Cap.26: Lembra?

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Pouco depois atravessávamos o grande portão de entrada do cemitério.

- Não é um bom dia para vir aqui. - murmurei, sentindo um calafrio correr pela espinha.

E eu sabia que essa reação não era culpa apenas da baixa temperatura.

- Acho que nenhum dia é. - ele comentou baixinho, enquanto andava ao meu lado.

Andávamos devagar, enquanto lembranças tristes invadiam a minha mente. Olhei os galhos ressequidos das árvores e o céu cinzento. Da última vez que tinha estado ali, as folhas das árvores resplandeciam verdes e um incomum céu azul brilhava acima de mim.

Pareceria um maravilhoso dia de primavera, não fosse o dia do enterro dos meus pais verdadeiros. À época, não compreendia como o sol podia continuar brilhando, quando minha alma estava envolvida em sombras.

O vento continuava a soprar fazendo balançar meu cabelo. Passamos por diversos túmulos. Parte da grama ainda estava verde, mas já se percebia tons amarelados ou marrons.

Vi alguns mausoléus antigos e suntuosos, provavelmente, de pessoas de prestígio. Passamos direto por eles. Chris ia um pouco à frente me guiando. Seja lá o que ele queria me mostrar, estava em outra parte.

Fui ficando desconfiada sobre nosso destino, quando atravessamos um jardim que, apesar de não estar mais florido, continuava belo. Dirigíamo-nos a uma parte com túmulos menos antigos.

As lápides mostravam datas do século XX. Meu coração começou a bater mais rápido, à medida que minhas suspeitas aumentavam. Ele não poderia ter planejado isso, vir até aqui, nesse lugar. Ele não poderia saber quem repousava aqui.

Então, como explicar o trajeto que tomávamos e o local que me fez parar? À nossa frente estavam duas lápides simples, com a mesma data de falecimento. Li os nomes que conhecia muito bem e que seriam sempre parte de mim.

Em memória do amoroso marido e pai Fernando Saviñon. Em memória da amorosa esposa e mãe Blanca Saviñon. Desviei o olhar das lápides e olhei pra Christopher, que me fitava cheio de expectativa.

- Como... - questionei nervosa e fazendo uma pausa, tentando entender o que acontecia. - Como soube que eles estavam aqui?

Ele fechou os olhos, minha pergunta parecia lhe ferir profundamente, ainda que essa não tivesse sido minha intenção.

- Desculpe, só quero entender o que você pretendia me trazendo aqui.

- Tudo bem. - concordou ainda de olhos fechados. - Você não lembra, não é?

- Dos meus pais? Claro que lembro! - respondi.

- Não. Refiro-me ao dia em que te trouxe aqui. Lembra?

Concentrei-me tentando buscar algum fiapo de memória que me mostrasse o que tinha acontecido. Mordi os lábios, nervosa. Olhei pra Chris, que me fitava ansioso. Por fim, balancei a cabeça negativamente e ele soltou um suspiro frustrado.

- Desculpe. - murmurei.

- Tudo bem. Você não tem culpa. - disse conformado.

- Conte-me, então, o que aconteceu. Quero saber.

Ele me olhou sério e começou a falar com expressão concentrada.

- Tinha esperança que esse lugar despertasse alguma lembrança em você. - imediatamente me senti culpada, e devo ter deixado transparecer essa emoção, pois ele ergueu a mão num gesto apaziguador - Não se martirize, está tudo bem.

- Não, não está. - repliquei angustiada - Posso ver dor em seus olhos. Perceber sua decepção. Não tente me poupar, seja honesto comigo.

- Estou sendo sincero, Dulce. Tudo bem. Confesso que estou um pouco decepcionado, e mentiria se não confirmasse que esperava outra reação sua, mas eu sabia que a situação poderia continuar a mesma.

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora