Capítulo 26 - O ogro de bom coração

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Lívia.

**

— Rafael? — Me surpreendi e agi com perplexidade ao perceber de quem se tratava. — O que faz aqui a essa hora da noite?   —  ele era realmente a última pessoa que eu esperava que batesse em minha porta, pior essa hora da noite... 

— Caralho! Não tinha uma roupa mais decente pra atender a porta não? — O abusado foi capaz de dizer isso enquanto adentrava o apartamento sem convite.  

— Primeiro que eu estou na minha casa e portanto me visto como quero... e segundo que só desci as pressas com esse baby doll porque imaginei que fosse minha namorada, ou ex namorada... Nem sei mais, e não esse babaca que está na minha frente. — vociferei batendo forte a porta e o encarando sentado no sofá da sala. — afinal de contas, o que você veio fazer aqui?

— Vim ver como você está...Vi pela forma que saiu da social que não estava nada bem... e vim também para te falar algo. 

—  Até parece que você se importa comigo, seu idiota... e fala logo o que você veio dizer?  — esbravejei sem paciência. 

— O empurrão que você deu na Melissa teve complicações para o bebê... acabei de vir do hospital e a Eduarda está uma fera contigo e chegou a dizer em alto e bom som que nunca vai te perdoar. —  ao ouvir as palavras de Rafael eu não consegui pensar em mais nada... Sentei-me no sofá e senti como se uma faca tivesse sido cravada em meu peito. Eu não imaginei que Melissa estava grávida, eu não queria causar nenhum mal para seu filho. Eu não sou esse monstro! O desespero me tomou por inteira e as lágrimas brotaram em minha face. Eu não saberia lidar com a culpa de ser a causadora de um aborto... Quando o meu desespero chegou ao grau mais elevado, vi na expressão de Rafael um sorriso de deboche...

— Não acredito que você caiu nessa! É brincadeira sua tapada... O bebezinho está muito bem e Melissa inclusiva já está em casa... —  ele ria se deliciando do meu estado de desespero. Aquele garoto me dava nojo!

— Como alguém pode conseguir brincar com um assunto tão serio assim?   — me perguntei perplexa.  — Você me dá pena Rafael.

—Eu consigo, mas admito que não vim pela brincadeira, vim para te dizer que está tudo bem com a criança. Imaginei que talvez você estivesse culpada pensando que algo grave pudesse ter acontecido, apesar da brincadeira, me preocupei em vim te confortar afirmando que está tudo bem.

— Pra isso existe celular.. Podia simplesmente ter ligado!

—  Sabendo o quanto você me odeia, certamente recusaria a chamada... Apesar desse monstro que você e o resto do mundo vê em mim, tirando minhas brincadeiras idiotas e um passado sujo, tirando isso...

— Tirando tudo isso, você quer dizer.. — interrompi.

— Enfim, tirando isso ou tudo isso, eu até que sou um cara legal.. a prova disso é que estou aqui!  

— Está aqui, mas já pode ir embora... ninguém te convidou mesmo.

— Lívia, será que você pode parar de ser marrenta só por hoje? Sei que você não está bem e eu não sou a melhor pessoa do mundo, mas sou alguém que se importa com você.

— E por que se importa? Você sabe que não te suporto.

— Por quê eu já estive na sua pele. Já amei a garota que hoje você ama. Já sofri e passei noites me lamentando por amar sozinho alguém que só consegue pensar em si. Eu estou aqui simplesmente por te entender como ninguém no mundo entende, mas se mesmo assim, prefere que eu vá embora e te deixe sozinha, eu vou, mas se colocar um pouco dessa marra de lado e permitir que eu fique, eu juro pôr ao menos por hoje todas as nossas diferenças de lado e apenas te cuidar.  

— Eu não preciso de ninguém cuidando de mim, pior você.  — vociferei. 

— Okay, se prefere optar pelo orgulho, então estou indo embora... Fica bem! — ele disse enquanto levantava-se do sofá e caminhava até a porta. Eu queria só por um minuto que o orgulho não me calasse, eu precisava ser mais forte que toda essa marra de durona e numa atitude impensada, apenas disse: —  Não vai Rafa, por favor fica? Apesar de todo esse gênio difícil, dentro de mim existe uma garota implorando por atenção.

— Eu posso te dar essa atenção... Mesmo que só por hoje.. Nem que amanhã você volte a me odiar... Mas essa noite minha missão é te fazer sorrir. — as palavras de Rafael me tocaram tão fundo. Eu sentia sinceridade em suas palavras, mas tudo que eu desejava era que fosse Eduarda me dizendo tudo aquilo. Eu tentava não demonstrar fraqueza, mas o choro reprimido teimava em molhar minha face. Rafael se aproximou e me abrigou em seus braços... — Chore o quanto quiser, reprimir uma dor é senti-la duas vezes mais forte.  — Meu soluços saiam sem controle... — Pronto, pronto Liv, pode chorar, eu estou aqui com você. — ele me confortava me prendendo mais forte dentro do seu abraço. 





Rafael

**

Vê-la dormir agora em meus braços é uma sensação tão estranha. Já dormimos juntos antes, mas foi diferente, completamente diferente... A Lívia que está aqui é uma garota meiga que precisa ser cuidada, não a garota grosseira com quem diariamente cruzo. Meu coração se vê em pedaços ao presenciar que o sono veio como escape para seus olhos cansados de tanto trabalharem soltando lágrimas. Quanto mais vejo Lívia assim, mas me vejo na situação dela... a diferença é que naquele momento eu não tinha ninguém com quem contar, mas com ela será diferente, eu lhe ajudarei a passar por isso. Sei o quanto é duro sofrer tanto assim por alguém que você ama, e que, provavelmente, não liga tanto pra você quanto você deseja. Sei a dor de tentar colocar aquele sorriso no rosto só para esconder as lágrimas, entrar embaixo do chuveiro só para poder desabafar e colocar para fora todas aquelas lágrimas que foram reprimidas o dia inteiro... eu sei o quanto doí todas essas coisas..   Aquela garota (Eduarda) é exatamente como uma granada capaz de destruir todos a sua volta. Já não sei realmente se eu fui o vilão ou o mocinho da nossa historia.. Tudo que sei é que não vou deixar que o sentimento que Lívia sente por ela se torne algo tão destrutível quanto se tornou em mim.... Te vejo dormir em meus braços no desconforto total deste sofá e tenho diante de meus olhos a imagem de um anjo... Eu sei que talvez amanhã quando você acordar um pouco melhor, você pode me por para correr como a Lívia que eu conheço certamente faria, talvez o melhor fosse não pagar para ver e ir embora agora, mas algo em mim está disposto a arriscar.  Arrumei um pouco melhor sua cabeça e acomodei melhor seu corpo entre o pouco espaço do sofá... Só me resta rezar para que essa noite demore a passar... Apesar do desconforto do meu corpo, na minha ânsia de não querer mexer para não te acordar, sinto que estou onde eu mais queria estar.  

  

2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora