18 - Seguir em frente (parte 1)

1.6K 144 118
                                    

— Aquele é Vougan, irmão gêmeo de Cáluon — disse Natanael. — Ele se tornou um servo de Farmug no dia em que os dois saíram sem permissão. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu, mas somente Cáluon conseguiu voltar. Confesso que não estou espantado com essa situação. Fred e Vougan são amigos de infância.

— Foi por causa de Vougan que as regras do Refúgio se tornaram rígidas — afirmou Gaspar.

Enquanto eles comentavam, eu imaginava como tudo teria acontecido. Porém, uma dúvida cruel me assombrava.

— De tudo isso, só não entendo uma coisa — comentei.

— O quê? — disse Gaspar.

— Por que Farmug quer tantos escravos? Ele já não tem o suficiente para humilhar?

Como resposta, fui informado de que Farmug não é tão esperto como acredita. Às vezes, ele costuma ser gentil com seus fiéis. No entanto, não imagina a quantidade de conspirações que o cerca. Vougan é um exemplo vivo disso.

— Ei, estão nos chamando — disse Natanael, seguindo na direção de Fred.

Percebendo nossa demora, Fred fechou a cara. Mas a causa não era eu, e sim Gaspar. Por mais que Gaspar não demostrasse, eu sabia que a situação tinha piorado. Sua forma de caminhar o entregava.

— Rápido! Venham por aqui — disse Vougan, conduzindo-nos para a parte subterrânea, que ficava na lateral da ponte, debaixo de uma camuflagem de folhas secas. — Escutem bem, não vai demorar para descobrirem o que fiz. Temos que agir depressa.

Por um instante, Vougan saiu. Quanto a mim, observei o quão imundo aquele local estava. Natanael, por sua vez, não escondia o medo de ser atacado por alguma coisa que pudesse surgir das paredes.

Assim que Vougan voltou, trouxe uma lamparina, quatro roupas como as dele, mas apenas um novo capacete. Eu não tinha percebido ainda, porém, os outros dois já tinham sido entregues a Natanael e Fred.

Naquele momento, soube que um de nós ficaria para trás.

Com o capacete em mãos, Vougan mostrou-se confuso. Não sabia se o entregava para Gaspar ou para mim.

— Eu vou — acusei-me. — E mesmo que não tivesse outro capacete, iria de qualquer forma.

Dito isso, tomei o objeto das mãos de Vougan enquanto virei para Fred. Acreditei que ele fosse me confrontar ou algo do tipo. Contudo, nada aconteceu.

— E quanto a mim? — disse Gaspar.

— Não podemos arriscar — lamentou Fred. — Sinto muito, amigo. O efeito da poeira está te deixando lento. É mais seguro ficar aqui de guarda.

Observando a cena, percebi o quanto aquilo magoou Gaspar, que abaixou a cabeça.

— Faz assim — disse Vougan, retirando um objeto do bolso —, fique com isso. E se perceber algo errado, chacoalhe-o com força. Assim, mesmo na parte superior, poderemos te ouvir.

Após concluir, ele entregou um chocalho preenchido por penas a Gaspar.

— Só espero que até lá, eu não tenha perdido o movimento de todos os dedos.

Trocamos de roupa. E mesmo ficando para trás, Gaspar também precisou mudar. Vougan acreditava que isso facilitaria a vida dele, caso acontecesse algum imprevisto.

— Vamos! — disse Fred, acendendo a lamparina.

Permiti que os outros fossem na frente.

Antes de prosseguir, segurei a mão de Gaspar e perguntei:

Reluscer - O SucessorWhere stories live. Discover now