DEZESSEIS

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       Nem percebo meu corpo se mexendo, e quando me dou conta já estamos correndo em uma velocidade inexplicável. Hiago está logo em minha frente pois ele conhece essa floresta muito mais do que eu. Apenas sigo os seus passos, um tanto quanto nervosa, mas não deixo o nervosismo me atrapalhar, mantenho meus passos firmes e tomo cuidado para não cair. Já estou melhor das dores, para minha surpresa elas passaram rápido. O nosso relógio apita contando cada segundo, ele também nos serve como cronometro; faltam vinte e nove minutos e doze segundos. Onze, dez, nove. Os segundos correm como a chuva escorrendo em uma ladeira e isso nos deixa cada vez mais nervosos. Tento manter a calma. Espero algum sinal do tal drone ou qualquer coisa que nos ajude a encontra-lo. Não faço ideia de onde ele possa estar, a floresta é grande, mas não grande o suficiente para nos perder. Ele tem que estar em algum lugar, algum lugar próximo daqui.

— Isso já aconteceu antes? — Pergunto enquanto corremos.

— Não. É a primeira vez, estou tão surpreso quanto você.

Tento desacelerar meu coração, parar de ofegar e respirar fundo. É difícil, mas tento me segurar de qualquer vestígio de medo ou nervosismo. Afinal, é isso que eles querem, é isso que Dimitri quer. Nosso nervosismo e nossas ações devido ao medo são entretenimento para todos eles, que devem estar nos assistindo de algum lugar e sorrindo com cada gota de suor que cai de nossas testas. Eles não são piedosos, fizeram isso para nos ver sangrar, e vão usar cada brecha que encontrarem para satisfazerem suas vidas miseráveis. Vão sorrir sorrisos maldosos e figurar um bem-estar falso, tudo isso retirado do nosso sangue.

O fato de que esse desafio nunca aconteceu antes me deixa tensa. Assim como meu colega de caça cria as suas teorias, faço o mesmo. Tento pensar em alguma razão para isso nunca ter acontecido na primeira semana e chego em uma conclusão. Eles esperaram todos os participantes estarem dentro da floresta para poderem começar o jogo de verdade. Assim como eu, outros também chegaram depois, creio que foram os cinco primeiros caçadores e os outros cinco primeiros alvos. Em seguida, eu cheguei, fui um dos outros dez que chegaram mais tarde. E eles esperaram que todos estivessem presentes para que pudessem começar a diversão de verdade, é claro que foi o que aconteceu.

Um jogo fica cada vez melhor quando se tem mais jogadores disputando.

De repente, Hiago para a corrida. Consigo perceber que assim como eu ele está nervoso, as veias de seu pescoço estão saltadas e ele começa a olhar para os lados, e depois para o céu.

— Não vai dar certo assim. — Ele diz.

— Como assim?

Ele se aproxima de uma árvore com duas vezes o meu tamanho.

— Anda, coloca a sua mão para eu subir.

Imediatamente sei o que ele quer fazer. Entrelaço os dedos, juntando as duas mãos uma na outra para servir de apoio. Hiago se apoia na árvore e põe o pé direito, com força impulsiono o seu pé para cima. Ele consegue agarrar o galho mais próximo e logo começa a escalar. Assim como eu ele é ágil nessa atividade, em menos de um minuto já está no topo da árvore e a sola dos seus sapatos é a única coisa que consigo ver.

— Encontrou alguma coisa? — Pergunto olhando para cima.

A única coisa que consigo ver são seus braços finos se mexendo, o resto do seu corpo está coberto pelas folhas e galhos. Não deixo de ficar atenta nas coisas ao meu redor, o intuito desse jogo é fazer todos se aproximarem e consequentemente começarem uma luta, então sei que a qualquer momento posso encontrar alguém disposto a lutar comigo, inclusive a minha própria caçadora.

A CAÇA - OS ESCOLHIDOSWhere stories live. Discover now