Capítulo 3

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Dois anos atrás.

Dulce: Não Anahí, não acredito nisso! –gritou se sentando ao lado dela no banco do jardim do colégio- Você está de novo babando pelo babaca do Alfonso?

Anahí: Dulce! –a repreendeu- Fale baixo, pelo amor de Deus. –pediu num sussurro-

Dulce: Falar baixo por quê? –falou revirando os olhos- Ninguém nem nos vê mesmo. Parece que somos invisíveis. –suspirou e Anahí a imitou dando uma ultima olhada para Alfonso, que a alguns metros de distancia conversava animado com uns amigos-

E era sempre assim. De longe. Era sempre de longe que ela o via e o admirava em sua máxima beleza. O cabelo preto sempre tão bem penteado pareciam fazer parte do uniforme do colégio que caía tão bem em seu porte físico, que apesar de não ser tão musculoso, era perfeito para ela. O nariz e os lábios pareciam combinar muito bem um com o outro. E tinham também os olhos, Deus, os olhos... Eram tão incrivelmente hipnotizantes! Era uma mistura de mel com verde que ela poderia passar horas os admirando sem problema algum.

Mas diante de tanta beleza, lá estava ela. Não era de se admirar, que um garoto com Alfonso Herrera, que podia ter e tinha as meninas mais bonitas e populares do colégio, olhasse para ela. Uma garota tão sem graça como ela jamais chamaria a atenção dos lindos olhos de Alfonso. Seus cabelos castanhos sempre presos em um rabo-de-cavalo e a franja caindo quase em cima de seus óculos enorme. Os lábios eram simples, assim como todo o resto junto ao uniforme sempre bem passado do St. Joseph.

Dulce: Vamos Any, o sinal está tocando. –falou se levantando- Alfonso além de te deixar hipnotizada, deixa surda também?

Ela suspirou e se levantou, acompanhando a amiga. Aquela era Dulce Maria, sua amiga desde o jardim de infância. As duas sempre andavam juntas, sejam para estudar ou para falar mal das garotas com os cílios cheios de rímel que desfilavam pelos corredores do St. Joseph. 

Dulce era sempre a melhor companhia para lhe fazer rir. 

Era começo de ano, especificamente, o tão terrível primeiro dia de aula. Todos se organizavam no salão principal esperando a Irmã Clara vir dar as boas vindas aos alunos e para iniciar a oração de todos os dias. Era sempre um tédio para todos os alunos do ensino médio, mas para Anahí, aquilo não parecia incomodar.

E lá estava ela outra vez: Os olhos vidrados em Alfonso, que revirava os olhos aos conselhos de Irmã Clara, que lembrava aos antigos alunos e avisava aos novos, das regras restritas do Colégio St. Joseph. Anahí em seu canto ao lado de Dulce na fila no segundo ano, sorria o olhando. 

Ele estava nos fundos, completamente desorganizado em nenhuma fileira. E então, Angelina, mais conhecida como Angel, se aproximou dele, e Anahí suspirou ultrajada. O colégio inteiro sabia que os dois tinham algo que chegava perto de namoro e passava longe de ser um simples pega. Ele a abraçou, mas logo se afastaram com medo dos castigos da Irmã Clara e suas inspetoras. Ela era linda, os cabelos loiros sempre caídos por suas costas, brilhosos e com as pontas em perfeitos cachos. O uniforme feminino tão bem recatado, nela parecia mais um conjunto de peças de alguma grife famosa. E por mais que doesse em Anahí admitir, Angelina combinava perfeitamente ao lado de Alfonso.

Dulce: Anahí... –chamou pela milésima vez- Anahí, você ouviu o que eu disse? –perguntou aumentando o tom-

Anahí: Não, o que foi? –falou se virando e encarando a amiga que a olhava com um leve estresse por estar falando a sabe-se lá quantos minutos, sozinha-

Só então Anahí percebeu que a cerimônia do primeiro dia de aula já havia acabado. Todos já se espalhavam rumo ás suas salas.

Dulce: Eu não devia nem dizer... –falou olhando distraidamente para as unhas-

Anahí: Ok, vamos lá. -respirou fundo- Eu já disse várias vezes que isso não combina com você, Dulce Maria. –disse com um riso, a vendo revirar os olhos- Que olhar as unhas como se estivesse distraída ou até mesmo para chamar a atenção para algo que quer dizer, mas insiste em dizer que não vai, só para que a real pessoa interessada, no caso eu, peça até seu ego se exaltar por ter algo importante a dizer. –ela suspirou, um pouco sem folego- Você nem ao menos faz as unhas. -completou-

Dulce: Ai Anahí, chega de suas teorias de nerd. –respondeu impaciente. As teorias nerds de Anahí realmente lhe irritavam- Adivinhe só quem está na nossa sala do segundo ano?

Anahí: Quem?

Dulce: Seu Deus grego, seu amor platônico desde a quinta série. Ele mesmo, o grande, o belo, o inatingível... –ela falava como se anunciasse a um show- Alfonso Herrera.

Anahí: O que? –perguntou com os olhos arregalados- Como? Ele passou para o terceiro ano. É impossível.

Dulce: Elementar, minha cara. –disse com um sorrisinho- Ai está o problema. Ele não passou, repetiu de ano.

Anahí: Oh, meu Deus! –falou tampando a boca com as mãos- Coitado Dul, ele deve ter ficado arrasado por repetir de ano. –disse com pesar-

Dulce: Anahí, acorda! –se exaltou- Ele é um folgado que não quer nem saber de estudar. Era óbvio que isso iria acontecer.

Anahí: Não seja assim Dulce Maria, ele deve estudar sim em casa. Não tem como você saber. Ele é inteligente. É óbvio que deve ter acontecido algum problema para que ele repetisse de ano.

Dulce: Certo senhorita defensora dos pobres e oprimidos. Vamos para nossa sala que a aula já vai começar!

Após dizer isso, Dulce saiu andando, e Anahí logo atrás. A mochila nas costas e as mãos agarradas nos livros, os apertando em seu peito, como sempre andava. A franja caída, por seu rosto estar abaixado,  sempre olhando o chão e só se guiando pelos passos de Dulce a sua frente. 

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