Capítulo 21 - Análise clínica

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Melissa

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Eis que quando o sol surgiu para cumprir o seu expediente , acordei com a maravilhosa visão de Eduarda do outro lado da cama, coberta por lençóis, perdida em meio aos travesseiros. Tentei desvencilhar-me sem acorda-la, fui até o banheiro, olhei-me no espelho e quase entrei numa crise existencial ao ver o estado do meu cabelo... Até mesmo um leão tem a juba menos embaralhada que meu cabelo. Sorte a minha Eduarda ainda estar dormindo, caso contrario, ficaria assustada ao se deparar com a minha imagem logo pela manhã.  Me despi, segui para o box e liguei a ducha para um banho matinal. Flash de memoria da noite passada percorriam meus lábios com um sorriso. A vergonha fazia morada em mim todas as vezes que eu lembrava do ocorrido na madrugada de ontem. Saindo dos meus devaneios matinais, peguei a toalha para secar meu corpo e segui para o quarto.

Naquela manhã eu estava decidida a oferecer um novo rumo a minha vida: assim que Eduarda saísse para trabalhar, eu também sairia em busca de um apartamentos, mas antes eu teria que passar no laboratório de análises clínicas. Droga de exame de gravidez... Como pude ser tão tola ao ponto de deixar isso acontecer? Logo eu que sempre usei e abusei de métodos preservativos. Não posso acreditar na hipótese de uma gravidez nesse momento da minha vida. É fato que minha menstruação está há quase dois meses atrasada, mas meus ciclos menstruais nunca foram regulares mesmo... talvez haja uma luz no fim do túnel. Nem sei mais a qual dos deuses rezar, já implorei a tantos diferentes... Eu definitivamente não acho que esse seja o melhor momento para ter um filho(a) se é que em algum momento será um "bom momento" para mim. Olhe para mim Deus? Ex-garota de programa, desempregada, sem casa, morando de favor, sem dinheiro (tirando as poucas economias que restou em anos de trabalho), como vou criar um filho? Nenhum homem irá querer pagar por sexo quando meu barrigão começar a crescer, e se quer mesmo saber, eu não sei se quero continuar vivendo essa vida devassa. Mas eu já tentei por vezes conseguir um emprego nesta cidade e nada, só um milagre para que eu conseguisse agora. No entanto, quem dará emprego para uma jovem grávida? A pior parte de tudo isso é que meu filho vai crescer sem pai... Eu estou com medo de ir fazer esse maldito teste que mudará por inteira a minha vida... No fundo eu já sei o resultado, depois dos mil testes de farmácia que fiz ainda quando morava na pensão, é obvio que não é provável erros iguais em tantas marcas diferentes. Só me resta aceitar e rezar, pois como diz a lenda: a esperança é a ultima que morre e a fé move montanhas. Nada como um teste definitivo em uma clinica de renome para tirar todas as minhas dúvidas.

Saindo do meu absorto de pensamentos, me deparei com a imagem de Eduarda sobre a cama, ainda dormindo sossegadamente. Pensei em acorda-la, mas antes que eu tomasse uma decisão seu celular tocou de forma ensurdecedora alarmando. Por certo já era hora de levantar para o serviço. 

— Puta que pariu! Tenho que trocar a porra do toque do meu alarme ou qualquer dia desses ele me mata do coração. — falou parando o toque do alarme, esfregando os olhos e se espreguiçando.

— Bom dia bela adormecida! Fico tão feliz que tenha acordado de tão bom humor...— sorri ironicamente enquanto ela me olhava com aquela cara lindamente amassada e cabelos desajustados. — A água está uma delicia... Sugiro que tome uma ducha enquanto eu preparo um café da manhã pra gente... tenho certeza que seu humor ficará bem melhor depois disso. — lancei a ideia enquanto ela caminhava até o banheiro e eu me vestia em seu quarto... 

— Não é mal humor Melissa... O nome disso é TPM. — resmungou batendo forte a porta que separava o banheiro do seu quarto. 

Segui para a cozinha na intenção de preparar um café quentinho para melhorar os ânimos de Eduarda... Mas ela nem sequer notou meu esforço de agrada-la e desceu apressadamente, pegando uma maçã que estava sobre a mesa, a chave do carro, ajustando o blazer em seu corpo e seguindo em disparada para a redação. Tentei pedir um pouco de paciência de sua parte, mas ela afirmou que com mais um minuto de atraso que fosse, sua chefe jararaca a mandaria embora. 

2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora