Capítulo 12 - Revelações

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Eduarda

Bati na porta do apartamento de Lívia sentindo minhas mãos trêmulas. Era inacreditável e impossível engolir toda aquela historia estapafúrdia que Guilherme afirmou a respeito de Lív.

— Duda, que bom que veio, eu estava mesmo vendo um filme e não poderia bater em minha porta companhia melhor... Entre, fiz pipocas e brigadeiro de panela. — ela disse sorridente ao abrir a porta.

— Será mesmo que não poderia ter companhia melhor? Talvez a companhia de Rafael te agrade bem mais que a minha... Não é mesmo? — Interroguei furiosa a encarando e adentrando a sala de seu apartamento.

— De onde tirou isso? Por acaso andou bebendo? De onde saiu o Rafael nessa conversa? — ela descaradamente me interrogava fingindo desentendimento.

— Não se faça de sínica Lívia. Sei muito bem que passaram a noite juntos, inclusive sei até que dividiram a mesma cama. Logo você que sempre afirmava estar do meu lado quando soube de todas as crueldades que aquele monstro aprontou, agora resolve esquecer tudo para viver um romancezinho de quinta? — eu vociferava enquanto caminhava em movimentos circulares pela sala.

— Eduarda, para de entender tudo errado e me deixa explicar o que de fato houve? — Lív me olhou com uma expressão triste enquanto segurava meu braço me impedindo de continuar andando em círculos.

— Explicar o que? Os detalhes sórdidos da noite entre o monstro e a amiga falsa? Aposto que com essa história a Disney venderia bem mais que com a história da bela e a fera. — grosseiramente ironizei.

— Escuta aqui Eduarda, agora você vai me ouvir! Amiga falsa? quem você acha que é para me julgar assim? Se há uma coisa que não sou nesta vida é falsa, dissimulada, mentirosa ou qualquer coisa do gênero. Você está fazendo comigo agora, o mesmo que fez com a Clara há anos atrás... Me acusando sem oferecer a chance de de me explicar e te fazer entender a verdade real dos fatos. Rafael e eu dormimos juntos sim, mas não houve nada, eu tive um pesadelo horrível com você na noite da qual você sumiu e eu corri meio mundo por notícias suas. Fui até a casa de Guilherme buscar ajuda, mas somente Rafael estava. Era você a causa de eu estar lá aquela noite, porque só você é capaz de despertar em mim o súbito desejo de te cuidar, e é exatamente isso que tenho feito esse últimos anos: cuidado de ti. Eu me importava em cuidar das suas ressacas quando bebia até esquecer o nome para tirar da cabeça o amor do qual nunca esqueceu. Eu te procuro feito louca quando resolve sumir sem explicação a cada vez que a lembrança da Clara volta a assombrar seus pensamentos. Eu não me importo em odiar pessoas que você odeia, simplesmente porque se eles te fazem mal eu compro a briga. Seu sorriso para mim conta bem mais que o meu... e após tudo isso, não aceito que venha me julgar desta forma. — ela deu alguns passos para mais perto de mim, colocou suas mãos em meu rosto enquanto uma lágrima rolava em sua face e disse: — Somente você não vê que para mim não há Rafael ou qualquer outra pessoa no mundo, para o meu coração só existe você. Eu sei que o amor que você sente por Clara ainda permanece vivo ai dentro de ti, mas nesses três anos eu só quis cuidar de cada um dos seus ferimentos, para finalmente falar tudo o que sinto. Eu não quis chegar na sua vida como um raio, mas como um vento que acaricia levemente seu rosto. Estou aqui não por ser o mais fácil, pois sabemos que se eu ouvisse mais a razão, nesta hora já estaría longe. Não fico por comodismo ou por ter acostumado a ficar, fico porque mesmo tento a liberdade de desbravar um horizonte, em você busco me ancorar. Eduarda, me dê a chance de te mostrar que amor maior não há. Eu não aguento mais te ver se afundando nesse mar de angústia e medo. Sei que Clara foi seu grande amor, mas ela morreu e onde quer que ela esteja, ela vai querer te ver feliz... e eu posso te fazer feliz... Eu sei que posso. Me deixa tentar? — antes que eu pudesse falar ou fazer qualquer coisa, Lívia me calou com um beijo intenso.

Meus pensamentos estavam confusos, enquanto os lábios de Lívia tocavam os meus, o turbilhão bagunçado de sentimentos dentro de mim me tiravam de órbita. Dei fim ao beijo retirando assustadamente meus lábios de junto dos seus e distanciei-me dando dois passos para trás.

— Lívia me perdoa, mas não sei o que dizer em exato nesse momento. Eu... eu... eu só preciso de um tempo para pensar. — gaguejei com a voz tão tremula que quase não saia som. Ela me olhava com um olhar tristonho ansiando por uma resposta, talvez até a mais dura que fosse, mas eu fui covarde demais para dizer qualquer palavra naquele momento. Bati a porta e correndo para longe dalí parti deixando para trás a garota que até então eu via como melhor amiga e que agora era a última pessoa que eu queria machucar. Entrei no carro e pisei fundo no acelerador.

Lívia

**

Abri meu coração e vi o quanto idiota fui. Eu devia ter continuado a calar esse sentimento que dentro de mim grita. Agora me encontro sentada no chão frio de uma sala, encostada na porta de saída que a garota que eu amo bateu para ir para longe de mim. Talvez eu seja a personificação de sentimentos concisos. A felicidade de uma amor recíproco é sem dúvidas aquilo que os céus não reservou para mim. Foram três anos de total dedicação a alguém que nem ao menos foi capaz de me dizer um não olhando em meus olhos.

As horas se passavam, não havia mais esperanças em mim de que Eduarda fosse voltar com arrependimento para me responder, algumas lágrimas escorreram dos meus olhos, enxuguei-as antes que aquele choro conturbado ecoasse outra vez. O silêncio se estendeu por algum tempo até o barulho da minha mente me enlouquecer com tantos pensamentos. Havia um buraco em meu peito e aquela dose de dor, angustia e sofrimento só aumentava. Eu precisava de Eduarda como oxigênio. Vê-la ir embora sem poder fazer nada era sufocante. Eu apenas assisti enquanto meu coração se quebrava. Por que ela bateu a porta desta forma? Eu ainda estou parada aqui, esperando-a voltar. Não posso me culpar por sua partida, pois sei que dei o melhor de mim para que ficasse. Eu não queria ter escondido por tanto tempo, mas tive medo que ela fugisse como aconteceu agora. É que acostumei a causar um efeito contrário nos sentimentos de quem eu mais queria perto.

Eduarda

**

Chegando em casa, entrei em disparada em meu quarto, ascendi um cigarro, deitei na cama e desabei em lágrimas. Eu não sabia o que fazer. Eu ainda amava desesperadamente Clara, dizer sim para o sentimento de Lívia poderia resultar em machucados terríveis ao seu coração. Ela era a última pessoa no mundo que eu queria machucar, mas por outro lado, sinto que se eu não me permitir tentar, nunca vou conseguir tirar esse buraco do meu peito que ficou desde que Clara se foi. Por que a vida tem disso? Essas complicações nas curvas da vida...
Enquanto a fumaça do cigarro se espalhava pelo quarto, lágrimas se espalhavam pelo meu rosto. O arrependimento veio átona... Talvez eu não devia ter saído daquela forma e partido deixando-a para trás buscando por respostas... Por que eu tenho que machucar tanto as pessoas que eu menos queria magoar? Por que ser essa bomba relógio é a minha predestinação? Eu queria poder retribuir todo esse sentimento na mesma intensidade, eu juro que queria, mas o fato é que não sei se posso.

2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora