Capítulo 27- Um novo dia

6.5K 845 149
                                    

Lívia

**

Eis que despertei-me sentindo dores em cada parte do meu corpo. A posição me parecia mais desconfortável agora que na noite passada. Vejo que a ideia de dormir nos braços do Rafael só não foi pior do que dá aquele show na social... E por falar em Rafael... Essa visão de vê-lo dormir me dá nojo... Como me deixei levar por esse papinho idiota de "eu me importo com você"? É claro que ele deve estar rindo por dentro de toda essa situação idiota que estou vivendo. Por um lado isso me intriga... Esse cara é uma incógnita para mim... Como alguém que fez tantas coisas ruins no passado, pode virar o "bom samaritano" e resolver ajudar todo mundo? Não sei se dá pra acreditar nele. 

Enquanto eu permanecia absorta em meus pensamentos,  passei a me desvencilhar de Rafael tentando a todo custo não acorda-lo. Na verdade eu estava com medo do clima que ficaria quando finalmente tivéssemos que nos encarar.  No entanto, como tudo que planejo para minha vida acontece de forma contraria, não foi diferente desta vez. Antes que eu conseguisse tirar seu braço de cima do meu corpo, ele abriu os olhos ainda sonolentos e me encarou falando com aquele bafo de porco:

— Bom dia Lívia! — o sorriso que ele colocou na expressão me causava incomodo. Era notoriamente sínico. — Tão cedo e já acordada... estas melhor em relação a noite passada?

— Rafael, ontem...

— O que tem ontem? 

— Eu dormi em seus braços? 

— Sim... Vencida pelas pálpebras pesadas de seus olhos, cansadas de tanto chorar.  

— E por que não foi embora quando viu que dormir? Digo... por que passou a noite aqui, comigo, sendo que poderia ter ido e dormido no conforto de sua cama...

— É que eu tive medo que acordasse na madrugada e se sentisse sozinha. 

— Te importa tanto assim como me sinto? 

— Lívia, eu acabei de acordar, tô varado de fome, nem escovei os dentes, banho nem se fala e já sou metralhado com tantas perguntas? — ele mudou completamente de assunto me fazendo ficar chateada.

— Affz! Você é um completo ogro mesmo... Custa responder as perguntas de uma dama? 

— Quando eu encontrar uma dama neste sofá eu respondo. 

— Vai se foder seu cretino!  — falei saindo do sofá e jogando forte uma almofada sobre seu corpo. 

— Amo foder... sexo matinal então... Nem se fala! já que tocou no assunto, pode ser aqui mesmo? 

— Você consegue ser mais babaca que o limite... — revirei os olhos. — Eu nunca foderia com você, nem por um senhor caralho. Se quer tanto sexo matinal, vá atras da tal Samantha, afinal ela foi sua acompanhante na festa e deve ser a única que te aguenta... já perdeu tempo demais aqui comigo. 

— Você tem razão, nem sei por que deixei uma garota meiga, doce e educada para vir até aqui perder meu tempo. E sou eu quem nunca foderia com você, falei aquilo por pura zoação. Quer saber? volta lá para o seu quarto e continua chorando pela Eduarda... Porque eu estou indo curtir meu domingo... —  ele disse levantando-se do sofá, seguindo a passos rápidos até a porta e batendo-a forte me deixando sozinha.

Por que ele tinha que ser essa mistura insuportável de doce e amargo? Calma e explosivo? Ogro e meigo? Rafael é uma especie de yin yang de quinta categoria que não consigo decifrar. Melhor mesmo que tenha ido embora, eu não preciso dele... Dane-se... Eu o odeio e ponto final. 

Rafael

**

Vai lá outra vez trouxa, vai lá oferecer um ombro amigo pra uma mal agradecida do caralho e leva outro chute no traseiro. Vai lá ouvir a porra do seu coração e se foder de novo. Você devia ter passado a noite na companhia da Samantha, isso sim, não na companhia de uma idiota que não sabe baixar a guarda nem quando está mal. Meu pior erro foi ter apressado-me em levar a Samantha em casa só para correr e ver como Lívia estava... Por que diabos eu me importo tanto? E dai se ela está passando pelo mesmo que eu passei? Ela vai aprender e amadurecer como eu aprendi e amadureci. Eu não vou mais bancar o palhaço, não vou mais tentar ajudar. Dane-se ela, dane-se seus sentimentos. Se ela quer continuar correndo atrás da Eduarda, o problema é todo dela. 

Enquanto sigo meu caminho embora, a raiva me toma por completo. Por que diabos estou sentindo meu coração tão dolorido? Eu já imaginava que no fim ela iria me tratar assim quando ficasse um pouco melhor. Eu sabia que a Lívia da noite de ontem sumiria ao amanhecer, então porque mesmo sabendo de tudo isso, estou tão abalado? Rafa, Rafa, é melhor voltar ao seu estado normal, já está chegando no apartamento e se Guilherme te ver assim não vai faltar interrogatórios sobre onde passou a noite. — minha consciência gritava falando comigo enquanto eu girava a chave na maçaneta da porta. — Céus que zorra! Dar de cara com Guilherme e seus amigos dormindo por todos os lados do apartamento notoriamente vencidos pelo peso do álcool não era a melhor forma de começar o dia para mim.  Vai ver isso era tudo que tava me faltando para avacalhar de vez minha manhã de domingo.

— Já tá na hora das belas adormecidas acordarem. — falei caminhando pela sala e abrindo a janela deixando o sol entrar.  

— Porra primo! isso é jeito de acordar uma diva?  — Guilherme indagou com sarcasmo. 

— Fecha essa janela cara! —  A tal Tiffany gritou, ainda esparramada no sofá com uma garrafa de bebida sobre seu corpo. 

— Mano, para de ser pé no saco e vaza... a gente quer dormir! Depois de uma noite dessas eu preciso de mais 3 dias de sono para recarregar as baterias. —   Jonas reclamou me expulsando da minha própria casa. 

Como aproveitei pouco da festa, não estava com sono, apesar de muita dor no corpo pela noite mal dormida... Resolvi subir até meu quarto, tomar um banho e sair para curtir meu domingo. Liguei no celular da Samantha e a convidei para uma praia... Ela adorou a ideia e eu estava mesmo precisando me divertir, juntamos então o útil ao agradável. 

Melissa

**

—  Já acordada tão cedo? — indaguei ao desperta-me e dá de cara com a imagem de Eduarda de frente ao espelho conferindo seu visual.  

— Eu vou sair Melissa, mas deixarei meu celular ligado para que me ligue caso precise de alguma coisa... — ela se mantinha com uma expressão fechada e parecia preocupada. — Já deixei o café da manhã pronto... Não demorarei a voltar. 

— Céus! Por ter acordado tão cedo em um dia de domingo, imagino que seja algo importante, seria muito indelicado te perguntar onde vai? 

—  Vou até a casa de Lívia, ela e eu precisamos conversar. — confesso que ouvir aquilo logo pela manhã, fez meu estomago vazio se revirar.  

— Boa sorte lá com ela... — tentei forçar um sorriso.  

— Obrigada Mel.. Até logo! Cuide-se bem em minha ausência. — ela disse me retribuindo o sorriso e seguindo seu caminho. 

Sinceramente, eu já não sei onde me encaixo na vida de Eduarda. É ruim ser a amiga que empata seu relacionamento amoroso e é pior ainda ser a garota que fica contando as horas para que ela volte quando não está. Eu não sei se é pela solidão, por não ter a companhia de mais ninguém, ou se é por eu ter realmente me acostumado a dividir meus dias com ela. O fato é que no fundo, uma parte de mim torce para que Lívia e ela se acertem de vez e outra parte gritante dentro de mim implora para que aconteça o oposto. Tudo em mim está tão perdido e confuso.  Estou sozinha agora, nesta cama e os lençóis são minhas únicas companhias. O cheiro de Eduarda é tão vivo sobre eles que chego a senti-la como se estivesse aqui. 

2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora