Ele era tão fofo

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(Narrado por Jun)

O som estridente do sino ecoou pelos corredores e salas denunciando o final de mais um dia de aula. Saí apressado da sala dando apenas um aceno para Vernon e o deixando ali. Fiz um esforço para passar pelos estudantes e chegar ao lado de fora da escola o mais rápido possível para alcançar MingHao a tempo. Não queria deixa-lo ir embora e ter que falar com ele outro dia, já havia enrolado de mais. Olhei em volta procurando o rosto bonito e familiar entre tantos outros, mas não obtive muito sucesso no meio de tanta confusão e alunos desesperados para voltar para casa. Olhando mais um pouco consegui o ver não muito longe numa calçada, mesmo com tanta gente ao redor ele se mantinha recluso, conseguindo passar longe de todas as pessoas. Chamei por seu nome indo na sua direção tendo como objetivo faze-lo parar e olhar para trás para me ver ali.

Ele parou de andar e olhou por cima do ombro na minha direção parecendo confuso. Parei a sua frente e tentei abafar um sorriso ao dizer, após colocar as mãos atrás do corpo:

_Feche os olhos – Ele franziu a testa por um segundo parecendo confuso, mas fechou os olhos parecendo desconfiado. Continuei o olhando por alguns segundos para checar se ele não os abriria. Acabei reparando em seus traços bonitos por mais tempo que o previsto, seu rosto fino chamando e prendendo minha atenção. Levei o olhar para sua mão, segurei seu braço e o senti segurar minha mão num ato rápido. Pisquei para a rapidez e o olhei espantado vendo sua expressão tensa – Não é para olhar MingMing – falei sorrindo vendo seu olhar se tornar desacreditado e surpreso.

_Você lembra...! – falou espantado me olhando com pesar melancólico, mas ainda sem soltar minha mão.

_Feche os olhos – Repeti e ele me obedeceu mais uma vez finalmente soltando meu pulso. Ergui a manga de seu moletom e vi outra pulseira ali, a pulseira original. Soltei um suspiro surpreso e o vi esboçar um leve sorriso ainda de olhos fechados, um sorriso quase invisível aos olhos. Ele continuava a usando, mesmo após todos aqueles anos, mesmo após eu mesmo ter lhe afirmado que não lembrava de si, ele continuava a usando. Conferi novamente se ele não olhava e coloquei a nova pulseira ali, do lado da antiga a amarrando em seu pulso fino. Mesmo ele tendo crescido, após tantos anos, aquela pulseira ainda lhe cabia. Soltei-lhe e fiz o mesmo que ele havia feito, ergui o braço e sorri o esperando abrir os olhos. Ele olhou para as duas pulseiras de coloração verde, como se o seu amarelo e o meu azul tivessem se misturado.

_Você lembrou mesmo... – falou com certo pesar continuando a encara-las até seu rosto assumir uma tonalidade rósea fofa. Seu olhar veio de encontro ao meu e acabei sorrindo pela forma fofa que ele havia ficado envergonhado.

_Desculpa por não ter lembrado antes, e por não ter dito nada quando lembrei. Eu queria te dar algo especial que mostrasse que eu lembrei de verdade – falei sem graça mordendo o lábio inferior devido ao nervosismo.

_Não precisava Junnie – disse, logo em seguida se assustando com a própria fala e tampando a própria boca. Ri com tamanha fofura em apenas um ser deixando o sorriso permanecer em meus lábios.

_Eu queria mostrar que lembrava MingMing. Te mostrar que mesmo não associando a criança fofa ao adolescente fofo e bonito, eu me lembro de você e você foi importante para mim, ainda é. Eu não me esqueci, você quem mudou de mais, você cresceu – E está muito mais bonito, completei mentalmente. Àquela altura o sorriso lhe predominava os lábios, a felicidade lhe dominava as expressões e a cor vermelha lhe coloria as bochechas. O que me fez sorrir satisfeito com a fofa visão.

_Apenas dizer era o bastante, mas obrigado Jun. É muito bom ouvir isso – disse com sinceridade, identifiquei um leve pesar ali na voz, mas ignorei. Deveria ser do mesmo pesar que caminhava consigo em cada movimento. O mesmo pesar que continha em seu olhar ao encarar as pulseiras, então talvez fosse apenas nostalgia.

Era o que eu tentava me convencer de ser verdade ao menos. Afinal aquele pesar sempre o acompanhava até nas menores coisas. Fora muito nítido no acampamento, no próprio caminho para lá o mesmo até chorara quando demonstrara pesar de mais sobre si. Tudo o que ele fazia parecia conter este mesmo pesar, diria até que fazia parte dele. Eu preferia não dar muita atenção, talvez o aborrecesse ao perguntar, então preferia me dizer que não era nada. Eu podia estar sendo extremamente negligente ao ponderar aquilo, mas era preferível imaginar que ele estava bem. Que isso era apenas uma impressão minha e que ele sempre agia assim. De qualquer forma, se fosse algo, eu tentaria o ajudar.

Ao menos estava com HaoHao novamente.

O garoto estranho que usava pretoWhere stories live. Discover now