— Fiquem à vontade para escolher — disse o monitor. — Mas não sejam lentos, porque a que pegarem no primeiro momento, será a que treinarão nos próximos dias.
Dito isso, muitos avançaram na direção dos objetos. E enquanto escolhiam, fiquei abobado. Não conseguia me decidir.
Nunca usei um arco, mas também desconheço o peso daquela espada. O machado! É, o machado pode ser uma boa opção, pensei.
Estava convencido da minha escolha, porém, demorei tanto que o machado foi pego por outro alguém. Confesso que fiquei chateado. Mas, embora não estivéssemos praticando Corlevado, aquilo ainda fazia parte do treinamento.
A única arma que sobrou foi uma revestida de madeira, ligada com uma corrente que segurava duas esferas caracterizadas pelos espinhos de aço.
Segurando o objeto, perguntei para a monitora como o chamavam.
— Isso é um mangual — disse ela, indisposta.
— Muito prazer, mangual. Eu me chamo Crispim.
Tentei fazer graça. Entretanto, estava descomposto por segurar algo que Deise jamais permitiria.
— Siga os outros — disse Fred, aproximando-se.
Com o fim do Corlevado entre as equipes restantes, foi imposto um limite temporário entre "vencedores" e "perdedores". Enquanto cada monitor escolhia um competidor, eu aguardava os próximos passos.
De repente, Salua se aproximou e propôs:
— Quer trocar? Sou melhor com o mangual do que com a espada.
Ela segurava a maior espada que vi por ali. Sem pensar, entreguei o mangual. No entanto, percebi que a troca decepcionou alguém que estava à minha esquerda.
— Uma Claymore... Dependendo da forma que usar, poderá ter uma vantagem incontestável. Mas, por ser grande, fica complicado de usá-la com um escudo — disse a monitora, com cara de nojo.
— Valeu! — respondi.
— Sabe o que fazer?
Se eu soubesse, não estaria aqui, pensei. Porém, apenas balancei a cabeça.
— Erga a espada — orientou. — Agora, tente movimentá-la para a frente.
Em silêncio, até mesmo quando tive dúvidas, segui as instruções. Por fim, movimentei a espada para a frente, mas senti dificuldade em alguns momentos, pois não era tão leve assim. Após alguns minutos, acostumei com o peso. Então, me senti confortável.
Olhei para os ganhadores, e notei que só conhecia Natanael e outras duas. Apesar de não lembrar como se chamavam, recordei que uma era conhecida por suas premonições. Diziam, ainda, que ela era muito boa em contar histórias.
Talvez por perceber a semelhança das nossas armas, ela se aproximou. Porém, daquela vez, não fui o primeiro a puxar assunto. Quando a contadora de histórias sorriu, a "monitora antipática" se retirou, mas, antes, disse:
— Tente não morrer antes da hora.
Fingi não ouvir.
— Já sabe usá-la? — perguntou aquela de cabelos esbranquiçados.
— Sendo sincero? Não! É o meu primeiro contato.
— Já esperava que fosse.
— Por quê?
— Quem acha que avisou a Mislan sobre sua volta? — inflou-se de orgulho.
— Então, por que não fomos apresentados ainda?
Não queria perguntar seu nome. Pretendia que ela o revelasse.
— Não sei. Desde que chegou sempre está bem acompanhado ou ocupado demais.
Aquilo era verdade. Mesmo quando queria, quase nunca ficava só.
— Rápido! Erga a espada — advertiu. — Vamos ao menos fingir que estamos fazendo algo.
Olhei ao redor e vi que todos se movimentavam. Alguns trocavam de armas, porém, a maioria havia se adaptado ao objeto escolhido. Ainda não entendia o motivo de servirmos como "vitrine" para os outros.
— Ficaria ofendida caso eu perguntasse seu nome?
— Por que ficaria? Não perca o foco!
— Não sei... aquela monitora não é tão simpática como achei que fosse.
— Aquela ali? — riu. — Ela deve estar num ótimo dia por ter decidido ajudar. Em tudo, ela é do contra. Mas voltando a sua pergunta, não tenho motivo para ficar chateada. Meu nome é Ioná.
— Ah, sim, agora lembrei.
— Acompanhe os meus reflexos — orientou.
Ioná me desafiou. Contudo, ela estava indo muito depressa.
— Isso! Continue...
Devido aos movimentos bruscos, andei para trás. Mas, por descuido, deixei a espada cair. Quando isso aconteceu, Ioná parou e disse:
— Que sorte a sua. Geralmente, é difícil acertar de primeira. Mas vejo que se deu bem. Nem parece um iniciante.
Como fui bem se deixei cair?
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Reluscer - O Sucessor
FantasyNo território Dartion, durante o início da guerra, o Rei Rafiq enviou seu filho recém-nascido para o mundo humano, esperando mantê-lo a salvo. Entretanto, depois de muitos anos longe de casa, o jovem Crispim se vê bombardeado por revelações surreais...
25 - O aviso (parte 2)
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