O garoto estranho que usava preto

Fui covarde inutilmente

(Narrado por JeongHan)

A respiração se condensava a minha frente pela baixa temperatura, o que apenas me fazia ficar mais tenso por algum motivo que eu desconhecia. Eu usava um agasalho pesado por não ser a pessoa mais adaptável ao frio que fazia no inverno. E novamente caminhava na direção daquele hospital, mas daquela vez sem Coups ao meu lado.

Seguiria seu conselho e sim, pediria desculpas a WonWoo, com ele acordado daquela vez. MinGyu havia nos informado que o garoto pálido de cabelos pretos finalmente abrira os olhos em tanto tempo. Mas não dera detalhes e apenas se retirou do local rápido de mais para alguém como ele, se o conhecesse, arriscaria dizer que WonWoo poderia estar de alguma forma, pior. Mas não podia especular sem saber nada se eu já estava indo ao encontro dele.

Soltara um suspiro pesado ao parar em frente ao hospital e encarara a grande estrutura de concreto sem cor. Ainda tinha medo e a grande sensação de que não conseguiria fazer aquilo, mas sabia que corria o risco de decepcionar Cheol por não conseguir. Não seria mais um covarde, tentaria com todas as forças não desistir, tinha que pedir desculpas por tudo. Tinha que tirar aquele peso das costas, mesmo que ele dissesse que não acreditava em mim depois.

Adentrei a passadas leves e cautelosas, quase medrosas, como se um passo em falso pudesse me levar para outro lugar bem longe dali. Olhei para aquela porta ao parar rente a ela, através do pequeno espelho consegui ver WonWoo acordado encarando o nada sentado na maca. Na verdade, não era o nada, ele olhava para o lado, para outra pessoa numa outra maca, desacordada. Engoli em seco, conhecia aquele rosto de algum lugar, e não me lembrava de ser alguém minimamente bom.

Respirei fundo mais uma vez e pus a mão naquela maçaneta conseguindo reunir coragem o bastante para abri-la. Assim que dei o primeiro passo para entrar ali vi sua cabeça se virar na minha direção. Engoli em seco ao me aproximar embora hesitante tentando não olha-lo diretamente. Pela visão periférica, nostalgia palpitou em mim ao ver seus óculos redondos, tão perfeitamente redondos quanto os de Harry Potter.

_Hannie? – O tom de sua voz era rouco, mas ao mesmo tão infantil que fora quase impossível não chorar, mas deti as lágrimas. O olhei meio perdido esquecendo que seu estado era ruim e quase me surpreendendo com a cicatriz da ferida de sua bochecha. O contato visual se manteve intacto por alguns segundos, num clima tão pesado que me sufocou. Ele não parecia com raiva, mas o medo em mim não descansava mesmo enquanto eu olhava para aquela expressão inocente e quase feliz por me ver ali.

_Oi... – murmurei tentando abranger o medo e parecer minimamente normal, ele não me cumprimentou de volta e apenas continuou a me olhar como se estudasse meus atos e expressões. Engoli em seco tentando idealizara algo bom o bastante como desculpa por ter mudado de cidade atrás dele para cuidar do mesmo e no final apenas ter ficado com raiva – Eu... – Procurei desesperadamente por palavras, mas elas pareciam ter fugido naquele momento. Então apenas mudei de assunto até que conseguisse novamente outro pulso de coragem para tocar naquele.

_Como se sente? – interpelei fazendo-o dar de ombros levemente provavelmente por não estar exatamente forte ou saudável. Não consegui evitar relembrar como era antes de SeungCheol aparecer. Éramos apenas eu e WonWoo.

Ele já apanhava e eu sequer tinha ideia, ele sofria e pedia ajuda com seu silêncio e eu sequer entendia. Comunicávamo-nos com perguntas de minha parte e movimentos dele, ele mal falava desde que me mudei vindo atrás de si. E nunca havia me passado pela cabeça o porquê, que poderia ser por gastar sua voz quando era espancado ou algo do tipo. Eu era um idiota completo por aquilo.

Eu sabia que aquele dar de ombros significava que estava mal, mas que não queria afirmar. Suspirei quase imperceptivelmente e mordi o lábio inferior para em seguida falar.

_Você... Desculpa – gaguejei de inicio para finalmente deixar de lado todo o medo e falar tudo de uma vez por todas e ser expulso dali por ele se preciso – Por ter perdido a cabeça aquele dia – Senti os olhos umidecerem-se ao lembrar-me da imagem de WonWoo ficando desacordado bem a minha frente e caindo sobre mim – Eu acho que estava tão afligido por não entender o porquê de ter se desaproximado de nós que esqueci que você nunca faz nada sem um bom motivo... – Vi sua expressão se tornar temerosa por fração de segundo – Não se preocupe, eu não vim aqui na intensão de te fazer dizer o que houve, eu só quero me desculpar contigo.

Senti um súbito aperto na mão e ergui a cabeça o olhando, segui seu olhar até nossas mãos unidas e sorri de lado. Aquilo era quase um abraço.

O olhei novamente quando ele recolheu a mão e deixou de olhar para nossas mãos para, num ato rápido olhar da outra pessoa que se encontrava ali para mim. Olhei para o outro garoto ali com a mesma sensação de que o conhecia inquietando-me. WonWoo, ou queria me dizer algo, ou não conseguia evitar olhar para aquele garoto como se estivesse em alerta. E aquilo apenas aumentava minha agonia por não lembrar que rosto era aquele.

Não conseguia relembrar a quem pertencia os cabelos tingidos num azul claro, não conseguia adquirir confiança ao encarar aquele piercing no lábio inferior. Ou aquele na orelha. Ah, aquela pessoa inteira não me parecia alguém de boas memorias, como se a volta daquele rosto aparentemente inofensivo e adorável houvesse uma aura de obscuridade. Semicerrei os olhos para a aparência bonitinha demais.

Olhei novamente para WonWoo, que ainda me olhava, sem alguma expressão e parecendo me analisar. Eu não conseguia identificar como ele se sentia, mas ele parecia fazê-lo com maestria ao me olhar daquela forma. Engoli em seco e baixei o olhar, um grande peso havia acabado de ser retirado de meu peito, mas agora havia outro. Levianamente menor, mas outro.

_Fique bem, ok? Eu vou voltar para te ver sempre que possível – Pude jurar que vi um brilho de medo em seus olhos, mas provavelmente era coisa da minha cabeça.