HIAGO

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       O cronometro finalmente acaba e um silencio toma conta de tudo. Depois que todos foram embora, nós três, Ariel, Tadeu e eu, nos entreolhamos. Com a respiração acelerada e sem dizer nada, apenas encaramos um a outro em silêncio, o único som é o de nossos corações batendo forte em nosso peito. Ainda estou ajoelhado no chão e não consigo me levantar, por mais que tente, minhas pernas não se mexem e percebo que eles também estão na mesma situação. Os dois estão sentados no chão, eles se abraçam tão fortemente que devem sair com o corpo todo dolorido depois deste abraço, mas sei que deve ser tão reconfortante que, mesmo machucado, Tadeu não esboça nenhuma expressão de dor. Eles estão a quase dois metros de distância de mim, tenho que controlar as lágrimas porque eles parecem tão felizes em terem se encontrado novamente que me sinto, de certa forma, realizado. Suor, lágrimas, cansaço e um pequeno sentimento de paz. Parece que acabamos de vencer uma guerra, e até que podemos relatar dessa forma, conseguimos sobreviver à mais um desafio deles, e de novo, por poucos míseros segundos.

Vejo movimentos vindo de onde eles estão e viro a cabeça para prestar atenção, Ariel para com o abraço por um tempo e segura o rosto de Tadeu bem em frente ao seu, fazendo com que ele a encare.

— Me desculpe — Ela diz, em meio ao choro — Eu já perdi as contas de quantas vezes usei a palavra desculpa, mas de verdade, eu sinto tanto, você não merecia passar por isso.

De início, ele não diz nada, mas logo em seguida segura a mão dela e começa a falar.

— Ariel, por favor. Você não tem culpa de nada, você não escolheu estar aqui.

— Mas eu escolhi me rebelar contra eles, e isso aconteceu.

— Shh! — Tadeu leva o dedo indicador à boca da irmã. — Mas você não escolheu ser sequestrada, nunca se culpe por nada do que ele ou qualquer outro fizer com você. Eles são os culpados por isso, Ariel, você é apenas uma vítima disso tudo. E a vítima nunca tem culpa de nada.

— Mas...

— E você sabe, que mesmo você fazendo isso ou não, se eu soubesse onde você estava, eu não teria pensado duas vezes antes de vir correndo para onde quer que você estivesse. Então você só me ajudou, por favor, não se culpe. Eu estou feliz em estar contigo novamente, não importa o que estamos passando.

O silêncio volta a nos rondear mais uma vez, eles se abraçam de novo e tento fingir que não estou aqui, permaneço calado pensando no que acabou de acontecer e em tantas, tantas outras coisas. Poucos segundos se passam e já não estou ouvindo nada do que eles dizem e quase começo a entrar em uma bolha de pensamentos quando ouço Tadeu dizendo meu nome.

— ... sem ele. Só estou aqui com você agora porque Hiago me ajudou, agradeça apenas e exclusivamente a ele. — É o que o garoto diz, e fico um pouco sem graça.

— Ele só está querendo me dar os créditos, mas acredite, eu não fiz nada.

— Eu duvido — Ariel questiona. — Eu conheço você e sei o quanto você é inteligente, Hiago. Tenho certeza que você foi de grande ajuda, assim como tem sido para mim.

Tadeu concorda com a cabeça.

— Eu confesso que fui meio ignorante com ele, eu estava tão preocupado com você que mal conseguia raciocinar. Então ele me fez cair em um bom senso, de que nada daquilo ia adiantar. Fora isso, ele conhecia esse lugar como se tivesse um mapa na palma de sua mão, sabia exatamente para onde fugir, o que nos fez ganhar tempo. E ainda fez um curativo para meu machucado, sério, sem ele eu seria só um garoto perdido tentando te encontrar, e com certeza ia falhar.

A CAÇA - OS ESCOLHIDOSWhere stories live. Discover now