SETE

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     Lentamente, como pétalas desabrochando, meus olhos se abrem. No começo penso que dormi por muito tempo e que tudo não passou de um pesadelo agonizante e demorado. Mas quando acordo, vejo que não estou sonhando, muito menos dormindo, mas o pesadelo ainda existe, ele é real e ainda está presente quando pisco. Porque o pesadelo é a minha triste realidade. Demoro para raciocinar a condição em que me encontro, minha visão ainda está fraca e minha cabeça lateja de dor onde recebi uma pancada. Estou sentada em uma cadeira, mas não por vontade própria, não me lembro de ter sentado aqui. Na verdade, não me lembro de nada a não ser a pancada que levei na cabeça e a frase que Dimitri me disse.

"Nunca aperte o play de um jogo que você não sabe jogar."

Mas que jogo é esse? É o que me pergunto.

Quando minha visão melhora, olho em volta para descobrir onde estou. Nem sei se estou no mesmo prédio, mas acredito que sim, como praticamente tudo aqui é feito de vidro fica fácil de reconhecer. A cadeira a qual estou sentada é de metal, um metal extremamente frio, que chega a me dar arrepios quando entra em contato com minha pele. Tanto meus braços como pernas estão amarrados, nada de cordas, um tipo de pulseira metálica da cadeira me deixa incapaz de me locomover. A sala é escura, há apenas um espelho grande e uma luz azul refletindo atrás de mim, não consigo identificar de onde exatamente vem a luz, e não me interesso em descobrir.

Tento gritar por socorro, grito inúmeras vezes até sentir uma leve dor na garganta e resolvo parar, não quero fazer esforço à toa sabendo que não vou ter resultados. Fui pega contra a minha vontade, estou presa em uma cadeira de metal que gela a minha pele me dando calafrios. Grito pedindo ajuda, ninguém responde. Ouço a minha própria voz ecoando no espaço vazio e me vejo no enorme espelho logo na minha frente. Pálida, descabelada, e o pior de tudo: enganada. Tento me soltar da cadeira com a força que posso. É inútil.
Não posso fazer nada, mas sei que poderia ter feito.

O arrependimento aparece tomando conta de mim. Se eu tivesse escutado meu irmão por um segundo talvez eu não estaria nessa situação. Ele quis me ajudar, talvez, se ele estivesse aqui, juntos pudéssemos evitar que isso acontecesse. Se eu não ignorasse as ligações do meu melhor amigo talvez ele não me deixaria fazer essa loucura que foi ir atrás de respostas sem saber o que perguntar. Talvez se eu tivesse ignorado Dimitri na primeira vez que o vi, eu não estaria assim. Talvez, talvez, talvez.

Arrependida, destruída e desapontada.

Minhas emoções podem estar fervilhando como um vulcão, mas meu estado físico parece estar impecável. Quando volto com a minha consciência depois de ter dormido - ou sido forçada a dormir, - me sinto melhor. Não estou cansada, meu corpo parece ter sido recarregado como uma bateria, parece que injetaram coisas em meu corpo que me deixaram mais forte. Além da sonolência não sinto fome nem sede e me sinto energizada. Mas ainda me encontro trancafiada em uma sala escura

O frio se propaga do aparelho de ar da sala e sua temperatura está tão baixa que chega a congelar meus ossos. Os dentes tremem, batendo um no outro exibindo um som agonizante para os meus ouvidos. Quando sinto que meu coração está prestes a congelar de frio, uma porta se abre em minha frente, liberando uma luz que obriga meus olhos a se fecharem. Dimitri tranca a porta atrás de si e caminha até mim em passos lentos e precisos. Agora com o poder sobre mim em suas mãos ele desfila até o assento o qual estou amarrada. Antes eu não o temia, eu o achava fraco e incapaz de me fazer nenhum mal, como um pequeno esquilo que não precisasse ser temido, eram seus seguranças eram o que me provocavam medo. Mas agora, vendo-o parado diante dos meus olhos, exalando poder, riqueza e depois do que fez comigo, pela primeira vez, tenho medo. Temo o que mais ele é capaz de fazer com uma pobre garota presa, sem poder se defender. Não gosto de me fazer de vítima, mas essas infelizmente são as minhas características no momento.

A CAÇA - OS ESCOLHIDOSOnde histórias criam vida. Descubra agora