Ela era parte da Tropa Sul, não uma guerreira como seu companheiro, que adorava se manter vestido em cota de malha de poeira estelar. Era uma estudiosa, havia observado a Terra por eras e foi por isso que entendia a situação em que se encontrava.

          Ele, como comandante da Tropa Central da Legião Térrea, era alto e muito forte, seus cabelos negros iam até os ombros, e os olhos amarelos brilhavam, tinha uma barba grossa e que lhe cobria o rosto, escondendo o pescoço.

          Ela tinha cabelos castanhos volumosos e ondulados, tinha olhos azuis. Ao contrário do homem que amava, ela era pequena e magra... ou deveria ser, naquele momento, estava incrivelmente inchada, e uma luz azul emanava de todo o seu corpo.

          Eram o contrário um do outro, mas se amavam como nunca havia acontecido com outros estelares, e isso era um dos motivos daquele milagre estar acontecendo, os dois tinham essa certeza.

          — Só mais um pouco de energia! Issoooo!! Você vai conseguir! — O comandante estava eufórico, sorria enquanto sua mulher apertava sua mão.

          Uma mão agarrou a cota de malha do comandante, e ele se viu cara a cara com a mulher, que tinha uma expressão furiosa

          — Se você... huff huff... continuar me enchendo... huuufff... Eu vou esmagar aquilo... aaaahh... que você usou para pôr esse fedelho em mim, Aros! — Ela gritou furiosa para ele. — Então, quieto! AAAAAAAAAHHHH.

          — Sim, senhora. — Ele disse, levando a mão à testa no ato de prestar continência. — Oh! Por Ulmo! Lá vem ele, querida, está brilhando!

          A luz da estelar começou a se concentrar em um ponto à frente dela. Ela começou a desinchar, voltando ao corpo magro e pequeno que tinha antes, enquanto a energia saía, indo para o ponto a sua frente.

          O pequeno pontinho começou a mudar de forma. Aros se aproximou, fascinado, pequenas pernas e braços surgiram, uma cabeça com ralos cabelos pretos apareceu, e de repente o espaço se encheu com o som do choro. O pai pulou para trás com o susto e riu, aninhou aquela pequena estrela em seus braços para olhá-lo atentamente.

          — Querida, é um garo...

          Diante da pausa inesperada, a nova mãe levantou o rosto preocupada e olhou para o estelar que estava de costas para ela.

          — O que foi, Aros?

          — É que... é um garoto de olhos azuis.

          Luriel arregalou os olhos por um momento, mas se lembrou da mania idiota daquele soldado bruto de fazer piadas fora de hora.

          — Aros, não é hora para brincar, me dê meu filho, vamos. — Ela estendeu os braços e ele se virou para levá-lo para sua mulher. — Todos sabem que estelares machos têm olhos amarelos e que só as fêmeas têm os olhos az...

          Ela parou de falar olhando para o pequeno bebê que a encarava alegremente, não só os olhos da criança eram azuis, como lembravam os dela, o formato, a nuance de azul para prata era como os olhos dela, mas numa escala menor. Não tinha nada do amarelo forte com bordas vermelhas de Aros.

          A estelar sentiu um aperto junto ao peito, seus olhos estavam quentes pelas lágrimas que queriam escorrer por eles. Sempre imaginou que o que sentia por Aros era amor, e não é que não fosse isso, mas o que sentia por aquele bebê... aquilo era completamente diferente. Era um amor de uma pureza tão grande que doía o coração.

          — Eu te disse. Humf... — Ele falou emburrado, sem reparar o estado de apreciação da mulher.

          — Ele herdou meus olhos. — Ela olhava fascinada para o bebê e falou baixo como se falasse com ela mesma.

A Crônica de EastarWhere stories live. Discover now