SEIS

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Minha cabeça não me permite descansar por mais de duas horas seguidas. Infinitas possibilidades caminham entre o real e o impossível dentro dos meus pensamentos, e eu como maior vítima delas, preciso saber identifica-las. Sinto meu cérebro martelar minha mente pedindo para fazer algo que me dê respostas. E é isso que pretendo fazer assim que levanto da cama.

Mas não antes de dar uma boa bronca em meu irmão.

São três e meia da tarde quando adentro seu quarto e me deparo com diversos papeis e fotos de peixes espalhados pelo cômodo apertado. Ele está sentado na escrivaninha com a cabeça baixa, focado nas suas anotações. Tadeu estuda algumas espécies de peixe no momento em que o procuro. Um dos maiores sonhos de Tadeu é ser biólogo marinho, estuda frequentemente todos os tipos de animais marítimos para aprimorar cada vez mais seu conhecimento. É tão encantador ver meu irmão focado nos estudos e em busca de realizar seus sonhos que quase esqueço o motivo de estar aqui. Ele nem nota minha presença até que dou dois toques na porta já aberta.

Tadeu me olha por cima do ombro e logo volta a atenção para os papeis em sua frente. Com passos lentos, entro no quarto e me sento em sua cama. Por um segundo ele não diz nada, o que me surpreende, mas logo ele se pronuncia e pergunta exatamente o que eu quero que ele pergunte.

— Deixe-me adivinhar, veio me dar uma bronca?

Um leve suspiro me escapa.

— Para falar a verdade, sim. — Digo, e consigo ver um pequeno sorriso refletido na tela apagada de seu computador velho. — Porque você fez aquilo, Tadeu?

— Fiquei preocupado, não quero que nada de ruim aconteça com você. Por isso quis saber qual seria seu próximo passo.

Seu rosto continua focado nos papéis.

— Ei, olhe para mim. — Ele se vira — meu nome é Ariel Simões, sou dura na queda. Posso lidar com qualquer um que tentar ao menos encostar o dedo em mim.

Imito um golpe desajeitado, que o faz rir.

Pelo menos nisso eu falo a verdade. Pouco tempo antes de ir embora, meu pai me deu algumas aulas de defesa pessoal. Não foram muitas, mas com o meu treinamento consegui me aprimorar e desenvolver novos golpes. Se tem algo que esse homem não conseguia fazer, desconheço. Aprendi com ele muito mais do que qualquer escola poderia me ensinar.

— Mas então — ele começa — Você pretende me contar o que está planejando fazer?

Mordo o lábio, pensativa, mas balaço a cabeça em negação.

— Não acho que seja necessário.

Como esperado, ele protesta.

— Ari, e se você precisar de ajuda? Esse homem é um completo estranho, sabe-se lá o que ele pode fazer. E eu quero saber o que você vai fazer.

Seu pedido parece uma suplica.

— Você o acha tão ameaçador que deu o endereço de onde eu estava para que ele viesse me atacar com informações que mexeram comigo.

Minha fala o deixa sem palavras por um minuto, ele pede desculpas com o olhar, mas eu ignoro, essa é a punição por ter metido nossa mãe no meio dos meus assuntos.

— Eu não achei que ele fosse ameaçador, Ari. — Essa é a sua resposta — Não até você me contar mais sobre ele. Mas deixe-me ir com você, eu sou seu irmão.

— Não, Tadeu. Você pode ser meu irmão, mas não é meu guarda costas.

Isso era o que me preocupava nele. Desde sempre foi assim, depois que cresceu, em todas as vezes que eu me metia em problemas, seja algo pessoal ou até mesmo em brigas da escola, ele sempre estava lá para mim. O que deveria ser ao contrário porque eu sou sua irmã mais velha. Por um lado, pode parecer legal, saber que tem alguém para me defender quando eu precisar. Mas o que me pegava era que eu não queria ser defendida. Eu sabia muito bem como me defender sozinha e não queria que ele se metesse em problemas por minha culpa. Além do mais, essa coisa dele me proteger já durou por muito tempo. Eu sou uma mulher crescida agora, adulta e independente. Sei como cuidar de mim mesma, e não preciso ter o meu irmão como guarda costas o tempo todo.

A CAÇA - OS ESCOLHIDOSWhere stories live. Discover now