Na noite de sábado todos os alunos se amontoavam no Grande Salão aguardando ansiosamente pela seleção que aconteceria no fim do jantar, poucos realmente se preocuparam em comer naquela noite, Hermione e Harry se divertiam com a excitação de todos e mesmo eles se encontraram ansiosos conforme a hora se aproximava. Depois de muito tempo, os pratos voltaram ao estado de limpeza inicial, houve um aumento acentuado no volume dos ruídos no salão, que caiu quase instantaneamente quando Dumbledore se ergueu. A cada lado dele, o Prof. Karkaroff e Madame Maxime pareciam igualmente tensos e ansiosos quanto os demais. Ludo Bagman sorria e piscava para vários alunos. O Sr. Crouch, porém, parecia bastante desinteressado, quase entediado.
- Bom, o Cálice de Fogo está quase pronto para decidir – disse Dumbledore. – Estimo que só precise de mais um minuto. Agora, quando os nomes dos campeões forem chamados, eu pediria que eles viessem até este lado do salão, passassem diante da mesa dos professores e entrassem na câmara ao lado – ele indicou a porta atrás da mesa –, onde receberão as primeiras instruções.
Ele puxou, então, a varinha e fez um gesto amplo, na mesma hora todas às velas, exceto as que estavam dentro das abóboras recortadas, se apagaram, mergulhando o salão na penumbra.
O Cálice de Fogo agora brilhava com mais intensidade do que qualquer outra coisa ali, a brancura azulada das chamas que faiscavam vivamente quase fazia os olhos doerem. Todos observavam à espera... alguns consultavam os relógios a todo momento...
- A qualquer segundo agora. – Sussurrou Lino Jordan, a dois lugares de distância de Harry.
As chamas dentro do Cálice de repente tornaram a se avermelhar, começaram a soltar faíscas e no momento seguinte, uma língua de fogo se ergueu no ar, e expeliu um pedaço de pergaminho chamuscado, e diante disso o salão inteiro prendeu a respiração.
Dumbledore apanhou o pergaminho e segurou-o à distância do braço, de modo a poder lê-lo à luz das chamas, que voltaram a ficar branco-azuladas.
- O campeão de Durmstrang – leu ele em alto e bom som – será Vítor Krum.
- Grande surpresa! – Berrou Ron, ao mesmo tempo que uma tempestade de aplausos e vivas percorreu o salão. Harry viu Vítor Krum se levantar da mesa da Sonserina e se encaminhar com às costas curvadas para Dumbledore, ele virou à direita, passou diante da mesa dos professores e desapareceu pela porta que levava à câmara vizinha.
Os aplausos e comentários morreram. Agora todas as atenções tornaram a se concentrar no Cálice de Fogo, que, segundos depois, tornou a se avermelhar. Um segundo pedaço de pergaminho voou de dentro dele, lançado pelas chamas.
- O campeão de Beauxbatons é Fleur Delacour!
Quando Fleur Delacour também desapareceu na câmara vizinha, todos tornaram a fazer silêncio, mas desta vez foi um silêncio tão pesado de excitação que quase dava para sentir seu gosto. O campeão de Hogwarts é o próximo...
E o Cálice de Fogo ficou mais uma vez vermelho; jorraram faíscas dele; a língua de fogo ergueu-se muito alto no ar e de sua ponta Dumbledore tirou o terceiro pedaço de pergaminho.
- O campeão de Hogwarts – anunciou ele – é Cedric Diggory!
- Não! – Exclamou Ron em voz alta, mas ninguém o ouviu exceto Harry; a zoeira na mesa vizinha era grande demais. Cada um dos alunos da Lufa-Lufa ficou de pé, gritando e sapateando, quando Cedric passou por eles, um enorme sorriso no rosto, e se encaminhou para a câmara atrás da mesa dos professores. Na verdade, os aplausos para Cedric foram tão longos que passou algum tempo até que Dumbledore pudesse se fazer ouvir novamente.
- Excelente! – Exclamou Dumbledore feliz, quando finalmente o tumulto serenou. – Muito bem, agora temos os nossos três campeões. Estou certo de que posso contar com todos, inclusive com os demais alunos de Beauxbatons e Durmstrang, para oferecer aos nossos campeões todo o apoio que puderem. Torcendo pelos seus campeões, vocês contribuirão de maneira muito real...
Mas Dumbledore parou inesperadamente de falar, e tornou-se óbvio para todos o que o distraíra.
O fogo no cálice acabará de se avermelhar outra vez. Expeliu faíscas. Uma longa chama elevou-se subitamente no ar e ergueu mais um pedaço de pergaminho. Com um gesto aparentemente automático, Dumbledore estendeu a mão e apanhou o pergaminho. Ergueu-o e seus olhos se arregalaram para o nome que viu escrito. Houve uma longa pausa, durante a qual o bruxo mirou o pergaminho em suas mãos e todos no salão fixaram o olhar em Dumbledore. Ele pigarreou e leu...
- Harry Potter!
Choque. Era esse o estado de todo o salão e principalmente o estado de Harry. Aquilo não podia estar acontecendo. Hogwarts já tinha um campeão e não era ele. O moreno estava vagamente consciente dos olhos de todos os presentes sobre si.
- Harry? – O rapaz ouviu o sussurro de Hermione ao seu lado e viu sua face angustiada e muito preocupada.
- Não me inscrevi. Eu não coloquei meu nome naquele cálice.
- Harry Potter. – Chamou o diretor novamente – Venha até aqui por favor.
- Vai. – Disse Hermione o empurrando para força-lo a se levantar.
Enquanto caminhava em direção aos professores ele observou claramente os olhos se virando para acompanhá-lo. Por que ele? Por que sempre com ele? Quando alcançou o diretor teve seu pedaço de pergaminho colocado em suas mãos e lhe foi indicado que entrasse na mesma sala onde os outros campeões aguardavam.
O garoto passou pela porta e se viu em um aposento menor, com as paredes cobertas de retratos a óleo de bruxas e bruxos. Um belo fogo rugia na lareira em frente.
Os rostos nos retratos se viraram para olhá-lo quando ele entrou. Surpreendeu uma bruxa encarquilhada passando rapidamente da moldura do próprio retrato para a moldura vizinha, que enquadrava um bruxo de bigodes de morsa.
Vítor Krum, Cedric Diggory e Fleur Delacour estavam reunidos em torno da lareira.
Pareciam estranhamente imponentes, recortados contra as chamas. Krum, curvado e pensativo, apoiava-se no console da lareira, ligeiramente afastado dos outros. Cedric estava parado com as mãos às costas, contemplando o fogo. Fleur Delacour virou a cabeça quando Harry entrou e jogou para trás a cascata de cabelos longos e prateados.
- Que foi? – Perguntou ela. – Querrem que a jante volte ao salon?
Pensava que ele viera trazer um recado. Harry não sabia como explicar o que acabará de acontecer. Ficou ali parado, olhando para os três campeões.
Houve um ruído de passos apressados atrás de Harry, e Ludo Bagman entrou na sala. Segurou o garoto pelo braço e levou-o até os outros.
- Extraordinário! – Murmurou, apertando o braço de Harry. – Absolutamente extraordinário! Senhores... senhora – acrescentou, aproximando-se da lareira e falando aos outros três. – Gostaria de lhes apresentar, por mais incrível que possa parecer, o quarto campeão do Torneio Tribruxo.
- Com certeza houve algum engano Sr. – Disse o moreno puxando seu braço para longe o homem entusiasmado demais – Eu sou novo demais para competir...
- Bom, na verdade a faixa etária foi imposta como uma precaução a mais, não é uma exigência mágica do cálice ou coisa parecida. – Disse Bagman balançando as mãos como se afastasse um mosquito imaginário.
- Que seja, mas eu não me inscrevi, meu nome não pode ter simplesmente saído daquele cálice. – O moreno tentava respirar calmamente e forçar algum sentido naquele homem, aquilo não deveria estar acontecendo, ele não queria nada com aquele torneio.
Dumbledore entrou na sala seguido por Minerva e Snape, embora a tensão pairasse no ar o diretor parecia tão calmo como sempre e Harry sentiu seu sangue ferver nas veias.
- O que está acontecendo Dumbledore?! – Perguntou a Diretora Maxime ao se aproximar dos recém-chegados – O que siguinific todo issu?
O Prof. Dumbledore olhou então para Harry, que o encarou, tentando perceber a expressão nos olhos do diretor.
- Você depositou seu nome no Cálice de Fogo, Harry? – Perguntou Dumbledore calmamente.
- Não. – Respondeu Harry. Estava consciente de que todos o olhavam com atenção. Nas sombras, Snape fez um barulhinho impaciente de descrença.
- Você pediu a um estudante mais velho para depositá-lo no Cálice de Fogo para você? – Tornou o diretor, sem dar atenção a Snape.
- Não. – Disse Harry com veemência.
- Ah, mas é clarro que ele está mantindo. – Exclamou Madame Maxime.
- Ele não poderia ter atravessado a linha etária. – Interpôs a Professora - Tenho certeza de que todos concordamos nisso...
- Dumbly-dorr deve terr se anganado ao traçarr a linha. – Concluiu Madame Maxime, encolhendo os ombros.
- É claro que isto é possível. – Respondeu Dumbledore polidamente.
- Dumbledore, você sabe muito bem que não se enganou! – Exclamou a Professora aborrecida – Francamente, que tolice! Harry não poderia ter cruzado a linha pessoalmente, e como o Prof. Dumbledore, acredito que ele não convenceu um colega mais velho a fazer isso por ele, de certo isto deveria bastar para todos nós!
- Eu não fiz isso, não quero competir no torneio. – Irritou-se Harry por se ver ignorado por todos naquela sala – E ainda que tivesse feito, por que meu nome sairia DEPOIS do de Cedric? Hogwarts já tinha seu campeão.
- O garoto tem um bom ponto. – Admitiu Snape a contragosto – Não havia qualquer razão para o cálice cuspir outro nome.
- Não podemos só ignorar isto?! – Perguntou Harry de forma torturada – Dizer que foi um erro e seguir em frente?
- Sr. Crouch... Sr. Bagman ...– Começou Karkaroff, a voz mais uma vez untuosa – Os senhores são os nossos... hum... juízes objetivos. Certamente os senhores concordarão que isto é extremamente irregular? O garoto diz que sequer quer participar, por Merlin.
- Devemos obedecer ao regulamento e o regulamento diz claramente que as pessoas cujos nomes saírem do Cálice de Fogo devem competir no torneio.
- Bom, Bartô conhece os regulamentos de trás para diante. – Disse Bagman, sorrindo, e se voltou para Karkaroff e Madame Maxime como se o assunto estivesse definitivamente encerrado, Harry olhou para ele furioso, pensando se poderia fazer Gael matá-lo quietamente naquela mesma noite.
- Professora, isso não pode ser sério. – Disse Harry apelando para única pessoa ali que parecia sensata o suficiente para ver a estupidez da situação – Se alguém colocou meu nome no cálice, seja por uma brincadeira de mal gosto ou por qualquer outra razão não é justo que eu participe do torneio, não quero participar e vocês claramente não querem que eu participe.
- Infelizmente não podemos fazer nada a respeito, Harry. – Intrometeu-se Dumbledore, colocando uma mão em seu ombro tentando transmitir conforto, o moreno precisou de todo o seu autocontrole para não afastar aquela mão com um sacudir violento.
- Bom, vamos agilizar isso, então? – Disse Bagman esfregando as mãos e sorrindo para os indivíduos presentes – Temos que dar nossas instruções aos campeões, não é mesmo? Bartô, quer fazer às honras da casa?
O Sr. Crouch pareceu despertar de um profundo devaneio.
- É, instruções. É... a primeira tarefa... A primeira tarefa destina-se a testar o arrojo dos campeões. – Disse ele a Harry, Cedric, Fleur e Krum – Por isso não vamos lhes dizer qual é. A coragem diante do desconhecido é uma qualidade importante em um bruxo... muito importante... Ela terá lugar, em vinte e quatro de novembro, perante os demais estudantes e a banca de juízes. É proibido aos campeões pedirem aos seus professores, ou aceitarem deles, ajuda de qualquer tipo para realizar às tarefas do torneio. Os campeões enfrentarão o primeiro desafio armados apenas de varinhas. Receberão informações sobre a segunda tarefa quando a primeira estiver concluída. Por força da natureza árdua e demorada do torneio, os campeões estão dispensados dos exames do fim do ano letivo.
Um silêncio pesado se seguiu e aos poucos todos se dispersaram.
- Harry, Cedric, sugiro que vocês vão se deitar – disse Dumbledore, sorrindo para os dois. – Tenho certeza de que Grifinória e Lula-Lufa estão aguardando vocês para comemorar e seria uma pena privar seus colegas desta excelente desculpa para fazerem muito barulho e confusão.
Harry olhou para Cedric, que concordou com a cabeça, e juntos saíram da sala. O Salão Principal agora estava deserto; as velas já estavam pequenas, dando aos sorrisos serrilhados das abóboras um ar misterioso e bruxuleante.
- Então... – Disse Cedric com um sorrisinho – Vamos jogar um contra o outro novamente!
- Acho que sim. – Respondeu Harry, na realidade ele não conseguiu pensar no que dizer, só conseguia pensar em como diabos aquilo tinha acontecido.
- Então... me conta... – Disse Cedric, quando chegaram ao saguão de entrada, que estava agora iluminado por archotes, na ausência do Cálice de Fogo – No duro, como foi que você conseguiu inscrever seu nome?
- Não inscrevi. – Disse Harry erguendo os olhos para o colega. – Não pus o meu nome naquela coisa.
- Ah... tá. – Respondeu Cedric e Harry percebeu que o outro não acreditará nele. – Bom... a gente se vê, então!
Quando o mais velho se afastou e Harry se encontrou sozinho no corredor ele se permitiu sentar-se no chão. Encostou a cabeça na pedra fria e se pôs a pensar. Como ele tinha acabado ali, ele tinha certeza de que não pôs o nome no maldito cálice, e também tinha certeza que seja quem for que fez aquilo não fez por uma brincadeira, afinal, havia uma razão para os alunos abaixo de dezessete terem sido proibidos, pessoas já haviam morrido no torneio, por um segundo ele pensou se aquilo não fazia parte de algum plano de Voldemort, mas descartou a ideia rapidamente, ele teria lhe dito algo a respeito, mesmo que ele não tivesse dito nada desde o fim das férias...O moreno se levantou a contragosto, não queria voltar para o Salão comunal, mas sabia que não tinha qualquer escolha, em todas as outras noites ele poderia se esgueirar para a câmara e dormir lá, mas nessa noite dariam pela sua falta, ele podia imaginar os alunos enchendo a sala comunal, esperando por  um relato de primeira mão de como ele conseguiu se inscrever.
- Ninguém vai acreditar que não fui eu.
Com alguma dificuldade Harry conseguiu convencer a Mulher Gorda a deixá-lo entrar, ela parecia ávida por uma nova fofoca, mas o moreno não estava nenhum pouco disposto a fornece-la. O estardalhaço que o recebeu não foi nenhuma surpresa, e ele levou horas antes de ser permitido subir para seu quarto. Ron estava sentado na sua cama esperando por ele e não parecia muito feliz.
- Você não está mesmo achando que eu coloquei meu nome lá, não é?! – Perguntou Harry direto ao ponto.
- Colocou? – Perguntou o ruivo erguendo uma sobrancelha, Harry revirou os olhos.
- Você não acha que se tivesse feito algo estupido assim eu teria contado a você e aos gêmeos como fiz? Eles chegaram ao ponto beber uma poção para envelhecer e por mais engraçado que isso tenha sido eu não deixaria eles terem todo esse trabalho se soubesse uma forma de ajudar.
- Então como aconteceu? – Continuou Ron, ainda não totalmente convencido, mas parecendo muito mais disposto a acreditar.
- Não faço ideia. Mas ainda vou ter que competir. Alguma coisa sobre um contrato mágico ou sei lá... Ninguém se importou com o fato de que eu simplesmente não quero.
- E por que você não iria querer? – Agora o ruivo estava visivelmente surpreso – Mil galeões e eu ouvi os quadros cochichando que você nem vai precisar fazer às provas finais...
- Mas em compensação vou ter que competir com três alunos mais velhos do que eu em provas criadas para tentar me matar, e eu sei que não sou grande coisa, mas realmente não acho que mil galeões paguem pela minha vida.
- Pensando por esse ângulo... – Disse o outro deitando-se na cama e encarando o dossel.
- Onde está Hermione? – Perguntou Harry sentando-se também e começando a se preparar para dormir.
- Correu para a biblioteca assim que saiu do Grande Salão, estava resmungando sobre descobrir como te tirar dessa... – o outro deu de ombros – Ela deve estar enfiada no quarto lendo absolutamente tudo que pode encontrar sobre o Torneio Tribruxo. Acha que vão chamá-lo de Quadribruxo este ano?
O moreno balançou a cabeça ignorando o assunto, pouco depois eles já estavam deitados preparados para dormir, Harry fechou às cortinas e estava a ponto de apagar a luz quando um bilhete caiu sobre seu estomago.

P.
O que diabos você está fazendo?
M.

O moreno suspirou já sem nenhuma energia e pegou o mapa dentro do malão, assim como suspeitava viu o ponto correspondente a Draco Malfoy andando de um lado para o outro em frente à entrada da câmara. Usando a capa de invisibilidade e com todo cuidado do mundo para não esbarrar em todos os Grifinórios que ainda festejavam ele se esgueirou para fora da torre e seguiu em direção ao loiro.

Harry Potter e o Mentor das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora