O Flautista dos Girassóis

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          Ele olhou para o grupo enquanto batia as mãos para limpar a terra em sua bermuda, de uma cor que já deveria ter sido azul, mas que agora parecia quase cinza, além de estar rasgada.

          O velho tinha uma barba comprida que lhe passava do peito, tampando um pouco as palavras "Alter Bridge" que havia em sua camiseta branca com a imagem de um pássaro embaixo. Aquilo não eram palavras da Língua Estelar, que os terráqueos haviam adotado definitivamente desde a Previsão. Era alguma língua antiga.

          E, mesmo assim, nenhuma dessas coisas era tão interessante quanto os olhos do flautista. Não se podiam vê-los, estavam cobertos por um objeto preto que se apoiava em suas orelhas e no nariz. Era impossível saber para onde ele olhava.

          Ele passou a língua pelos lábios, pôs a flauta na boca e começou a tocar enquanto seguia aos pulinhos para perto do grupo. Dessa vez os girassóis não brotaram. O velho seguiu assim, cantando uma melodia divertida até que Eastar não conseguiu se segurar.

          — Será que o senhor poderia parar apenas um segundo?

          O flautista parou no meio de uma nota e levantou a cabeça, olhando para o jovem, ao menos era o que se supunha levando em conta que seus olhos estavam tampados.

          — Meu pequeno Eastar, de quem você puxou esse mal humor? — O velho tinha uma voz limpa, ela parecia encher o lugar de energia assim como sua música.

          O garoto se espantou pelo velho saber seu nome, arregalou os olhos e se virou para o pai. Nesse momento, percebeu que Aros cobria a mão com a boca, segurando o riso, ele devia estar assim há um bom tempo e naquele momento ele não conseguiu mais se segurar. A gargalhada que soltou chegou a assustar os cavalos e ele passou a mão pelos cabelos, tentando se acalmar.

          — O que você está fazendo aqui, cacete? — explodiu, cruzando os braços e sorrindo.

          — Ora essa, Aros, meu querido mestre! Você sabe bem o porquê de eu estar aqui. — Ele parou por um segundo e deu um tapa na testa. — Esqueci desses óculos, não adianta piscar pra você se você não consegue enxergar por trás deles, né? — Abriu um sorriso largo.

          — Óculos? Mestre? Oi? — Eastar virava sua cabeça de um homem para o outro, então, já completamente exasperado, levantou os braços e levantou a voz. — Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?

          — Ô! Ô! Calma, garoto. — O flautista estendeu os braços, balançando-os. — Vou explicar tudo, mas primeiro, porque todos vocês não descem dos cavalos? Vamos para a beira d'água, assim conversaremos melhor enquanto bebemos e comemos um pouco.

          — Bem, nossa bebida acabou há uns dois dias. — Remus disse, do final da fila.

          Olhando para trás, Eastar percebeu que Sean e Drun olhavam impressionados para a figura à frente deles, assim soube que não era algo estranho só para ele e se sentiu um pouco melhor, menos frustrado.

          — Não se preocupem, tenho cerveja. Deixei na água, assim vai estar fresca quando formos beber. Venham, venham!

          — Senhor, você acaba de ganhar um amigo valioso. — Edwin sorriu e esfregou as mãos.

          O velho sorriu, se virou e foi, saltitando e tocando, para perto do rio. Os membros do grupo se entreolharam e com um dar de ombros coletivo o seguiram.

          Desmontaram todos perto de árvores para poderem amarrar os cavalos e deixá-los na sombra. Se reuniram em torno do flautista, que agora se sentava em uma pedra cutucando o nariz, com a flauta de volta à cintura.

A Crônica de EastarWhere stories live. Discover now