12 - Quando um líder incomoda (parte 1)

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— Sei que devo conhecê-los, mas não dá para ser em outra hora? — comentei, bocejando.

— Olha só, já está falando como se fosse um rei — retrucou Salua.

— E é o que ele será um dia — repreendeu Fred.

Notei faíscas no olhar de ambos. E tenho certeza que não fui o único a perceber. Não sabia o que acontecia entre Salua e Fred, ou o que já haviam passado juntos. Mas especulei sobre a existência de uma mágoa.

— Isso se sobrevivermos, não é? — insistiu ela.

Gaspar, que estava de chegada, também a censurou e logo mudou o rumo da conversa:

— Onde é que estavam? Procurei vocês por todos os cantos.

— Digamos que andei pulando a cerca... — quase não completei a frase, pois os bocejos se intensificaram.

Para mim, era difícil deduzir quando Salua estava falando sério ou não, porque, na maioria das vezes, ela demonstrava firmeza em suas colocações. Por outro lado, fazia uso excessivo de ironias.

Em silêncio, desloquei-me para o quarto e por lá fiquei até o meio da tarde. Quando acordei, me senti renovado. Dormi como uma pedra.

Momentos depois, no salão principal, encontrei Fred conversando com um estranho. Quando ele me viu, finalizou a conversa e se aproximou.

— Já podemos ir? — perguntou.

— Os outros não vão?

— Não. Estão ocupados — respondeu, evasivo.

— Odeio ser excluído desses segredinhos! Sabe, isso me faz sentir como se ainda vivesse no outro mundo. A única coisa que mudou foram as companhias.

— Você fala como se tivesse passado a vida toda sozinho.

— E se tiver sido?

— Resta saber se essa escolha foi sua.

Naquele instante, paramos.

— Parcialmente. A autoexclusão é uma forma de defesa. Era essa a minha armadura.

Após me ouvir, ele se calou por um pequeno intervalo de tempo, e só voltou com os comentários quando seguimos em frente.

— Deve ser difícil falar sobre isso. Esses humanos... como se já não bastassem acreditar que são os únicos seres racionais do universo!

Não queria que Fred sentisse pena de mim. Se havia uma coisa que eu odiava, era fazer o papel de coitadinho. Por isso, demonstrei desinteresse em prosseguir com o assunto.

— Os seres diferentes que vivem aqui no Território Dartion são chamados de Reluzentes, porque costumam ser "luminosos". Eles geralmente possuem um talento raro. Compreende?

Assenti com a cabeça.

— Preciso conhecer todo mundo? — perguntei. — Digo... sem exceção?

— Todos não, mas os grupos sim. Fique tranquilo. Assim que passarmos pelo primeiro, você vai entender.

Estávamos nos aproximando de um grande portão de madeira, localizado atrás de outro, sendo este revertido por ferro raspado. Naquele momento, não compreendi a ação de Fred e até me assustei quando o vi pular contra uma das paredes.

Através do impulso adquirido, ele saltou na direção do teto, puxando uma alavanca que elevou o portão de ferro.

— Achei que só os felinos tivessem facilidade para cair assim — comentei.

Reluscer - O SucessorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora