15 - A face de Alssami (parte 1)

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Por mais que as pálpebras pesassem, não conseguia fechar os olhos. Algo me mantinha acordado. Não sentia o corpo da cintura para baixo. Naquele instante, só tremia os lábios. Ali, tudo o que eu ouvia era a sonoridade das flautas que adentravam pelos meus poros.

Quando acreditei ser o fim de tudo, vi uma energia dourada me preencher por inteiro, como se me abraçasse. Eu estava caído, mas, ao mesmo tempo, encontrava-me fora do corpo.

Por um breve momento, observei ao redor e notei o tempo congelar. Além de mim, nada se movia.

De repente, ouvi um chamado. Olhei para todas as direções, mas não encontrei quem estava a minha procura. No início, pareceu apenas uma repetição ilusória, assim como havia acontecido na Quatro Galhos. Porém, a insistência da voz me fez descartar essa possibilidade.

— Crispim Guacci.... Crispim Guacci...

— Iris...? — disse eu.

Pelo tom delicado, pensei em Iris. O rosto dela era o único a se formar na minha mente. Por outro lado, se eu estava morto, era difícil que fosse ela de novo — a não ser que tivesse batido as botas.

— Não, Crispim. Não me chamo Iris.

Acompanhando a voz, segui na direção da luz.

— Então, quem é você? — perguntei, tapando parcialmente os olhos. A luminosidade era intensa.

— Sou alguém que olha por ti, alguém que te concedeu uma missão. E que, agora, vai te mostrar o que precisa ser visto. Sou Alssami, conhecida também como Aurora, Eos, Ushas, Araci, entre outros nomes. Sou a Deusa da manhã. Sou a mãe Dartion.

— Por que não consigo vê-la? — perguntei, com os olhos irritados e semiabertos.

— Porque precisas acreditar que estou aqui. Precisa ter fé!

Através dessa informação, juntei as mãos e voltei a pronunciar a mesma frase de antes: eu nunca estou sozinho, sempre há luzes no caminho.

Quando isso aconteceu, os raios de luz ganharam forma.

— Sou o começo de tudo! — enfatizou, mostrando o que acredito ser a sua verdadeira face.

Alssami é um ser esplendido. Quando a vi, ela estava com uma coroa dourada sobre a cabeça, preenchida por louros. Usava um vestido branco-azulado, tão longo quanto seus cabelos claros.

— Então é verdade... — tentei completar a frase, mas não escondi a cara de espanto.

Arrependido, abaixei a cabeça e dobrei os joelhos diante dela. Pois, antes, havia me recusado a isso.

— Sim, sou tão real quanto você — disse de modo sereno. — Vim porque preciso mostrar o que sua visão não alcança.

Ela segurou minhas mãos, estimulando-me a levantar.

— Preciso que feche os olhos e mantenha sua fé intacta — orientou.

Apesar da timidez, fiz o que Alssami pediu. Todavia, permaneci de cabeça baixa.

Ela acariciou meus cabelos. E assim que permitiu, eu abri os olhos.

Agora eu estava dentro de um castelo, onde o clima gélido causava desconforto.

— Por que estamos aqui? — questionei admirado.

Dando um passo à frente, tentei tocar na parede, mas minha mão a atravessou.

— Este é o local onde deveria ter crescido. Esta é sua verdadeira casa.

O Castelo Real Dartion, deduzi.

Reluscer - O SucessorWhere stories live. Discover now