Capítulo 36 - Jornal

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Eduarda

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O sol lá do alto avisava que o novo havia chegado. O sono ainda me dominava. Melissa e eu mal havíamos dormido na noite passada. Sua febre não havia estabilizado e suas dores de cabeça constantes a deixaram acordada por toda a noite. Me corta o coração ter que ir trabalhar e ter que deixa-la assim: tão veraneável e sozinha. Fiquei o máximo que pude lhe fazendo companhia. Preparei um café da manhã que ela quase não tocou graças a sua crise de garganta. Chegou a vomitar por duas vezes, não sei se pelos enjoos da gravidez ou se era mais um sintoma da gripe. Olhei o relógio e céus, eu já estava há meia hora atrasada. Minha consciência pesava em ter que deixar Melissa assim, sozinha. Pensei em chamar alguém que pudesse ficar com ela, mas quem? Guilherme a essa altura já estava a caminho do jornal. Rafael é um louco psicopata a quem eu jamais confiaria. Lívia jamais aceitaria cuidar de uma "quase rival". Céus, o que faço? Se eu faltar o serviço, Laura vai arrancar meu pescoço fora. Aquela jararaca está esperando apenas um deslize para me ferrar de vez. 

  — Eduarda, já está passando do seu horário de trabalho. É melhor você ir. — disse Mel entre um gemido de dor e outro.

  —  Não posso ir. Não vou te deixar sozinha ardendo em febre assim. —  falei pondo a mão sobre sua testa e me certificando outra vez de sua temperatura. 

— Eu sei me cuidar sozinha Duh, sempre me cuidei, não me deixe tão mal acostumada. Agora me ouça e vá. — ela ordenou.

—  Promete que vai se cuidar bem na minha ausência? Deixei bastante suco repleto de vitamina C na geladeira e varias aspirinas no criado-mudo. Meu celular vai ficar 24 horas ligado, então por favor, não deixe de me ligar. — beijei sua testa despedindo-me. —  agora preciso ir, já estou quase há uma hora atrasada. — me dei conta ao olhar no relógio outra vez.  

Redação do Jornal, segunda-feira, 8:30 PM. 

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O trânsito consegue me ferrar ainda mais quando creio que meu dia já está ruim o bastante. Melhor eu correr para a minha sala antes que alguém dê por falta da minha presença.  Passei na recepção como um furação. Por sorte os corredores estavam vazios. No normal, as segundas-feiras eram sempre de muitos trabalhos, certamente meus colegas estavam ocupados demais para notarem por minha falta, por sorte, era isso. Respirei fundo e quase aliviada adentrei minha sala, eu estava feliz que talvez ninguém tivesse se dado conta desse deslise, digo, atrasado... Ninguém exceto ela.. A cobra, vulgo Laura. 

— Outra vez sentada na minha cadeira? —  interroguei fitando-a com enorme pavor, enquanto ela sentia-se a dona do espaço que era meu.

— Chega atrasada e ainda age como se tivesse alguma moral? Essa sala e essa cadeira fazem parte do jornal... e o jornal não é propriedade sua. Você é mesmo surpreendente. Isso para não usar a palavra ilaria. — ela girou na cadeira, levantou-se me encarando e caminhando em volta de mim. — você sabe que está atrasada há uma hora e meia né? O que tem a dizer a respeito desse atraso?

— Eu estava cuidando da minha colega de apartamento. Ela está enferma. —  respirei fundo para não voar no pescoço dela e apenas me limitei a responde-la.

— Não sabia que você era enfermeira. —  sorriu com deboche. 

—  E não sou, eu só costumo ter um coração... —  alfinetei. 

— Isso aqui é uma redação de jornal, não um hospital. Você não é paga para cuidar de pacientes, é paga para fazer as noticias circularem. — esbravejou. — Eu te alertei que com outro deslize eu não pensaria duas vezes em te demitir, e bom, não costumo voltar atras em minhas palavras. Eu te alertei e você fez sua escolha. —  sorriu vitoriosa e isso me dava nojo. —  Não posso negar que você sempre foi uma das melhores do time de jornalista desta redação, mas como eu disse, você "foi" e eu preciso de alguém que continue sendo. Eu não sou a Antonietta, sua ex redatora. As coisas mudaram por aqui e agora tudo caminha conforme meu ritmo. 

2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora