Cap.151: Você vai ser pai.

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Quase saltei de susto. Virei rapidamente e lá estava ela, parada próxima à porta, pálida, magra, mais magra do que me lembrava. Seus olhos grandes e expressivos me observavam sérios sob os cílios escuros. Apertei os olhos com força.

É uma ilusão. Só pode ser uma ilusão. Se continuar com os olhos fechados, talvez tudo volte ao normal. - pensei alarmado.

- Bem, sei que apareci de surpresa. Se não quiser falar comigo hoje, podemos marcar outro dia. - a ilusão disse de forma muito real.

- Não! - gritei abrindo os olhos e entendendo que, por ter agido tolamente, havia sido mal interpretado. - Quero conversar com você, agora!

No segundo seguinte andei até ela tão rápido quanto consegui. Parei ansioso à sua frente e disse a primeira coisa que me veio em mente.

- É você! - exclamei, mal conseguindo respirar. - Senti tanto a sua falta!

Eu olhava para ela, como um cego que passa a enxergar e vê a luz pela primeira vez. Não conseguia parar de fitá-la. Estava me banqueteando com sua figura. Agora mais de perto, podia ver melhor seus cabelos que saiam da touca grossa de lã branca. Ela usava um cachecol vermelho, e fiquei com ciúme do cachecol. Daria tudo para trocar de lugar com aquela peça de vestuário e envolver suavemente a sua pele. Vestia também um grosso agasalho branco, calças jeans, botas e luvas. Roupas bem comuns de inverno, mas pra mim, estava tão radiosa que era como estivesse usando veludo, brocados, joias e uma coroa. Confesso: não importava o que estivesse usando, ela sempre seria a rainha do meu coração.

- Você está muito ocupado? - perguntou me olhando insegura.

- Pra você, nunca! - respondi afobado.

Minha nossa! Depois de todo esse tempo, finalmente aconteceu: Dulce estava ali, de verdade, tinha cumprido sua promessa, estava ali, parada bem à minha frente, a poucos passos de mim. Tudo o que mais queria era abraçá-la, apertá-la de encontro ao meu peito, cheirar seus cabelos e dizer o quanto a amava e que nunca mais a deixaria sair de perto de mim. Por um momento me senti fortemente tentado a cometer essa loucura. Cheguei a dar um passo à frente, mas algo em seus olhos me fez desistir. Seu olhar estava diferente. Algo neles me fez lembrar o olhar que tem um animal abandonado pelo dono, aquele olhar que carrega tristeza, mágoa, desconfiança e carência. Era um olhar que dizia: "Fique onde está, se sabe o que é bom pra você!".

Percebi que segurava nervosa a alça da bolsa pendurada no ombro, enquanto a outra mão segurava uma pasta preta, fina e retangular. Ela continuava me olhando, sem nada dizer. Fiquei aguardando, estranhando seu silêncio. Sem mais me conter, comecei a falar.

- Dulce, por favor, me perdoe, sei que não mereço, mas mesmo assim, imploro que me escute e...

- Eu estou grávida! - declarou subitamente.

Olhei pra ela, achando que tinha alguma coisa errada com meus ouvidos. Com certeza havia entendido mal.

- Não entendi o que você disse. - falei colocando minhas mãos na cintura.

- Eu estou grávida! Ensaiei mil maneiras de te contar, tinha até preparado um bom discurso, mas tudo o que consigo dizer é isso.

Eu olhava para ela com os olhos arregalados e voltei a achar que poderia estar dormindo, sonhando toda essa cena. Sonhava que a Dulce tinha chegado, que falava comigo e que tinha acabado de confessar que estava esperando um filho meu. De repente, respirar se tornou muito difícil e comecei a sentir as pernas bambas; abria e fechava a boca tentando dizer alguma coisa, mas nada saía.

Assisti imóvel ela abrir a pasta que trazia, retirando uma série de papéis. As folhas tremulavam como nervosismo de suas mãos.

- O que é isso? - perguntei quase sem voz.

- São os resultados dos exames. Gostaria que você olhasse, para que não restasse nenhuma dúvida sobre a minha palavra. - explicou nervosa.

Automaticamente peguei os documentos e tudo o que conseguia enxergar era a palavra "POSITIVO" em letras vermelhas.

- Você está esperando um... um... bebê? - perguntei sentindo a cabeça rodar.

- Sim. Estou com seis semanas de gestação. Você pode ver no resultado da ultrassonografia.

- Não preciso ler, acredito em você. - falei voltando a fitar seus olhos. Olhamo-nos por um momento, ambos tensos pela seriedade daquela revelação.

- Eu vou ter um bebê, Chris. - confirmou falando devagar e seriamente, como se adivinhasse que eu ainda não tinha conseguido assimilar o que tinha dito. - Eu vou ter um filho, você vai ser pai.

Foi aí que algo muito estranho e curioso aconteceu, senti minha mente se desligar, como se tivesse entrado em curto circuito. Há semanas vinha suportando tensão, ansiedade e sofrimento.

Aquela informação parecia demais para que o meu cérebro assimilasse. Meus olhos se fecharam, as folhas de papel voaram de minhas mãos e senti os joelhos dobrarem sob o peso de meu corpo. Apaguei.

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora