Capítulo 80 - Charlotte

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PEGUEM OS LENCINHOS. E ME AMEM INDEPENDENTE DO FINAL!

Boa leitura

E existe algo mais clichê do que a morte?

De acordo com o dicionário, clichê é uma palavra usada para situações frequentes, previsíveis, comuns.

Só há uma certeza em toda a vida: a morte. Ela é o mais clichê dos fatos da vida. Um paradoxo.

Eu queria que fosse um pesadelo. Queria conseguir respirar sem sentir que o ar  está mais me matando do que mantendo viva. Mas não era. Eu sabia que não era.

O clima no hospital estava pesado e por minutos não se ouvia nenhum som, nem mesmo do lado de fora onde estavam amontoados dezenas, talvez centenas, de pessoas.

É como se todo mundo já soubesse que ele partiu.

(...)

"Levanta, Charlie."

"Ruivinha, reage."

"Vai ficar tudo bem, Lottie. Você precisa reagir."

Eram muitas frases. Muita gente falando ao mesmo tempo. Mas era tudo tão distante. Como se estivéssemos separados por um vidro e eu conseguisse ouvir suas vozes bem baixinhas.

Era assim que eu me sentia: distante de tudo e de todos. Como se a melhor e mais vital parte de mim tivesse sido levada. Minha mente estava vazia. E era tudo muito surreal. Eu estava aquém da realidade e pronta pra embarcar em um profundo vazio de alma.

Por um breve momento vejo quando dois médicos saem pelas portas duplas. Suas roupas muito amassadas e manchadas com sangue. O sangue dele.

Os médicos procuram com os olhos por alguém. Os olhares pesados caem sobre mim e, imediatamente, minhas pernas parecem ganhar vida própria ao me guiarem para ouvir a notícia que me mataria pro resto da vida. Ao meu lado já estão todos os amigos que estavam presentes desde o início.

Um dos doutores olha pra mim e diz:

— Sentimos muito, senhorita Pollack. Foi impossível salvá-la.

Aquele zumbido, bem alto, mas bem alto mesmo. Meu coração parecia bater em meu ouvidos. Eu queria perder a consciência naquele momento para não sentir aquela dor que dilacerava meu peito.

— O que houve? - Uma voz pergunta atrás de mim.

— Ela chegou aqui perdendo muito sangue, já não era possível salvá-la. - Ela? Meus sentidos entram em alerta para ouvir com exatidão o que o doutor falava. - Seu desejo foi claro ao nos pedir para salvarmos o senhor Ruggiero. Então conseguimos retirar o estômago a ponto dele voltar a funcionar perfeitamente.

— E-eu não consigo e-entender. - Ouço minha própria voz e ela não se parece em nada comigo.

— Sua prima, Greta Pollack, faleceu na mesa de cirurgia. Sentimos muito.

Nego com a cabeça, incapaz de raciocinar sobre aquela situação. Como assim?

— Ela deixou 2 cartas na recepção. - O médico percebe que eu não estou entendendo nada e tenta esclarecer os fatos. — Em um ato desesperado e impensado, a senhorita Greta se sacrificou para doar o estômago para o senhor Gabe Ruggiero.

— Não, e-ela embarcou em um avião agora há pouco. - Tento colocar alguma lucidez em minha cabeça.

— Querida, Greta não apareceu no aeroporto. - Meu pai toca meu ombro.

— A cirurgia do senhor Ruggiero foi um sucesso e ele está em observação na UTI. Sobre a senhorita Pollack, precisamos que cuide de algumas burocracias para o enterro dela.

— Eu cuido disso. - Meu pai se pronuncia novamente.

— O que isso quer dizer? - Pergunto.

— Como assim? - O médico não entende.

— O Gabe está vivo? É isso? Ele conseguiu se salvar? - Não consigo conter a emoção.

— O senhor Ruggiero está na UTI. A cirurgia foi um sucesso, como eu já expliquei. Só nos resta aguardar, mas garanto que, em algumas horas, ele acordará pra receber visitas. E, em alguns dias, estará bem novamente pra ter alta. Ao que tudo indica, não houveram sequelas.

Alívio.

É tudo o que eu consigo sentir.

Uma onda de alívio passa por mim. Um peso descomunal parece sair de cima do meu corpo. E as lágrimas, enfim, descem livres.

Gabe está vivo.

Por um momento, pensei no sacrifício de Greta e o motivo dele. Talvez eu nunca saiba. Mas a questão é que me senti mal por não ter sentido nada com relação a morte da minha "prima". Acho que o Gabe estar vivo sobrepõe qualquer coisa nesse momento pra mim.

Susan me abraça e vejo o quanto ela, também, está mais calma. Todos estamos à espera do momento em que poderemos falar com o capitão.

Demorou, mas, enfim, os médicos disseram que ele estava acordado. Lágrimas se misturaram a sorrisos e eu queria ser a primeira a entrar naquela sala e abraçá-lo.

Só que eu sabia que esse direito era da mãe dele, então aguardei, impacientemente (confesso!), a hora em que eu poderia vê-lo.

Enquanto "minha hora" não chegava, meu pai chegou e me disse que resolveu tudo. O corpo de Greta será enviado para onde a família paterna dela está. Minha mãe e a Louise já foram avisadas, mas a notícia não fez nem cócegas em seus sentimentos (ou na falta deles.)

Meu pai me entregou dois envelopes. Neles estavam cartas que a Greta deixou para mim e para o Gabe. Minha vontade era ignorar, mas sua atitude foi nobre no fim de tudo e eu gostaria de saber o motivo. Também queria esconder a carta que ela fez para o Gabe, mas seria muito errado e eu não conseguiria viver com isso. Ela já não é mais uma ameaça.

Ninguém é.

E é pensando assim, no quanto caminhamos para estarmos livres e prontos um para o outro, que eu entro na UTI para vê-lo.

Seus olhos encontram os meus e eu não consigo me conter ao me jogar em seus braços.

Até que Gabe me afasta de seu corpo com uma expressão de desentendido no rosto.

— Desculpa, nos conhecemos? - Não! Não! Não!

— Você está brincando comigo né ?!— Tem que ser. Tem que ser.

— Você é aquela nerd do colégio, não é ?! A ruiva que me odiava.

De novo não!

Oi gente,

Alguém aliviado aí?! 😂
Matei alguém do coração ou tá tudo bem? 😂

Primeiro: Gabe VIVOOOOO!

Segundo: Greta morreu pra salvar o Gabe. Como assim?

Terceiro: Gabe desmemoriado? Eu senti um dejavu?! 😂

Espero que gostem do cap. Lembrem da estrelinha. E se preparem porque estamos próximos do nosso fim. Alguém pronto pra isso?!

Amo vocês.
Beijos, S. 💗

Prepara que lá vem clichê! [COMPLETO ATÉ 31/07/23]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora