Reluscer - O Sucessor

05 - A chegada do sucessor (parte 2)

Fred não respondeu. Porém, acabei por cobrir o corpo com a roupa que antes segurava no colo. Em relação ao traje, percebia que a veste dele era bem melhor.

Estávamos rodeados por cinco guardas. Mas nenhum era um dos que eu já tinha visto. Não fiquei encarando ninguém. Porém, na medida em que caminhamos, eles nos seguiram.

— Por que estão nos seguindo? — sussurrei, olhando para trás.

— Por causa daquilo — Fred apontou para uma imensa fila de elfos que estava do lado de fora.

Com tal revelação, obtive uma só resposta para as minhas duas últimas perguntas. Eles estavam ali por minha causa, e aquilo não era tão bom como poderia ser. Exaltados, alguns deles gritavam: queimem o humano! Ele vai acabar nos matando; enforque-o.

Ouvir aquelas ameaças fez meu coração disparar, e ainda que meus lábios não parassem de tremer, tentei não demonstrar medo. Pelo menos o capuz ajudava a esconder minha cara de assustado.

— Não se preocupe! — alertou Fred. — Boa parte deles só está com medo porque não fazem ideia de quem você é. Os Dartions não simpatizam com humanos.

— Deu para perceber... — fechei o punho. — Eu sei que outros humanos já devem ter vindo aqui. Mas, assim, quer dizer então que o contato entre vocês e eles já foi harmônico?

— Sim, claro que sim. Mas pare de falar como se não estivesse incluído dentro do termo "vocês".

Entrando de uma vez no clima das perguntas, me senti à vontade para fazer mais uma.

— Vocês não gostam de serem chamados de elfos. Estou certo?

— Bem... como posso explicar? É... Não é exatamente isso. É que não somos a única raça élfica existente. Então preferimos Dartions.

O barulho das reivindicações foi intensificado na medida em que nos aproximamos. Por um instante, acreditei que teríamos de passar pelo meio deles. Entretanto, antes de concluir aquela equivocada teoria, seguimos pela direita.

Entramos numa sala, não tão grande, mas os soldados ficaram do lado de fora.

No momento em que ergui a cabeça, senti um grande desconforto. Todos os que estavam ali usavam trajes finos e elegantes. Sentados diante da mesa, encontravam-se Salua ao lado de Gaspar, Mislan e outro ser feminino de pele morena e cabelos ondulados, a quem eu desconhecia. Além disso, existiam ainda duas cadeiras vazias.

Enquanto me acomodava, Mislan perguntou:

— Por que demoraram tanto?

— Ele ficou com medo da multidão que se formou lá fora — respondeu Fred.

— E com motivos — disse a desconhecida de cabelos volumosos. — Os Dartions que vivem na floresta não costumam vir até aqui. Mas devem ter sido informados sobre a sua chegada.

Antes de sentar e degustar a comida, aproveitei a oportunidade para arrancar as respostas que tanto precisava. Então, olhei para Mislan e disse:

— Agora conte tudo. Quero saber tudo sobre mim. E, por favor, não adie mais isso.

De repente, tudo ficou em silêncio, até que Mislan iniciasse:

— Há quase quarenta anos, aconteceu a catástrofe no Território Dartion. Um feiticeiro chamado Elmer Farmug invadiu o reino, provocando uma guerra. O seu pai, o rei Rafiq, e a sua mãe, a rainha Olga, foram aprisionados com dezenas de outros da nossa espécie. Os que conseguiram fugir foram salvos graças a esse abrigo — pausou devido à respiração cansada. — Antes de batalhar, o rei me confiou a missão de salvar sua vida, e desde então, nunca mais o vi. Ele disse que a partir daquele momento, eu me tornaria o seu "Farol".