JULIANA

128 20 2
                                    

    Aperto o seu pescoço com toda a força que tenho, na tentativa de acabar logo com a sua dor e seu sofrimento, mas diferente do que pensei que aconteceria, a jovem garota é forte o suficiente para resistir por mais tempo do que eu esperava. Ela se contorce sobre minhas mãos com seus olhos arregalados e implorando por socorro. Suas veias estão saltadas e o seu rosto arde em um vermelho desesperador. Não a conheço nem conheço a sua família, mas sei que ela está sofrendo tanto quanto eu. A garota tenta se defender, se esperneando, arranhando e me dando tapas que machucam, mas nada impede que meus dedos se cravem em seu pescoço com força, declarando uma morte lenta e agonizante. Nem quero pensar no que se passa na cabeça dessa pobre jovem, meu único desejo é que ela pare de respirar, seus batimentos cardíacos parados é a única maneira de me livrar disso.

É um jogo de morte. Quem mata, vence. Quem se recusar a matar, será morto. É assim que as coisas funcionam.

Injustas, mas o mundo nunca foi bom o suficiente para existir justiça. Muito menos quando se é controlado pela raça humana. O ódio, a traição e ambição são coisas que nascem conosco. O ser humano é uma criatura incrivelmente bem-feita, biologicamente falando, quase chega à perfeição. Eu disse quase. A sua qualidade é que não dura para sempre, viver em um mundo onde homens são imortais seria viver em uma era de desgraças eternas. E os seus defeitos, é claro, são os sentimentos. São eles que os torna bons e maus, certos e errados, confiáveis ou traidores. Pois não existe nenhum sentimento cem por cento bom, ele sempre vai ter o seu inverso, que consequentemente será a versão negativa dele, pois assim como existe o amor, tem que existir o ódio. São os nossos sentimentos que nos impulsionam a agir de diversas formas, em qualquer situação eles estão lá, esperando uma brecha para tomar conta de nossos instintos. E quando conseguem, na maioria das vezes, eles vencem.

O ser humano é uma máquina defeituosa produzindo qualidades, por esse motivo elas não são fáceis de se adquirir. É difícil se manter certo em um mundo repleto de coisas erradas, mas ser corrompido por elas é tão fácil quanto piscar os olhos.

Meus olhos estão fechados. Só ouço a garganta da garota sendo esmagada enquanto ela tenta falar suas últimas palavras. Não permito, seria demais para mim. Nunca derramei sangue humano com minhas próprias mãos, não sou uma assassina, muito menos uma tão cruel assim. Mas as circunstâncias me fizeram ser, fui corrompida pelo ódio do mundo. Eu poderia muito bem resistir a isso, deixar que eles levassem a minha vida ao invés de sacrificar outra inocente. Mas o egoísmo está presente e prefiro a minha vida salva do que a de outra pessoa desconhecida.

Inesperadamente, uma dor forte ataca o lado esquerdo da minha cabeça, fazendo-me cair para o outro lado. Levo a mão à cabeça e imediatamente toco meu próprio sangue. O vermelho escarlate suja os meus dedos com a tinta que representa uma parte da minha existência. Limpo na roupa e não consigo me levantar, a dor é grande e me deixa imóvel no chão. Procuro a garota com minha visão embaçada, ela está em pé na minha frente, cambaleando e massageando a região do pescoço onde foi atacada, ela tosse e cospe no chão mas permanece firme. Ao seu lado encontro uma pedra do tamanho da minha mão, porém grossa, foi com isso que ela me acertou, presumo.

Tento me levantar a todo custo e não consigo fazer mais do que piorar a dor. A garota me encara, tentando me reconhecer, tentando procurar algo familiar que a lembre de algum conhecido seu, mas ela não consegue porque não me conhece. Nem eu a conheço, não conheço essa cidade nem ninguém por aqui. Vim com um objetivo e preciso cumpri-lo para garantir a minha vida intacta de volta. Agarro-me ao seu pé, assegurando-me de que ela não sairá daqui de jeito nenhum, mas ela chuta meu pulso com força. Minha mão se solta automaticamente de seu tornozelo e ela corre e vai embora ainda olhando para trás. Para mim. Para a minha missão, infelizmente fracassada.

A CAÇA - OS ESCOLHIDOSWhere stories live. Discover now