HIAGO

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       O garoto de cabelos loiros encantadoramente bagunçados não quer correr, ele não quer seguir em frente sabendo que sua irmã ficou para trás nos braços de um homem aparentemente mais forte que ela. Mas ele não viu o que eu vi, ele não olhou para trás e avistou Ariel derrubando o homem no chão como uma lutadora nata, ele também não conhece a Ariel que eu conheço. A irmã desenhada em sua cabeça provavelmente é aquela que brigava com ele quando ele fazia coisas erradas, a mesma que dormia ao seu lado quando ele ficava com medo, ou seja lá o que eles faziam quando ainda tinham uma vida normal, a única Ariel que ele consegue enxergar é a sua irmã, ele não conhece a mesma Ariel que eu conheci. A que chora muitas vezes quando está se sentindo triste, mas a mesma cuja as lágrimas vão embora quando precisa defender a sua vida, a mesma que sabe mentir quando necessário, uma boa atriz, a mesma que tem um espirito de lutador dentro de si e que não vai abaixar a cabeça para qualquer obstáculo que aparecer em sua frente.

A mesma Ariel que também toma muitas decisões erradas, essa talvez ele conheça, talvez isso não seja novidade nenhuma para ele.

Um sentimento de proteção toma conta dos instintos do garoto que estou tentando ajudar, um sentimento tão profundo e familiar que um filho único como eu seria incapaz de compreender, e mesmo que não entenda o que ele está sentindo, não posso deixar que ele permita que esse sentimento decida quais serão suas ações. Por mais que não saiba como é se sentir dessa forma por um irmão, eu sei de uma coisa: deixar os nossos sentimentos tomarem conta e seguir o nosso coração nunca é uma boa ideia, porque eles sempre vão tomar suas decisões sem pensar duas vezes, e é por isso que o cérebro é mil vezes mais confiável do que o coração – ele sabe raciocinar.

Forço-o a me acompanhar segurando seu braço firmemente, como se fosse um balde de ouro ou a coisa mais importante do mundo e eu não pudesse perder, de uma certa forma ele acaba sendo, só não para mim. Tadeu para de uma vez já na parte de dentro da entrada da floresta e consegue se soltar das minhas mãos fracas, ele me encara preocupado e mexe a cabeça diversas vezes, movendo para um lado e para o outro como o ponteiro daqueles relógios antigos.

— Tadeu, vamos, você tem que sair daqui. — Tento falar educadamente e usando as palavras certas, não tenho intimidade alguma para alterar o tom de voz com ele, tenho que permanecer respeitoso.

Ele, pelo visto, não mede suas palavras.

— Quem é você para me dizer o que devo fazer?

Me surpreendo com a maneira a qual ele fala comigo, mas ao mesmo tempo, não me importo, Tadeu acabou de chegar no jogo e tudo o que está acontecendo acaba afetando seu humor e suas emoções. Não o julgo por isso, todos nós passamos pelo mesmo e cada um teve a sua maneira de colocar os seus demônios para fora.

— Eu sou a pessoa que salvou a sua irmã e a está ajudando até agora.

Minhas palavras saem fracas, sem muita confiança quando as cordas vocais trabalham nelas, não creio que tenha salvado ninguém de nenhuma forma, mas preciso ter um bom discurso caso queira que ele me escute. Ariel confiou em mim para protegê-lo, e por mais que acredite que sua decisão foi muito precipitada e arriscada, era a única solução.

E não posso decepciona-la.

— Eu não me importo com o que você fez, garoto — Ele cospe as palavras em minha cara — Minha irmã está sofrendo nesse jogo maluco e ela precisa da minha ajuda.

O irmão de minha parceira da meia volta, ameaçando voltar para a cidade. Minhas mãos encontram seu corpo antes que eu consiga pensar em qualquer coisa e o impeço de sacrificar a sua vida em vão.

A CAÇA - OS ESCOLHIDOSWhere stories live. Discover now