O garoto estranho que usava preto

Ele tinha um olhar profundo

Fui até a sala tentando ignorar as piadinhas de SeungKwan, ainda não sabia como não tinha ficado com raiva o bastante para dar um belo soco no mais novo. Adentramos a sala chamando atenção pela risada sempre escandalosa de Boo.

_ Por que não vai se pegar com o Vernon? - Provoquei vendo ele ficar vermelho, só não sabia se era de vergonha ou raiva pois sua expressão não era muito clara.

_ Cala a boca e vai atrás do teu amado, vai poste - Falou sério me fazendo rir, chegamos a sua mesa e ele se sentou nela mandando ao inferno os bons modos. Resolvi o irritar mais.

_ Ah, qual é. Ta escrito na testa de vocês dois que vocês estão juntos. E ele não é meu "amado" - Fiz aspas com os dedos - E você que é baixinho - Ah, dizer aquilo foi o meu maior erro.

_ O que disse? - Dei um sorriso forçado e uma risada sem graça.

_ Eu disse que você é bonitinho - Ouvi uma risada fraca e rouca do meu lado e instintivamente olhei para a fonte do som. Só não esperava que ele seria o dono da risada.

O que eu faço? Minha cabeça está cheia com coisas que eu quero dizer.

Alguém pode dize-las por mim?

Sua risada tinha uma melodia até então tão nova e maravilhosa aos meus ouvidos, que acho que teria me prendido àquele som num estado vegetativo por horas se seu olhar não tivesse cruzado com o meu. Aqueles olhos negros e vazios que agora continham um pouco de diversão.

Eu fico perturbado com os seus olhos misteriosos.

Por que é tão difícil dizer uma palavra?

De repente senti um peso a mais sobre minhas costas, me desequilibrei com o peso sobressalente mas não caí. Percebi ser SeungKwan quando olhei para cima e o vi me encarando sem expressão, segurei um arrepio.

_ O que caralhos você tá fazendo? - Falei em desespero tentando me manter em pé, ele mostrou uma tesoura com a mão que não estava em volta de meu pescoço _ quase me enforcando por sinal _ e eu arregalei os olhos - O que você pretende fazer com isso? SeungKwan por favor não faça nada que eu não faria, pensa bem, meu cabelo é muito lindo para morrer jovem desse jeito - Ouvi novamente aquele som rouco e divertido e quase entrei em ebulição.

Posso ser tímido, mas sou muito cuidadoso.

​De agora em diante olhe para mim.

_ Retire o que disse - Kwan gritou contrastando com sua expressão séria. Engoli em seco dando um passo para trás pelo peso, Kwan não era exatamente leve.

_ Ok, ok, calma, você não é baixinho - Ele desceu de cima de mim guardando a tesoura - Mas a parte do Vernon eu não retiro não - Brinquei sorrindo e ele novamente ficou vermelho. É, era de vergonha.

*-*

Chego em casa cansado e enérgico, se é que era possível. O cansaço era devido ao tanto de afazeres que tinha para fazer, ou seja, era apenas preguiça. Já a energia era por que a cada passo minha mente me levava a uma lembrança. O sorriso dele, a risada, o olhar vazio.

Não importa o quanto ocupado eu estou

Cuidarei de você

Quando você olha para mim woo

Subi as escadas lentamente por estar meio avoado e joguei minha mochila de qualquer forma em cima da cama. Dei meia volta e desci as escadas fazendo uma curva acentuada para rumar até a cozinha. No meio do corredor pude sentir um aroma ótimo, hoje teríamos kalgooksu e galbi no almoço. Adentrei o local sorrindo ao ver minha mãe cantarolando algo em frente ao fogão com uma alegria incrível para uma segunda feira.

_ Oi mãe - A cumprimentei me aproximando, ela se virou e me abraçou beijando minha bochecha com carinho, retribui aos dois.

_ Olá filho, como foi a escola? - Perguntou gentilmente voltando sua atenção para o fogão. Me sentei num banquinho do balcão.

_ Ah, normal... Muita coisa como sempre - Ela se virou me olhando como se dissesse sabe o que eu quis dizer. Não entendi muito bem e provavelmente fiquei com cara de interrogação.

_ Ah Gyunnie, não minta para a sua mãe, eu te vi chegando. Me diz, quem é o sortudo? - Ok, admito, neste momento o meu cérebro deu uma leve parada e me deu tela azul.

_ Que?! - Indaguei confuso - Como assim "garoto"? - Ela riu me fazendo ficar mais confuso ainda.

_ Ah, MinGyu, uma mãe percebe né? - Ela desligou o fogo das panelas e veio até o banquinho que se encontrava ao meu lado. A olhei constrangido - Agora me conta, quem roubou o coração do meu filhinho?

_ O que? Ninguém! - Falei com um pequeno pânico percorrendo meu corpo, ela apenas sorriu mais - Eu não tô apaixonado por ele, ok? Eu nunca nem falei com ele, não tô apaixonado - Ela manteve seu sorriso e ele apenas aumentou de tamanho se tornando radiante.

_ Se é o que você acha.

Todo dia eu sonho com você woo