Capítulo 73

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No sábado mesmo, Alfonso foi até o hospital de onde lhe ligaram, no fundo ainda esperando que fosse tudo um trote, uma brincadeira de péssimo gosto, um engano... Mas não era. Irredutivelmente, Anahí o acompanhou até o hospital. Quando chegaram lá, Alfonso ouviu mais uma vez a triste noticia que havia perdido seus amigos, seus únicos amigos, e que Louisa estava internada em observação, mas que passava bem.

Horas depois, quando o deixaram ver a menina, as lágrimas voltaram aos olhos de Alfonso. A menina tinha alguns arranhões na testa e nos braços, dormindo sob a cama do hospital com vários fios conectando-a a aparelhos. Anahí estava logo atrás dele, uma das mãos tampando a boca, tentando conter o choro. Talvez aquela tenha sido a pior cena que Alfonso já vira em toda a sua vida. Ele amava Louisa, amava tanto que vê-la daquele jeito, tão pequena, tão indefesa, tão machucada, e agora, sem os pais, era como se esmagassem sem coração.

Na noite que se seguiu, Alfonso não saiu do hospital. Ele estava inconsolável na sala de espera. Ele estava sentado em um sofá, com as costas encostadas, a cabeça jogada para trás, como se ele olhasse para cima. Os olhos estavam vermelhos, distantes, frios. Anahí estava a alguns passos, em pé o observando. Logo os pais de Ginnifer chegaram, desesperados por noticias. Alfonso não conseguiu falar, e por isso quem disse a eles sobre o que havia acontecido foi Anahí.

Na madrugada, Louisa acordou chamando pela mãe, o que apertou o coração de Anahí que estava no quarto junto com Alfonso quando aconteceu. Alfonso ficou ao lado da menina segurando sua mão, tentando ao máximo, inutilmente conter as lágrimas para que ela não visse.

Louisa: Dinho. –falou confusa, olhando o quarto ao seu redor- Cadê minha mamãe? –perguntou chorosa, sentindo falta da mãe-

Era como se enfiassem uma faca no peito de Alfonso. Ele respirou fundo, levando a mão da menina até a boca, beijando-a. Ele tinha que ser forte, por ela, por Ginnifer, e por Josh.

Alfonso: Ela não está aqui, meu amor. –respondeu com a voz embargada- Mas eu estou. Vou ficar aqui com você. –deu em troca. Louisa pareceu pensar, olhando para a frente, e então, viu Anahí-

Louisa: Tia Any. –falou surpresa- Você também está aqui.

Anahí sorriu para a menina, ligeiramente limpando as lágrimas de seu rosto, e se aproximou dela, ficando do lado contrario de Alfonso.

Anahí: Estou princesa. –falou mostrando-lhe um sorriso-

Louisa: Você viu minha mamãe? –perguntou encarando-a-

Anahí: Não Lou, eu não a vi. –respondeu, passando a mão em sua cabeça-

Alfonso respirou fundo novamente, se afastando da cama e limpando as lágrimas que caíam sem fim. Deus, era uma dor quase insuportável a que sentia.

Quando o médico apareceu, a menina foi examinada outra vez, e para alivio de Alfonso, ela estava bem. Logo ela voltou a dormir, e Alfonso insistiu para que Anahí fosse para casa. Ela estava grávida e não era bom para ela passar a noite em um hospital. Porém, ela não foi, e ele, sem forças para insistir e para qualquer outra coisa, deixou.

Os pais de Josh não apareceram no hospital. Eles eram muito idosos e o baque da noticia os deixou fragilizados demais. No domingo, Louisa teve alta, e foi para a casa dos pais de Ginnifer, para aumentar a tristeza de Alfonso, que não queria deixa-la.

A tarde, as coisas para Alfonso pareciam piorar. Ele teve que ir enterrar os amigos, e Anahí o acompanhou até o cemitério. Quando chegaram lá, foi doloroso ver Louisa no colo da avó, chorando. Ela queria os pais, e não os tinha. E ele daria a sua vida para que ela não sofresse daquele jeito. Ela esticou os bracinhos para ele, querendo seu colo, e ele a pegou. Ele tentava não chorar, mas as lágrimas saíam silenciosas por seu rosto. Ele tentou acalmá-la, mas como consolaria alguém, se nem ele mesmo conseguia se consolar? E só quem conseguiu fazer isso foi Anahí, minutos depois, quando a menina pediu o colo dela.

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