Capítulo 37 - Uma nova chance

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Melissa

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Felizmente a febre baixou. Eu devia ter repensado em sair durante a chuva. Não me perdoaria se meu impulso tivesse afetado meu pequeno baby. Olho-me agora no espelho e sinto minha barriga crescer a passos lentos. É tão fascinante a ideia de que está crescendo uma pequena pessoinha dentro de mim. Quase três meses de gestação e a curiosidade por conhecer o rostinho do meu pequeno homenzinho já me domina... ou seria minha pequena garotinha? Céus e os nomes? Nem pensei nos nomes... Emma? Giovanna? Elisabeth? Sara? E se for homem? Rodrigo? Emanuel? Pierry? Ain, são tantas opções que a indecisão já me domina. 

— Melissa? —  a voz de Eduarda soou ecoando pelo quarto me despertando dos meus devaneios.  

— Duda? — me surpreendi ao vê-la. —  O que faz em casa há essa hora? Acaso não foi trabalhar?

— Fui demitida. — afirmou com tristeza e rapidez.

— Como assim demitida? Por que? Não me diga que pelo atraso? Caralho, eu fui a culpada por sua demissão? — a metralhei com as perguntas. Sem duvidas, a pior sensação do mundo é sentir que você trás má sorte para quem mais você queria trazer felicidade. Desde que pus os pés na vida dela, tudo passou a desandar completamente.

— O motivo não importa mais. O importante é que vou lutar e conseguir um novo emprego. Juro que nada vai faltar ao nosso pequenino. —  falou pondo suas mãos em minha barriga para acaricia-la. Foi lindo assistir tal cena refletida no espelho.

— Você disse "nosso"? — repeti com os olhos brilhando.

— Sim... Cuidarei dessa criança como se ela também fosse minha. Não vou te abandonar.  Lembra quando eu disse que seria uma especie de tia para ela? Não achou que eu estivesse blefando né? — ela sorriu tão docemente que até senti vontade de pular em seus braços. Como alguém pode estar vivendo um momento tão ruim e ainda sim, ser capaz de pensar em mim e no meu filho? Lembro-me de ter ouvido da boca de Rafael que Eduarda era egoísta e só pensava em si... Certamente ele não a conhecia tão profundamente quanto eu.

— Sabe Mel, a pior parte do dia não foi a demissão...

— Não? —  indaguei confusa e temente pela possível noticia que estava por vir.

— O Guilherme, meu melhor amigo, foi espancado e se encontra bem mal no hospital. Voltei em casa apenas para ver se você tinha melhorado da febre. Eu vou no hospital receber noticias e ver como ele está. Gui é meu melhor amigo há anos... é como um irmão. Já perdi alguém importante, eu não suportaria perde-lo. — uma lágrima desceu de seus olhos lavando seu rosto.

— Você não vai perde-lo. Ele vai sair bem dessa... Você vai ver... Não se sinta entregue ou derrotada por essa avalanche de más noticias. A fé é a melhor conselheira agora. Saiba que você não está sozinha, eu estou contigo. — finalizei tais palavras abraçando-a. 

— Você é meu ponto de equilíbrio, sabia? —  olhou profundamente em meus olhos e prosseguiu — Quando me desespero achando que tudo está completamente errado em minha vida, eu te olho e percebo o quanto me faz bem te ter ao lado. É bom sentir que a solidão não assusta mais. Eu sempre tive amigos incríveis, mas no fim, a solidão sempre fez morada em mim. Agora, apesar de tudo, eu me sinto preenchida. Você, seu bebe, talvez chegaram para pôr um sentido na minha vida toda errada. Uma cor no meu mundo de tons cinzas. Um brilho no meu olhar que já tinha esquecido como era brilhar e por fim, um sorriso em meus lábios. 

— Você não pode falar esse tipo de coisa Eduarda. Não me maltrate tanto assim... — falei afastando-me de seus braços.

— Te falar o que sinto, é te maltratar? 

—  Falar o que sente, me fazer sentir que sou especial e no fim me recusar é a pior maneira de maltratar sentimentos que são seus.  

— E se eu estivesse disposta a tentar desta vez? Sem recusas? Sem medos? E se eu te permitisse tentar fazer meu coração frio voltar a se aquecer outra vez?  — ela se aproximou e segurou minha mão levando até seu coração para que eu o sentisse.—  Viu? É por ti que ele está batendo agora.

— Se isso acontecesse... eu seria a garota mais feliz do mundo.

— Então eu te imploro... Me salva de mim mesma? Me faz acreditar que eu ainda posso ser feliz e que eu não desaprendi a amar? Me faz esquecer meus medos, inseguranças e culpas? — seus olhos buscavam os meus para o encontro mais intimo de nossas almas. 

— Eu estou aqui. Vou permanecer aqui. Estou exatamente onde quero estar: ao seu lado. Eu nunca me imaginei um dia encantada por uma garota, mas o destino te apresentou a mim e não me fez se importar com seu gênero, me importa apenas o que sinto quando estou com você.  Eu não me lembro de ter sido tão bem cuidada assim antes por alguém. A cada novo dia eu me encanto mais por ti...  Sabe Eduarda? Se eu não puder ser o vento que toca seus cabelos, que eu seja ao menos a brisa que acaricia seu rosto. Se eu não puder ser para ti o fogo que incendeia a paixão, que eu seja a pequena chama que mantém seus sentimentos acessos. Se eu não puder ser sua rotina, que eu seja seu destino. Se eu não puder ser o cobertor que te aquece, que eu seja os braços que te abrigam. Se eu não for o vulcão que faz seus sentimentos entrarem em erupção, que eu seja porto seguro que estabiliza seus medos. Se eu não conseguir ser o amor que sonhou ao ouvir os contos de fadas lidos por sua mãe, que eu seja o sapo que recebe um beijo apaixonado e ainda sim, com tantas imperfeições, consegue te fazer feliz. Se eu não puder te fazer esquecer das cicatrizes do seu passado, que eu seja capaz de anestesiar suas dores para que elas não voltem a te machucar.  — antes que eu conseguisse concluir, ela tocou meus lábios com os seus e me surpreendeu com o beijo mais doce que minha boca até ali já havia provado.

Eu estava vivendo aquele momento como se fosse o ultimo da minha vida. Eu não sabia exatamente quanto tempo iria demorar até que Duda caísse em si outra vez, mas eu não estava com pressa para descobrir, eu só queria viver aquela sensação. Pela primeira vez, é bom não ser julgada pelo passado. Se o universo me concedesse um desejo, seria o de ter aquela mulher para mim.  

2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora