Capítulo 20 - Xixi

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Por volta de duas horas da madrugada meu celular tocou despertando-me do um sonho... Olhei o visor e vi a foto de Lívia... "Céus, como fui esquecer de ligar avisando que eu não poderia ir hoje? Ela deve estar uma fera comigo."

— Alô amor... — tentei atender da forma mais amável possível. 

— Amor uma ova. Amor o caralho. Amor é a sua madrinha Maria Eduarda. Me explica essa voz de sono? Você estava dormindo? — ela respirou fundo e ao retomar o ar novamente me atacou. — Eu estou desde cedo até agora te esperando aqui em casa feito uma trouxa, enquanto você aproveita para dormir?  

— Liv, você ligou exatamente as duas da madrugada — fiz uma pausa para olhar o relógio —   com a intenção de brigar? —  relutei com impaciência.

— Não. Eu liguei para saber o motivo pelo qual você não veio... e peço que pense bem antes de responder a minha pergunta, pois se a Melissa for outra vez o motivo eu não vou te perdoar... Incrivelmente essa garota parece mais importante que sua própria namorada.  

— Liv, você sabe que odeio mentiras e não vou começar a omitir a verdade para não te machucar... Em verdade não fui porque Melissa passou mal e eu tive que ficar para cuidar dela. Não quis arriscar que ela se sentisse mal e não tivesse por quem chamar...

— Eu moro sozinha Eduarda... e você nunca foi capaz de se importar que se por acaso algum dia eu precisasse de ajuda, eu teria por quem chamar. — ela usou as palavras de forma tão dura que quase senti uma faca cravando meu peito. — Cuide bem da Melissa... Pois eu vou cuidar de mim! Fica bem Eduarda! — falou desligando a chamada sem me dá a melhor chance de falar qualquer coisa. Tentei retornar a ligação milhares de vezes, mas em todas deu caixa de mensagem.

Infelizmente com a Ligação de Lívia acabei perdendo o sono. Fui até a cozinha, tomei um pouco de água e voltei a deitar no desconforto total daquele sofá. Virei de um lado para o outro e o sono parecia não querer voltar. Inesperadamente senti uma vontade de fazer xixi, levantei-me outra vez e me encaminhei para o único banheiro da casa que se localizava no meu quarto. (Bom, na verdade no quarto que pertencia aos meus pais existia um banheiro, mas por tanto tempo desativado, achei melhor usar o meu.) Abri delicadamente a porta do quarto para não despertar Melissa e fui em direção ao vaso... Evitei acender as luzes para não incomoda-la e me guiei apenas com a iluminação que vinha do visor do meu celular.  Quando por fim baixei a parte inferior do meu baby doll e a calcinha, me posicionando no vaso para liberar todo aquele liquido que estava dentro de mim, senti uma claridade tomar conta do banheiro, a porta abriu e sem avisos Melissa entrou como um raio. 

— Caramba Eduarda! Mil perdões... Eu não sabia que estava aqui.. — ela me olhava desconcertada... — J-suis, por que não trancou a porta? Assim nos impediria de passar por isso. — ela estava vermelha de tanta timidez. 

— Calma... Não precisa de tanta formalidade... Moramos juntas agora e mais cedo ou mais tarde passaríamos por isso... E sei que meu corpo não é tão feio assim que te cause tanto espanto. — rimos juntas. — vim apenas trocar meu absorvente e fazer xixi.

  — De qualquer forma é melhor eu te esperar no quarto. — falou saindo e fechando a porta do banheiro... Aproveitei para tomar um banho... Na verdade eu queria retardar o momento de encara-la outra vez, eu também estava desconcertada com o que havia acabado de acontecer. Me sequei e posicionei um novo O.B, abrindo seguidamente a porta do quarto enquanto Mel me metralhava com um olhar de "desculpas" tipico do gatinho do filme do Shrek.

— Sobre o que acabou de acontecer, não precisa se desculpar... Tá tudo bem! — tranquilizei antes que ela tentasse de desculpar outra vez. — Não sei em exato se é o sofá que está acabando com a minha coluna ou se estou com uma puta cólica menstrual... O fato é que você terá que liberar um espaço para mim nessa cama, pois para aquele sofá não quero voltar, ou amanhã não conseguirei nem andar. 

 — A cama é sua Duda... Nada mais justo que durma aqui. Eu voltarei para o sofá. — ela falou levantando-se... —  Você também vai dormir aqui... Eu não esqueci do seu mal-estar e aquele sofá é extremamente desconfortável.   A cama é grande e cabe perfeitamente as duas... Não se preocupe, não vou abusar do seu corpinho e sei que você também não vai abusar do meu, afinal uma mulher no auge do seu ciclo menstrual não é muito apetitiva.  — risos irônicos. — Céus Melissa! Não precisa me olhar assim... foi apenas uma brincadeira... Sei que você é hétero e eu tenho namorada... Agora deita ai e vamos dormir.

  — Você tem cada uma que as vezes é impossível não amar sua companhia. Amanhã sairei para procurar apartamentos pela cidade... e caso eu encontre, saiba que vou sentir saudade de te ter por perto. — ela disse acomodando-se do outro lado da cama para deitar.

— Mas já? Porque toda essa pressa para sair daqui? A visão do meu corpo te assustou tanto assim? — risos, risos e risos.

— Claro que não... Eu só não quero te incomodar mais do que já incomodei. —  ela disse olhando nos meus olhos enquanto se confortava entre os travesseiros e as cobertas.

— Você não incomoda... Na verdade desde que veio morar aqui tenho me sentido mais viva. Se puder ouvir o que te peço agora, saiba que não quero que vá... — olhei no fundo de seus olhos e por um instante quando nossos olhos se encontraram senti uma súbita vontade de beijar sua boca... Mas contive meu desejo e interrompi o momento dizendo: — é melhor dormirmos... 

  — Boa noite Eduarda! Até amanhã... — falou dando um beijo suave em meu rosto e virando-se seguidamente para dormir.  

Por muito tempo continuei admirando a visão daquela jovem garota de quem eu tão pouco sabia, mas que agora dormia como se fosse um anjo ao meu lado. A cólica parecia ter sumido e  tudo que me restava agora era a incerteza de quanto tempo eu ainda teria ao lado de Melissa. Gradativamente o sono foi chegando e meus pensamentos foram se dissipando.



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2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora