Capítulo 91

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Foi como uma garoa, uma chuva fina que estava prestes a cessar, voltar a ser tempestade. Com raios, trovões, ventos, e muita, muita água.

Anahí sentiu o sangue gelar em suas veias. Ela encostou sua cabeça no encosto do banco do carro, querendo apagar tudo de sua memória, querendo esquecer tudo o que viveu, aquele dia, aquele momento... E então, ela rezou para que o carro chegasse logo em seu apartamento, querendo sobrevoar todo aquele maldito engarrafamento.

Minutos depois, quando ela chegou em casa, sentia-se acabada. Era como se tivesse passado o dia inteiro carregando centenas de cargas nas costas. O peito ofegava sem ela permitir, ela sentia-se inquieta, triste, como se fosse explodir a qualquer momento.

Louisa: Mamãe! –falou correndo até ela, abraçando suas pernas-

Anahí: Oi meu amor. –falou se abaixando, e a abraçando também- Tudo bem? –disse com a voz embargada, soltando o abraço apertado e encarando a menina-

Louisa: Uhum. –assentiu com a cabeça- Estava ensinando Mary a falar. –contou orgulhosa e Anahí sorriu- Dinho saiu. –disse triste. Ela bem que tentara, mas não conseguia deixar de chamar Alfonso de "Dinho"-

Anahí: Hum, eu sei. –disse num suspiro, e então ela ouviu o elevador chegar e o corpo voltou com todas as sensações ruins de antes, que Louisa havia amenizado- Ele está chegando, e eu preciso conversar com ele. Você cuida da Mary para mim um instante junto com a babá? –ofereceu controlando o tremor das mãos e a menina confirmou com a cabeça animada- Obrigada princesa. –disse a abraçando de volta- Eu amo você.

Dito isto, Louisa saiu correndo para o quarto de Mariah, enquanto Anahí andava de um lado para outro na sala, ouvindo a porta ser aberta.

O que os separavam eram apenas alguns passos. Ela estava de costas para ele mas podia ouvir a presença dele cada vez mais próxima.

Alfonso: Ei, você chegou. –falou animado indo até ela, que permaneceu de costas, e beijou seu rosto-

Ela tentou se esquivar dele, mas não conseguiu. O toque dele fez uma lágrima descer de seu rosto, que ela rapidamente limpou. Ele não notou.

Anahí: Eu vi, Alfonso. –cuspiu, ainda de costas para ele. A voz mais limpa possível, tentando se manter forte. Deus, aonde fora que ela havia deixado se perder a pessoa fria que havia construído por anos?-

Alfonso: Viu o que? –perguntou confuso-

Ela então se virou de frente para ele, vendo o rosto dele ainda confuso. Alfonso percebeu que havia algo errado assim que encarou os olhos dela, vermelhos e marejados.

Anahí: Você com Angelina. –respondeu encarando-o- Eu vi vocês juntos. –continuou- Qual é o seu problema comigo? Você quer acabar de uma vez comigo? Quer me ver destruída por você outra vez, como fez há dez anos? –ela questionou, sem conseguir conter as lágrimas que começaram a escorrer por seu rosto-

Alfonso: Não! Meu Deus, não! –falou apressado- Eu a encontrei por acaso, eu sai para comprar algumas coisas e resolvi entrar na confeitaria para comprar torta para Louisa e para você... –ele pausou, respirando fundo- E ela me viu lá, e nós sentamos para conversar. Apenas isso, eu juro que nunca mais tinha a visto desde um ano após o fim do colégio. Ela nem mora mais em Nova York, Anahí... –ele deu um passo a frente, tentando aproximar-se dela, mas ela recuou, afastando-se ainda mais-

Ele passou as mãos nos cabelos, desesperado. Anahí agora estava quieta, a alguns passos dele, enquanto ele andava pela sala, inquieto.

Alfonso: Anahí, pelo amor de Deus... Não é o que você está pensando. –deixou sair de sua boca, suplicando-

Anahí: Você me acha muito idiota, não é mesmo? –respondeu. Os olhos dela estavam tão duros como ele já não vira há muito tempo-

Alfonso: Você acha mesmo que eu ia trair você outra vez? Ainda mais com Angelina? –disse com uma careta de tão indignado que estava com aquilo- Que eu trocaria o que nós temos por causa dela? Depois de tanto que eu lutei para isso?

Anahí: Ora Alfonso, não se faça de bom moço. –rebateu- Você já fez isso uma vez, é capaz de fazer de novo.

Alfonso: MAS EU NÃO FIZ. –gritou se exaltando, mas logo respirou fundo, controlando-se- Eu estou cansado de ser acusado, estou cansado de tentar provar que eu mudei, estou cansado de tentar fazer você acreditar em mim, de fazer você confiar em mim... –disse agora com a voz baixa- Estou cansado de pagar por algo que eu fiz dez anos atrás. –ele respirou fundo novamente, buscando forças para se manter calmo- Eu amo você, como eu nunca pensei que amaria alguém. E eu não trai você. Nem com Angelina, nem com qualquer outra. 

Eles ainda se encaravam, um de frente para o outro no meio da sala. O silêncio se apossou do ambiente por alguns segundos, até a voz de Anahí voltar a soar.

~dêem play no video acima~

Anahí: Eu não posso mais acreditar em você. –disse baixo, a voz embargada, sentindo o rosto inundar-

Você está me dando um milhão de razões para te deixar... 

Alfonso mal podia acreditar que depois de ter insistentemente e fielmente nadado tanto, morreria tão próximo a praia.

[...] Você está me dando um milhão de razões para desistir do show... 

Ele queria lutar, continuar lutando, mas não tinha mais forças para isso. Ele queria insistir, ele a amava, afinal, mas não adiantaria dar murros em ponta de faca. Estava acabado, e isso lhe doía mais do que ele podia suportar.

Alfonso: Tudo bem. –disse após um suspiro- Então eu acho que não dá mais para continuarmos morando juntos. –decidiu. Seria doloroso viver longe de Mariah, mas seria o certo a se fazer- Você pode ficar com Louisa só até eu voltar de viagem? Assim que eu chegar a Nova York vou atrás de um apartamento.

[...] Eu tenho cem milhões de razões para ir embora... Mas amor, eu só preciso de uma boa razão para fica. 

Anahí: Alfonso, você não precisa levar Louisa. –falou meio desesperada-

Alfonso: Mas eu prefiro assim. –respondeu triste- Depois nós vemos como podemos fazer para que eu veja Mariah. Eu não vou abrir mão da minha filha. –completou, os olhos marejados, sem conseguir encarar os dela-

Após isso ele saiu, sumindo pelo corredor. Anahí continuou na sala, paralisada no mesmo lugar, com os olhos inchados de chorar, o peito ofegava com um choro mais forte que estava vindo, e o coração destroçado, mais uma vez.

Ela olhou as sacolas que ele havia deixado cair no chão, quando se exaltou, e em uma delas estavam as tortas embaladas ainda perfeitamente, e a outra, que com a queda se abriu, deixando cair o que havia dentro. E dentro estava uma pequena caixinha de veludo azul escuro, que ela recusou-se a abrir. 

365 Dias de InvernoWhere stories live. Discover now