1 ¶ Festa

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Sabe quando você sente que sua vida da uma arrancada de 360 graus?

Pois é, não posso dizer que já senti isso. O que sempre senti foi vontade de me exilar do mundo. A assustadora necessidade de cair no meio do oceano pacífico, mesmo sem saber nadar, e ficar lá, me deixar levar pela maré, ou apenas afundar. Ir o mais fundo que eu puder. Mas ao contrário disso, estava entrando num lugar que para mim era considerado terreno perigoso. Um terreno proibido.

Nada era fácil quando se tratava de mim; não tive muitos amigos, ou um ciclo social normal, nem mesmo podia afirmar que eu tinha alguém que realmente se importava com minha existência. Mas havia algo que eu tinha que parecia ser parte de mim: Problemas. Muitos problemas. E um deles vivia constantemente ao meu lado. E mesmo que eu desejasse, e tentasse muito - porque tentei, não era páreo para esse problema. Não conseguia enfrenta-lo.

Vencê-lo.

Sofia, a única pessoa na face da terra que insistia em ser minha amiga, caminhava ao meu lado desfilando no seu salto scarpin nude á entrada de um elegante restaurante beira-mar onde comemoravam o aniversário de uma de suas inúmeras amigas.

Eu definitivamente odiava aquelas festas.

E não era por conta das músicas estridentes que atingiam meus tímpanos de maneira eletrizante, ou por conta do cheiro da cerveja quente, ou a fumaça dos cigarros que impregnava nas minhas narinas, ou as pessoas que dançavam, beijavam-se, curtiam a festa como se não houvesse o amanhã. Não, não era nada disso que me fazia odiar festas.

— Isso é um erro. — repeti pela décima vez na noite.

Sofia me lançou um breve olhar mortal. Ela não era a pessoa mais paciente que eu conhecia, mas era a mais compreensiva, e por essa razão não me tratava como todo mundo, embora ignorasse o óbvio. Ela parou no meio do caminho, antes de passarmos pela porta. Sofia era alta, os cabelos longos e loiros, o corpo magro com curvas sinuosas e uma áurea vibrante.

Curvou os lábios num sorriso.

O sorriso que nunca abandonava.

— É nosso último ano, Ame! Vai dar tudo certo! Acredita em mim, não é?

Eu acreditava nela, mas não que aquela noite daria certo.

Ainda relutante, olhei de soslaio para a grande porta de vidro que nos separava do restaurante.

— Sabe que esse não é o meu lugar.

Segurou firmemente minha mão, como se de alguma forma tentasse passar uma confiança capaz de me fazer parar de temer as pessoas. Sem sucesso.

— Talvez sim... Talvez não. Não importa! Tem que parar de ter medo!

Suspirei. Não queria entrar, tinha a impressão de que aquela noite nem havia começado.

— Vamos! Por favor. É só um aniversário.

Esse era o problema... O maldito problema. Será que Sofia não enxergava o quão desanimada eu estava? Será que ela não via o medo refletido nos meus olhos?

Às vezes não compreendia como alguém tão esperta e inteligente, não enxergava um palmo através dos olhos. Ela não queria ver, e esse era nosso impasse. O impasse que não nos permitia ter uma amizade sincera.

— Tudo bem. — cedi, derrotada.

Me abraçou rapidamente.

Tornei a segui-la, sentindo as batidas do meu coração cada vez mais aceleradas, meus punhos cerrados suavam enquanto tentava cravar as unhas na pele na tentativa de aliviar a ansiedade. Sim, isso pode parecer cruel, mas era algo que eu fazia para controlar o nervosismo que se ponderava de mim boa parte dos meus dias.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora