Capítulo 13 - Telefonema

7.5K 902 111
                                    

Eduarda

Meus pensamentos ainda se mantinham atordoados, nem lembro exato em que momento dormi na noite passada, o fato é que acordei com uma terrível dor de cabeça. Acho que inúmeros dos meus neurônios foram queimados quando tentei por vezes entender mais sobre o turbilhão de sentimentos que vieram átona em mim após a declaração de Liv. Mais um dia de trabalho me esperava e sinceramente minhas forças pareciam esgotadas. É incrível como não me reconheço mais. Parece que a Eduarda que fui um dia se mantém cada vez mais longe de quem sou hoje. Em cada canto do meu quarto, várias cinzas de cigarros dividem espaço comigo. Por vezes me sinto axficiada, não pela fumaça, mas pelo vazio. Virando-me pela cama, deslizei minhas mãos entre as cobertas no lado onde Clara costumava dormir, senti grandemente sua falta, a ausência que ela deixou é como uma queimadura lenta que vai tomando toda a minha alma. Solidão e comodismo passaram a definir meus dias. Acontece que aquela garota que eu costumava ser, morreu junto com o seu grande amor. Desde que meus pais resolveram voltar para a cidade natal deixando-me para trás, passei à afundar-me cada vez mais dentro de minhas emoções. Incrivelmente, apesar de todos os pesares, meus pais ainda vêem em mim aquela jovem redatora responsável da qual sempre lutou por seus objetivos e os causavam tanto orgulho. Ao menos fico feliz que eles estejam longe o bastante para (não) verem minha decadência. O tempo que passaram em meu apartamento não serviu pra muito, além de mostrar uma Eduarda que talvez eles ainda não conheciam bem.

Após um banho rápido, um café preto e um cigarro matinal, estou pronta para enfrentar o dia de trabalho. Peguei minhas pastas, girei a chave na maçaneta e segui até o carro para cumpri o meu caminho rotineiro. Inesperadamente, antes que eu pusesse o cinto de segurança, meu telefone tocou... Olhei o visor e vi que se tratava de Lívia. Meu coração acelerou. Eu sabia que um dia essa conversa iria acontecer, mas eu não estava preparada ainda, mesmo assim, respirei fundo e atendi.

— Eu sei que estou te devendo uma resposta Liv e sei também que eu não deveria ter saído da sua casa como sai na noite passada, mas por telefone não é a melhor maneira de tratar sobre isso.

— A maneira mais simples de atender um telefonema é dizendo um simples " alô" minha cara Eduarda. Calma minha flor, não liguei para falar nada sobre ontem, liguei para dizer que a amiga que sempre esteve ao seu lado nesses últimos anos, continuará aqui. Não quero que nada mude em relação a nós, nem quero que você passe a me evitar. É por isso que te liguei, apenas para dizer que colocarei uma pedra nesse assunto e só falaremos disso quando você quiser falar, e se esse dia nunca chegar, não voltaremos a falar jamais. Porque prefiro te ter como uma amiga, do que não tê-la de maneira alguma.

— Eu pensei bastante em tudo que me falou ontem e sinto que realmente preciso te dar uma resposta. É o minimo a se fazer. Não sou mulher de fugir ou fingir que nada houve. Hoje assim que eu sair do meu trabalho, passarei em sua casa. É necessário que a gente converse. Ontem eu fui pega de surpresa e não consegui pensar em nada, meus pensamentos ficaram atordoados e minha única reação foi ir embora, mas após uma noite de pensamentos longos, eu decidi o que fazer. No entanto, não quero tratar deste assunto por telefone.

— Tudo bem, se assim prefere, eu entendo. Irei te esperar, mas por favor, não se sinta pressionada a nada, faça apenas o que seu coração pedir.

— Agora preciso ir para o trabalho ou chegarei atrasada. Até a noite, beijos Liv.

— Bom trabalho Eduarda. — falou finalizando a chamada, enquanto eu colocava o cinto e dava partida no carro.

Por todo o caminho, mantive meus pensamentos em total desorganização. Eu ensaiava junto ao meu subconsciente, as melhores palavras para serem usadas no momento. Com tantas frases feitas a serem ensaiadas, o caminho se tornou pequeno. Cheguei na redação do jornal ainda flutuando na minha imaginação, o futuro passava em meus pensamentos como um filme, era incrível como eu conseguia montar cenas que nunca vivi.

2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora