Capítulo 28 - Bola de demolição

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Lívia

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Desde o momento em que Rafael havia ido embora, a sonolência ainda me tomava por inteira... Nem bem tomei meu café da manhã e corri para a cama, eu precisava dormir para amenizar as dores do meu corpo. Lembrar da noite passada me fazia sentir a mais tonta de todas as garotas. Não bastava o fiasco da social e não conformada ainda dormi nos braços de um idiota que só queria rir da minha desgraça. Quem precisa de inimigos, quando eu mesma consigo me ferrar sozinha? Banhada, deito-me na cama para retomar meus sonhos, quando ouço outra vez o som da campainha me interrompendo. - Se for outra vez aquele ogro idiota, eu o ponharei de porta a fora. - vociferei a mim mesma, vestindo-me e caminhando até a sala com uma expressão furiosa.

— Eduarda? —esfreguei meus olhos para ter certeza sobre a visão que eles me mostravam ao abrir a porta.

— Vim porque precisamos conversar. - ela adentrou a sala sem convites... —Sinto que devemos essa conversa uma a outra.

—Eu não tenho mais nada para falar. Já ocupei bem meu papel de idiota na nossa história, mas agora você está livre para correr para os braços de Melissa ou qualquer outra que desejar. — segurei firme minhas lágrimas e com força, não as deixei cair.

—De onde tirou que eu e Melissa vamos ficar juntas? Ela é minha amiga Lívia e apenas isso.

— A quem você quer enganar com esse discurso? A mim ou a si mesma? Até um cego notaria o obvio.

— Meu grande amor foi e continua sendo a Clara. Eu nunca menti em relação a isso... Eu estava disposta a tentar com você, mas você está simplesmente desistindo.

—Não haja como se ter desistido fosse uma escolha minha. Você me deu razões para isso. Sei que nunca me amou, mas você fez sempre questão de deixar isso tão na cara para todos. Eu era sua namorada, mas sempre sua última prioridade... e eu cansei do seu joguinho de machucar.. E se quer saber? Seria muito menos doloroso te ouvir dizer que ama a Melissa ao invés da Clara, ao menos eu me confortaria em saber que perdi para alguém de carne e osso e não para uma lembrança do seu passado.

—Seu problema é a pressa Lívia. Eu sei que posso te amar, eu sei que vou... Por que é tão difícil esperar meu tempo?

— Você quer me fazer esperar enquanto se decide entre mim e Melissa? Que tipo de idiota você acredita que sou?

— Por Deus Lívia, não é nada disso... Eu só não quero que nossa história acabe desta forma.

—Sabe Eduarda? Se ao final da festa, você tivesse vindo atrás de mim, eu juro que seria capaz de te perdoar, mas você preferiu ir com ela e só agora está aqui... Até Laura, uma pessoa que até então eu não conhecia e Rafael, um canalha cretino, se mostraram se importar mais comigo que você.

—Lívia, sabemos que precisei levar Melissa no hospital, eu quis vir até aqui ontem mesmo, eu juro, mas não tive como...

— É tarde Eduarda! Me perdoa, mas não posso mais continuar me enganando. Te peço perdão por ter entregado-me a ti e me enganado em acreditar que íamos ser feliz juntas. Me perdoa por ter te idealizado estando sempre ao meu lado, e por ter achado que tu eras o amor da minha vida. Me perdoa por ter fantasiado toda essa falsa história de amor onde eu amei sozinha. Não adianta mais eu tentar e tentar e no fim só me enganar com esse romance falho. Eu te amo, mas não posso achar que o meu amor bastará para te fazer me amar também. - eu encarava seus olhos sedentos buscando os meus e firmemente continuava. - Sei que nunca fui a mais perfeita, meus ciúmes e meus dramas deve ter te sufocado, mas entenda que tive razões em agir assim. Me perdoa Eduarda, me perdoa por não ser a pessoa que conseguiu pôr um colorido na sua vida e por não ser quem te fez voltar a sentir o sabor da felicidade. Me perdoa por não bastar para ti, mas eu não saberia me olhar no espelho e saber que estou com alguém que não me ama. Pior que não ter ninguém ao lado, é saber que ao meu lado tenho alguém que não me ama. Te amo o suficiente para te deixar livre e ser feliz, mesmo que seja com Melissa ou com seus fantasmas passados. - meu pranto quase calou minha voz e antes que eu continuasse, Eduarda me interrompeu...

—Lívia, eu sou como uma bola demolidora... Eu cheguei a pensar que o problema estava no maucaratismo de Rafael ou nas mentiras de Clara, mas percebi tardiamente que o problema está em mim. Eu me sinto uma bomba de sentimentos que explode e machuca quem está por perto. Eu queria muito te amar, pois você merece meu amor, mas sabemos que o coração tem suas próprias vontades. E apesar de tudo, isso não quer dizer que eu não sinta nada por ti, pois eu sinto. Você me fazia e faz feliz. Eu sei que te propor amizade agora vai machucar a nos duas ainda mais, pois talvez não seja o momento certo para encararmos uma a outra como amiga, mas se um dia você conseguir me perdoar, eu queria que a amizade que tivemos nesses três anos não chegasse ao fim. Eu estou destruída por dentro, e os pedaços dentro de mim estão espalhados em forma de cacos, mas eu não quero te envolver nessa confusão. Então Lívia, tudo que tenho a pedir é que me perdoe por ter te machucado tanto. - respirou fundo, tomou um ar, escondeu uma lágrima e prosseguiu. - É melhor eu ir embora, já tomei muito de seu tempo.

— Espera Eduarda! - segurei em seu braço bloqueando seus passos.

— Diga? - ela olhou profundamente em meus olhos.

—Me dá um último beijo? - no fundo eu sabia que não deveria fazer isso. A lembrança de um beijo de despedida seria mais dolorosa ainda. — Eu passei tanto tempo sonhando em te ter, agora que tudo chegou ao fim, preciso de algo que tome meus pensamentos quando eu sentir que nada valeu a pena. — Ela se aproximou, e sem nenhuma palavra pôs sua mão em volta da minha cintura e aproximou nossos olhares. Fechei os olhos e senti seus lábios nos meus. Eu queria poder parar o tempo ali, para que ela nunca mais partisse para longe de meus braços. Eu a beijava com tanto amor, que enquanto suas mãos acariciavam meu rosto, eu só conseguia chorar com a dor antecipada do adeus. Sentindo-me afogada e perdida dentro dos meus sentimentos, um barulho vindo da porta roubou nosso momento. Interrompi o beijo e olhei adiante...

—Laura? O que está fazendo aqui? - Eduarda disse surpresa ao vê-la parada na porta nos olhando perplexa.

—Desculpa se interrompi a reconciliação do casal, é que a porta estava aberta.— ela argumentou meio desconcertada.

—Não há reconciliação nenhuma! E Eduarda já estava de saída. — expliquei.

—E sua língua estava mostrando a ela o caminho da porta? (risos) —Laura disse cheia de sarcasmo.

— Quem você pensa que é para falar assim?— Eduarda vociferou.

— Sou sua chefe Madu! — ela sorriu com um tom vitorioso.— mas não se preocupes, já estou indo embora, vim apenas para ver se Lívia estava melhor, mas vejo que já estão muito bem.

— É minha chefe na redação, não na minha folga de domingo. E sou Maria Eduarda para você, não Madu.

—Se eu fosse você, não falaria assim comigo.— Laura se defendeu.

— Não estamos no jornal. Aqui estamos de igual para igual. Sem contar que até agora estou buscando entender que diabos você veio fazer aqui. —Duda retrucou.

— Já chega as duas! Estão dentro da minha casa e não vou permitir essa birra das duas sobre quem manda mais. -interrompi.

— Bom, não tenho mais nada a fazer aqui. Vou embora! — Eduarda esbravejou tomando a porta de saída como destino.

Com a saída de Eduarda, o silêncio tomou o ambiente. Eu não sabia ao certo a razão de ter tão cedo a visita de Laura. Era um belo domingo e o sol matinal estava brilhante e majestoso lá do alto. Mas ao invés de irem curtir o dia, minha casa se tornou o destino mais procurado do último momento?

— Desculpa ter incomodado vocês Lívia, não foi minha intenção. Se eu soubesse, juro que não teria vindo... Mas é que a porta estava aberta.

— Não se desculpe Laura, aquilo que você viu não foi reconciliação, foi despedida. - me entristeci.

—Calma pequena, por mais difícil que pareça ser agora, tudo vai se resolver.

— Obrigada Laura... Mas sem ser indelicada, mas já sendo, o que veio fazer aqui tão cedo? Não tínhamos combinado somente a noite?

— Eu vim te convidar para ir a praia comigo... Sei que está bastante tristonha e sair um pouco vai te animar mais, sem falar que sol e mar não faz mal a ninguém.

Tentei recusar o convite, afinal o meu humor estava minimamente propicio para a ocasião, mas Laura foi tão persuasiva, que dizer não era um trabalho extremamente impossível.

2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora