27 - Reação (parte 2)

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Tentando proteger a amiga, Natanael entrou na frente do cavalo de Ioná, assustando assim o animal. Então, naquele exato momento, ele foi atingido em cheio por uma flecha na parte frontal da cabeça. E a única coisa que pude fazer foi gritar o nome dele. No instante do impacto, senti como se fosse em mim. Sua última expressão ficou arquivada na minha mente, porque, mesmo de longe, vi-o agonizar de barriga para cima, respirando então pela última vez.

Desacreditado e em choque, avisei Zambzug, mas ele me ignorou. Em decorrência disso, retirei a espada da bainha e o ameacei. Pelo lado direito, pus a mão para a frente, aproximando a arma contra o pescoço dele.

— Volte! Precisamos voltar! Todos eles vão morrer... Não quero ser o único sobrevivente.

Ele, por sua vez, reduziu os galopes do cavalo. Em seguida, comentou:

— Se quer salvá-los, confie em mim. Estamos indo em direção a isso. Mas, se quiser botar tudo a perder, te levo de volta. Então morre eu, você e o restante.

Aquela informação me deixou confuso. Não sabia o que estava acontecendo, mas controlei o impulso de golpeá-lo.

— Só posso dizer quando chegarmos mais perto — continuou. — Tem que ver para acreditar.

Por três vezes, pensei em pular do cavalo. Porém, seria suicídio, pois tínhamos companhia. Não fazia ideia para onde ia, mas, se aquilo mudasse algo, seguiria as instruções. Desisti de fazê-lo de refém, retirei a espada da frente dele, mas não a guardei.

— Os que vieram comigo... vão ajudar — disse ele.

Zambzug deve ter esperado algum comentário meu. Contudo, isso não aconteceu. Naquele momento, eu só conseguia pensar no rosto de Natanael. Parte de mim ainda não queria acreditar, mas eu vi aquilo acontecer.

Depois de percorremos um longo trajeto por um local com características desérticas, Zambzug prosseguiu:

— Chegamos! É ali — apontou.

— O que tem ali?

Tudo o que vi foi uma montanha rochosa, onde uma névoa escura me impossibilitava de enxergar o topo.

— Depressa!

Zambzug desceu do cavalo e, mesmo não entendendo o motivo, fiz o mesmo.

— Já deveriam estar aqui... — resmungou ele.

— Quem...? Dá para parar de falar em código?!

Ao longe, dois cavalos se aproximavam. Neles estavam um dos Mascarados, Rafiq e Fred. Porém, só notei Fred quando ficou de pé sobre o animal em movimento. De costas para mim, ele tentava atrasar os inimigos, fazendo uso de um arco e flecha. Entretanto, apesar de alguns acertos, não os fez desistir.

— Preste atenção! — disse Zambzug, apoiando as mãos sobre os meus ombros. — Elmer Farmug está no topo da montanha. Mas para chegar até lá você tem que ultrapassar a barreira criada por ele. Acredito que ele esteja usando a magia dos primeiros reis. Então, se eu estiver certo, somente você e seu pai podem seguir adiante, por causa do sangue real.

Zambzug supôs que eu devesse enfrentar Farmug no alto da montanha. Se fosse antes, não conseguiria sair do lugar. Mas, daquela vez, não hesitei. Ao lado dele, corri para a barreira.

Provando que estava certo, ele se aproximou, tocou na energia azul, e tomou um choque. Foi retraído pelo efeito dela.

— Preciso tentar! — repeti o que fez.

Quando toquei na barreira, a energia me sugou para o lado da montanha. Tentei voltar, mas, daquela vez, quem levou o choque foi eu.

— Não consigo voltar...

Prestes a tentar de novo, Zambzug me aconselhou a parar. Segundo ele, a tendência da repulsão poderia ser crescente.

Enquanto eu pensava numa solução para tentar romper a barreira, vi Fred e Rafiq chegaram ao outro lado. Sem demora, o rei, que parecia informado, desceu do animal e atravessou para o lado em que eu estava.

Nos olhos dele, enxerguei a sede de vingança.

— Custava me esperar? — reclamou comigo.

Ainda que Rafiq falasse, concentrava-me na luta que acontecia do outro lado. Zambzug, Fred e o Mascarado estavam em desvantagem. Eram sete contra três. Percebendo o descaso, o rei se aproximou da barreira e tentou voltar. Mas, antes disso acontecer, alertei-o sobre a repulsão.

Por um momento, deixei de ouvir a luta. Então, pus as mãos nos ouvidos para verificar se havia algo errado. De repente, Fred foi jogado contra a barreira, e, em vez de rejeitá-lo, ela o sugou.

Naquele segundo, as palavras de Zambzug deixaram de fazer sentido.

— Não sabia que podia fazer isso — afirmou Fred, descomposto. — Acho que por ser um Farol, consegui chegar desse lado...

Na última vez em que vi Zambzug, notei que ele e o Mascarado controlavam a situação. Em vista disso, disparei para a entrada da montanha, ao lado de Rafiq e Fred.

Acreditei que lá dentro fosse completamente escuro, porém, devido à entrada da luz solar, existiam algumas partes iluminadas. Nos primeiros minutos, tudo pareceu normal. Mas, de repente, escureceu de vez. E com a ausência da iluminação, escutei um zumbido ensurdecedor. Tentei proteger os ouvidos, mas não adiantou. Como um intruso, o barulho se alojou na minha cabeça na medida em que se intensificou.

— Não acreditem no que virem ou ouvirem! — gritou Rafiq, tentando abafar o zumbido. — Não deixem que ele invada suas mentes, Farmug está...

Infelizmente, não ouvi o fim da mensagem.

Assim que o som desagradável parou, gritei por Fred e Rafiq, mas não obtive retorno algum. 

Reluscer - O SucessorWhere stories live. Discover now