Cap. 23: Desejo do coração

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Lembro-me que, antes do acidente, amava os dias de sábado. Na sexta-feira, já começava a me sentir mais feliz, vibrando pela expectativa do dia seguinte, quando podia relaxar e curtir meus passatempos favoritos: ler, ouvir música, ver um bom programa de TV ou pegar um cineminha com a Anahí.

Agora, os sábados me deixavam tensa, pra não dizer apavorada. Nunca o fato de ter tempo livre tinha me deixado nesse estado constante de alerta. Também, antes eu não tinha um ex-irmão-atual-marido de quem tinha que fugir.

Eu sabia que estava sendo injusta, terrivelmente injusta com Christopher. Mas não conseguia evitar, minha reação era mais forte do que qualquer razão e bom senso. Eu ficava tão nervosa em sua presença, na dúvida sobre como me comportar, o que dizer, como agir.

O pior de tudo, talvez, fosse o fato de me esforçar para esconder dele e, principalmente de mim mesma, o quanto eu o achava bonito, o quanto ele me atraía. Bastava ele sorrir pra sentir que poderia ceder a essa forte e crescente atração.

Maldição! Por que ele tinha que ser tão legal? Tão magnificamente cavalheiro? Quando olhava pra ele, era fácil imaginá-lo vestido como um nobre, o personagem principal de uma novela romântica de época, um príncipe. Meu príncipe!

- Esquece o Christopher! Esquece! - falava para mim mesma.

O mais irônico, para não dizer mais triste, é que eu o havia esquecido de fato. De alguma forma, meu cérebro havia apagado o Chris completamente da minha memória. Minha mente estava repleta de lacunas quanto à boa parte da minha infância e da minha vida até ali.

Podia lembrar com perfeição como foi minha primeira apresentação de balé, de ver meus pais e irmãs na plateia torcendo por mim. Mas, inexplicavelmente, Christopher nunca estava entre eles.

E quando me esforçava para recordar algum acontecimento no qual a presença dele fosse indispensável, a imagem me vinha à mente fracionada, como se minha vida fosse um filme e alguém tivesse feito uma edição de imagens removendo a presença dele.

Com relação ao nosso casamento, o vazio era total. Um gigantesco nada, uma tela em branco. Minhas lembranças eram um quebra-cabeça incompleto, eu não sabia onde estavam as peças que faltavam e se um dia conseguiria recuperá-las.

Ventos furiosos haviam entrado pela janela imaginária do meu passado, espalhando as páginas da minha vida e levando-as para o desconhecido. Durante a semana, procurava me manter tão ocupada quanto possível: escola, ensaios, sessões de estudo com Anahí, longas visitas à biblioteca.

Nos finais de semana me via restrita a poucas opções, as desculpas para as minhas ausências se reduziam. E era inevitável estar com ele. Eu tinha prometido não afastá-lo e me via prisioneira por conta dessa promessa.

Cada vez que sentia seu olhar sobre mim, onde ficava tão visível sua carência, frustração e ansiedade, sentia-me em dívida. O sentimento de culpa me assaltava, toda vez que aqueles olhos castanhos encontravam os meus.

Seu carinho constante era mel e fel: em sua doçura, me sentia aquecida; em seu amargor, me via gelada. Por quanto tempo mais poderia viver nessa ambivalência de emoções, equilibrando-me numa corda bamba? Até quando teria forças pra me manter erguida sobre esse fio? Será que seria o cansaço que me faria cair?

Ou seria, por fim, a mente racional rendida ao desejo do coração que me faria tomar a decisão de saltar diante do desconhecido, onde sonho e realidade se encontrariam? Eu não sabia a resposta!

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora