Capítulo 23

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Muita coisa mudou na vida de Anahí desde o dia em que ela saiu de Nova York para cursar faculdade no Reino Unido, há dez anos. A começar pelo seu visual, que agora nem de longe lembra a menina que um dia estudou no St. Joseph. Agora sempre muito bem arrumada em suas roupas de grife, o corpo ganhou as curvas da pós-adolescência, que sempre chama muito atenção por onde passa. Os cabelos agora são longos e de um chocolate brilhoso, onde nas pontas se formam cachos perfeitos encostando até o meio de sua coluna. Os olhos azuis, agora não têm mais a companhia de seu óculos de grau. Após algumas cirurgias na vista, ela se dava bem com as lentes de contato incolor. A elegância foi ganhada com o tempo, assim como sua nova personalidade.

Anahí não é mais nem de longe a garota doce, frágil e meiga que fora um dia. Agora ela era forte, séria, dura e com o coração congelado por um inverno turbulento de anos atrás.

Há cinco anos, quando ela acabou a faculdade de administração em Cambridge, Anahí voltou a Manhattan para assumir o cargo de CEO na empresa que o pai havia lhe deixado, que desde então cresceu insadecidamente, se tornando hoje uma das empresárias mais bem sucedida de todo o país.

Anahí: Bom dia. –desejou saindo do elevador no andar da sua sala, que era a única dele-

Emma, sua secretária, se levantou rapidamente para cumprimenta-la. Apesar de estar com ela desde quando Anahí assumiu seu cargo, há cinco anos, até hoje a voz rouca e o olhar duro de sua chefa fazem Emma tremer dos pés até os últimos fios de cabelo.

Emma: Bom dia, Sra. Portilla. –respondeu em pé atrás de sua mesa-

Anahí passou direto para dentro de sua sala. O lugar era imenso e espaçoso. Havia uma parede totalmente de vidro atrás de sua mesa, dando-lhe a vista de quase toda Manhattan. O chão era branco e espelhado, tudo parecia muito limpo e arrumado, sua mesa de vidro era grande e organizada, com uma tela enorme de computador, e alguns papéis empilhados.

Anahí mal havia se sentado, quando seu celular começou a soar impaciente em cima de sua mesa. Olhando a tela, ela apenas revirou os olhos.

Anahí: Não são nem oito horas da manhã e essa é a quarta chamada sua no meu celular. –atendeu- O que você deseja, Dulce Maria?
Dulce: Bom dia para você também, amiga. –respondeu- É a quarta chamada porque você não me atendeu na primeira.
Anahí: Eu estava no banho... –suspirou- Me diga, o que devo a honra de sua tão insistente ligação?
Dulce: Você não vai acreditar! –falou empolgada- Maite está voltando do Oriente Médio, acabaram suas gravações por lá e ela nos chamou para passar uns dias com ela em Los Angeles. E então? Posso agendar as passagens?
Anahí: Seria maravilhoso... –começou- Mas nem pensar! Eu não tenho tempo para férias. Isso é completamente inegociável.
Dulce: Anahí, você não tira férias há mais de dez anos. –insistiu-
Anahí: Sinto muito. Diga a Maite que depois eu ligo para ela.
Dulce: Anahí...
Anahí: Aguardo você na reunião de mais tarde...
Dulce: Você não vai deslig...

E ela desligou. Anahí sorriu imaginando o tanto de palavras baixas que Dulce devia estar falando naquele momento. Com um suspiro, ela deixou o celular sobre a mesa outra vez, se concentrando na tela do computador. Ela precisava trabalhar.

Mas não demorou muito para a imagem real de Dulce se concretizar entrando em sua sala.

Anahí: Minha resposta ainda é não. –falou sem desviar os olhos da tela do computador-

Dulce: Eu sei. –suspirou- Olha só o que encontrei hoje na minha porta. –falou, jogando uma revista sobre a mesa dela-

Anahí desviou o olhar para a revista e na capa havia a seguinte manchete: "Anahí Portilla, a empresária mais bem sucedida de Nova York está mais uma vez concorrendo ao prêmio Jovem Empresário do Ano, do New York Times" Era apenas uma chamada, com o logotipo do prêmio e do New York Times, não havia foto dela, assim como em tudo que saía sobre ela, apenas chamadas, nunca fotos.

Anahí: Eu recebi um e-mail hoje do NYT me comunicando. –respondeu, voltando ao computador-

Dulce: E você não está feliz com isso? –perguntou surpresa- Anahí, já são três anos consecutivos, e você sempre ganha. Me diga que esse ano você irá na cerimônia receber?

Anahí: Eu ainda pretendo me manter uma pessoa anônima. –respondeu, e Dulce revirou os olhos- Sem paparazzi atrás de mim em cada passo que eu der.

Dulce: Eu desisto. –falou, sentando-se na cadeira a sua frente- Vamos almoçar? Ou você também não almoça?

Anahí: Deus, você está parecendo o Theo, falando desse jeito. –bufou-

Dulce: Falando nele, quando ele volta?

Anahí: Amanhã. –falou, pegando a bolsa e se levantando-

Dulce: Oh, tem alguém que vai tirar o atraso com o namorado, amanhã. –provocou, levantando-se também-

Anahí: Cale a boca e vamos logo, Dulce Maria. –respondeu tentando não rir da cara que ela fazia- Ainda temos nove japoneses para enfrentar a tarde. Você como minha advogada tem que se manter séria.

Dulce: Eu sou uma ótima profissional, Sra. Portilla.

Dito isso, Dulce saiu apressada atrás de Anahí que já ia em direção ao elevador, apenas acenando para Emma.

Dulce era impossível quando queria. Anahí teve que ir até o subsolo ouvindo as piadinhas sem graça que Dulce fazia em relação à volta de Theo, seu namorado que estava em uma viagem a trabalho. Enquanto Dulce falava sem parar, ela pensava mentalmente se podia demiti-la para que ela calasse a boca de uma vez por todas. Obviamente não poderia, e ela pensou divertida. Dulce se tornara uma das melhores advogadas de Nova York, além de ser sua melhor amiga desde sempre, junto com Maite, que ainda morava em Los Angeles, onde tinha decolado com sua carreira de atriz.

No almoço, nada aconteceu fora do comum. Elas almoçavam num restaurante fino de sempre, Dulce tagarelava sem parar e Anahí ficava calada a ouvindo, concentrada no seu prato e no celular ao seu lado. Nada anormal.

Dulce: Anahí, pense só naquelas praias incríveis de Los Angeles... –sim, ela ainda tentava convence-la da tal viagem- Maite nos levando às melhores festas, com atores hollywoodianos por todos os cantos... Isso não acende algo em você?

Anahí: Não. –respondeu com um sorriso de canto e Dulce definitivamente, desistiu- 

365 Dias de InvernoWhere stories live. Discover now