as duas pousaram em meu dedo, a amarela e a azul.

Abri os olhos e o que antes era um branco confortável aos olhos se tornou um incômodo ao qual precisei me acostumar. Pisquei algumas vezes até me acostumar com a claridade e desviar o olhar do teto branco de mais. Percebi que aquele não era meu quarto e tentei focalizar a visão para ver onde estava.

Quando minha visão se tornou menos embaçada a primeira coisa que consegui ver foi uma borboleta, minha visão se prendeu a ela e apenas consegui observa-la. Sua cor era preta, e ela parecia ser grande de onde eu a olhava. Estranhamente meus pensamentos estavam silenciados, não se passava nada em minha mente e eu apenas continuava respirando por ter um aparelho me possibilitando tal ato.

Aparelho...?

Olhei para o lugar onde eu me encontrava, com a visão normal daquela vez. Eu estava num hospital? Como havia chego ali? Quando havia chego ali? Onde estava meu pai? Ignorei aquilo tudo, aquilo importava no final? Eu não tinha mais minha mãe, não tinha mais ninguém. Provavelmente devido à falta de alimentação e ao que havia passado nas mãos de meu pai não sobreviveria nem mais uma semana se não tentasse, e eu não iria tentar.

Aquela voz que me dizia para ficar, que me dizia para tentar, estava mais fraca. Quase inaudível. E por ela ter ido embora, outras vozes ocuparam seu espaço. Mas eu estava tão cansado e tão imerso no silêncio de minha alma que mal as escutei e voltei a contemplar a borboleta preta.

"Borboletas pretas significam morte, sabia?"

Talvez seja a minha morte, talvez seja a morte de minha mãe. Eu não me importava. As vozes agora pareciam ter perdido a força, pareciam não estar com tanta vontade de me destruir, talvez seja a morte delas... eu não sabia se ficava feliz com aquilo, se me importasse certamente ficaria, mas agora não parecia fazer a mínima diferença em toda a minha vida.

"Ou talvez seja a morte de seus amigos"

"A morte de seu pai...".

O baque me atingiu com a ideia de ser órfão, mesmo se eu fosse morrer... Este seria meu fim? Morrer órfão quase ao mesmo tempo em que meus pais, sem amigos por tê-los afastado, e deixando um garoto confuso para trás por não ter falado nada de meu passado para ele.

Passado.

Apreciei a palavra, eu tinha um passado? Eu mal tinha 17 anos, como teria um passado? Que bela vida, nem terminei a adolescência e já fui enganado, agredido, torturado, abusado, dentre tantos outros termos negativos. Seria legal se eu tivesse tido uma salvação, seria melhor ainda se eu não tivesse precisado de uma salvação. Se eu não tivesse feito nada daquilo e ficado quieto com meus amigos nada daquilo teria acontecido, possivelmente sequer meu pai teria mudado tanto.

Eu poderia ter sido feliz, eu poderia ter sido como aquela borboleta. Apenas voando por aí, sem me importar para onde estou indo ou para onde tenho que ir. Sem obrigações, sem magoas. Sem lagrimas. Seria como um sonho.

Algumas horas se passaram, a borboleta foi embora pela janela levando consigo sua mensagem de morte. O médico me informou que eu tinha uma serie de problemas e que teria que tomar muitos remédios e me cuidar. E acima de tudo, não exagerar em esforços físicos por um bom tempo.

O medico também disse algo sobre um garoto alto chamado MinGyu ter me levado até ali junto de sua mãe. Minha mente viajou no momento em que ele disse mãe e acabei não o respondendo quando ele perguntou se eu conhecia o tal garoto. Ele fez algumas anotações e murmurou sobre o meu caso ser pior do que ele havia imaginado.

Fiquei surpreso ao saber que não teria que ficar ali no hospital por muito tempo. Mas mesmo a surpresa foi passageira e o vazio me inundou novamente, me abraçando e tapando meus olhos me mantendo em estado vegetativo por um bom tempo. Até que elas voltassem quando o médico já não estava mais ali.

"Você é um garoto bem esperançoso, não?".

"Achei que a essa altura você já teria pegado aqueles remédios...".

"... E se matado".

Não dei ouvidos a elas, não conseguiria me mover para pegar qualquer remédio mesmo. Eu sentia tudo doer simplesmente ao respirar, não gostaria de arriscar ficar me mexendo para pegar remédios sendo que já estava em um hospital. Fazer uma lavagem em meu estômago seria rápido, e eu apenas sentiria mais dor.

Eu não queria sentir mais dor.

Fechei os olhos suspirando, não queria estar ali. MinGyu poderia muito bem ter me deixado por mais tempo naquele chão, apenas para que eu pudesse ter a oportunidade de morrer. Lembrava-me de estar consciente ao ouvir sua voz, mas não estava forte o suficiente para manter os olhos abertos por muito tempo. E então ouvi algumas vozes até que finalmente apaguei até acordar do sonho das borboletas.

Ouvi algumas vozes e tentei abrir os olhos, mas o mesmo episodio se repetia, eu não tinha forças o bastante nem para aquilo, mas tinha para reconhecer a voz de JeongHan.

_WonWoo...

"É um inútil"

O garoto estranho que usava pretoWhere stories live. Discover now