QUATRO

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Estacionamos o carro na garagem que fica ao lado do local da festa, vários veículos bonitos e de grande porte ocupam as vagas. Alguns são baixos, outros mais altos, de cores como o preto, prata e cinza. Diversos modelos chamativos e outros mais discretos. Fico surpresa em como todos eles são extremamente extravagantes, porém, um deles chama a minha atenção. Avisto um carro dourado meio curvado para baixo, o vidro fumê cai perfeitamente bem com a cor chamativa do automóvel. Sem dúvida está entre os mais bonitos, se não for o melhor de todos. Já o carro de Paulo era de longe o mais simples do estacionamento, e ele não se importava com isso. Muito menos eu.

       Ignoro a beleza do carro de cor diferenciada e volto minha atenção para minha companhia da festa, que guarda as chaves em seu bolso esquerdo. Pela primeira vez na noite presto atenção em sua roupa, que está impecável. Graças ao meu pequeno período trabalhando como costureira, reconheço a roupa que ele usa. Paulo veste uma calça resinada preta, uma imitação de couro confeccionado em algodão. Mesmo tendo trabalhado com tecidos mais baratos reconheço a maioria quando vejo. A calça cabe direitinho nele, como se fosse feita exclusivamente para o seu uso. Na parte de cima ele usa uma camisa social vermelha que não sei identificar o tecido, mas é grosso e um pouco parecido com o da calça.

       — Você está lindo!

       — Talvez até um pouco mais que a rainha, será que ela permite alguém mais deslumbrante que ela? — Paulo brinca, dando uma piscadela para mim e não evito uma risadinha. Dou um pequeno tapa em seu ombro para não me dar por vencida, e ele estende o braço para mim, que seguro e caminhamos juntos para dentro do estabelecimento.

       Nós dizemos os nossos nomes para o segurança, que dá uma verificada na lista e me deixa passar com Paulo assim que os encontra. Quando adentramos sou surpreendida pela quantidade de pessoas na festa. Eu esperava cerca de trinta alunos no máximo, pois para mim a festa seria somente para as pessoas da nossa sala. Mas esqueci que alguns alunos trazem os amigos de outras escolas e outros lugares, outros trouxeram os primos e alguns até parentes distantes. Quase ninguém optou por trazer os pais pois seria uma festa mais para os alunos e muitos deles preferem se divertir sem eles, pois de acordo com a maioria, os pais poderiam ditar muitas regras. Mais ou menos cinquenta pessoas ocupam o enorme espaço e ainda contando, pois a cada minuto alguém chega pela portaria. Ignoro o fato de não conhecer muita gente e vou para uma mesa com Paulo ao meu lado.

       Fico encantada com a decoração. Eu não acompanhei e nem opinei em nada do que fizeram, preferi não me meter, além do mais, não sou muito participativa com essas coisas, mas fiquei de boca aberta. Eles estavam de parabéns. O espaço foi decorado para parecer um bar, com algumas mesas redondas espalhadas por todo lado e bancos altos ao invés de cadeiras. Ao lado direito das mesas encontra-se o bar em si, com um homem maior de idade como atendente. Ele lustra alguns copos e limpa o balcão quando meus olhos o avistam. Mais à frente está a pista de dança. Lá dentro é um pouco mais escuro e fechado com tecidos finos quase transparentes. O gelo-seco é liberado a cada mais ou menos cinco minutos, que juntamente com as luzes coloridas que piscam no ritmo da música fazem uma combinação perfeita.

       Alguém cutuca meu ombro e quando me viro, um garoto de jaqueta azul-escuro está com uma máscara de coelho no rosto olhando para mim.

       — Seja bem-vinda ao baile de máscaras do terceiro ano. — Ele diz.
E quando retira a máscara o reconheço, é Jair, um garoto que costumava sentar na fileira ao meu lado durante as aulas.

       — Obrigada pela recepção! Amei a decoração. — Elogio, pois sei que uma das pessoas que mais trabalharam nisso foi Jair, e ninguém mais do que ele merece os parabéns.

A CAÇA - OS ESCOLHIDOSOnde histórias criam vida. Descubra agora