Capítulo 21 - Análise clínica

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Sozinha naquela cozinha, aproveitei para tomar uma dose de coragem entre um gole e outro de café. Eu estava decidida a ir até a clinica. Se fosse para sofrer que fosse por uma certeza e não por uma suposição. Se bem que depois daquele enjoo na noite passada, tá cada vez mais difícil acreditar na margem de erro dos exames de farmácia. Peguei minha bolsa e segui meu caminho em destino a algo que mudaria por completo a minha vida.   

Rafael

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Acordei varado de fome e aquele puto não deixou porra nenhuma para que eu possa me alimentar. Ele sempre deixa, todos os dias antes de ir trabalhar ele vai até padaria e volta com o suficiente para nós dois. O que deve ter acontecido de diferente hoje? Certamente a farra de ontem fez ele acordar mais tarde que de costume e para não se atrasar no serviço, me deixou sem alimentação digna.. Ou pior, talvez o cretino nem tenha dormido em casa.  Dane-se os motivos dele, melhor eu me vestir e correr até a padaria antes que não sobre nada para mim. 

(...)
Eu odiava vir até a padaria porque na verdade eu nunca sabia o que exatamente escolher. Tantas opções maravilhosas expostas naquele balção, escolher uma apenas era uma tarefa quase impossível. No entanto, levando em conta que eu não podia perder anos naquela fila, resolvi pedir um cappuccino com recheio de chocolate, acompanhado de rosquinhas e uma tapioca amanteigada. Peguei minha bandeja repleta de gostosuras e acomodei-me na ultima mesa daquela padaria. 

  — Rafael, é você? —  ouvi a voz suave de alguém que estava na mesa vizinha e virei meu rosto para saber de quem se tratava.  Tentei buscar em minha memoria de onde eu conhecia essa voz, mas minha tentativa falhou. Me limitei apenas a sorrir como se de fato tivesse lembrado de sua fisionomia. 

 — Sente-se aqui comigo?Vejo que também está sem companhia e não te custará nada fazer companhia a uma velha conhecida.  —  ela não precisou de muito para me convencer... Afinal de contas não é sempre que recebo o convite de uma moça bonita para um café. Acomodei novamente minha bandeja sobre a mesa e sentei-me. 

  — Então Rafa... Como vai a vida? Faz tempo que não nos falamos. Perdi o contato com quase todo mundo do seu grupo de amigos... Como vai Guilherme? Rômulo? Clara? Eduarda? 

Puta que pariu! Quem era aquela mulher que sabia tanto sobre meu ciclo de amizade? Eu tentava a todo custo reconhece-la, seu rosto de fato não me era estranho, mas eu não conseguia lembrar de onde...  

  — Seria muito indelicado de minha parte perguntar seu nome? Eu sinto que sua fisionomia não me é estranha, mas não estou de fato conseguindo lembrar de onde nos conhecemos.  — tentei ser o menos escroto possível. Odeio o fato de ter uma memoria tão ruim!

— Sou eu Rafa... A Samantha! Você me contratou há um tempo atrás para ser a sua namorada de faxada em uma viagem... Lembra? É completamente proibido importunar clientes da forma que estou fazendo, sei dos termos de responsabilidades do contrato e tudo o mais, no entanto te vi sozinho e resolvi te convidar para um café em minha companhia para batermos um papo.

— Caramba!!! Acabei de lembrar... Você ainda trabalha para a tal agencia? — interroguei enquanto mordia a minha tapioca amanteigada. 

 — Já fazem anos que sai de lá. Estou trabalhando atualmente numa agencia de viagens e agora tudo que me resta do passado são lembranças vagas. Mas você não me respondeu.. Como anda os outros? — ela parecia mesmo disposta a ouvir sobre os últimos acontecimentos durante esse tempo que esteve longe.   

— Bom, começando por Gui e Rômulo, eles estão separados há algum tempo... Rômulo está atualmente em uma viagem para fora do país a trabalho. Retomou a todo gás e vida de modelo. Guilherme passou a viver sua vida entre dedicar-se a boates, festas, baladas e trabalho.. ahhh sem esquecer de regar tudo isso a machos sarados e muitas bebidas. Eduarda e Clara não estão mais juntas... é triste te dar essa noticia, afinal sei que vocês eram extremamente amigas, mas Clara morreu. — falei com um pesar.

 — Como assim morreu? —  ela dizia perplexa e parecia não acreditar no que eu estava dizendo.

Naquela manhã o papo foi longo... A deixei a par de tudo que havia acontecido nos últimos tempos e fiquei a par de coisas de sua vida também, como por exemplo o histórico dos seus últimos relacionamentos conturbados. Trocamos números e ela me fez jurar antes de ir embora que não sumiríamos e nem perderíamos o contato. Incrivelmente ao ir naquela padaria, eu não imaginava que iria encontrar alguém da qual eu nem lembrava, mas confesso que eu estava feliz por isso.  É bom sentir que tenho algo próximo de um amigo. 


Melissa

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À amostra do meu sangue já foi retirada. Me garantiram que o resultado sairá em algumas poucas horas, mas a minha ânsia por certezas já domina cada espaço do meu ser. É surpreendente o fato do que é possível detectar o HCG, hormônio presente na gravidez, apenas através de uma amostra sanguínea. É mais surpreendente ainda, saber que talvez exista um ser vivo crescendo dentro de mim.  Impacientemente eu me encontrava naquela cadeira da sala de espera... até que finalmente ouvi uma senhora de aproximadamente 60 anos chamar meu nome. Ela pacientemente sorriu, pediu minha identidade e após comprovar a veracidade da minha identificação, entregou em minhas mãos um envelope: era finalmente o maldito resultado. Sem pensar duas vezes, antes mesmo de por os pés para fora daquela clinica, tive a certeza da qual eu tanto temia: POSITIVO.

 Sem pensar duas vezes, antes mesmo de por os pés para fora daquela clinica, tive a certeza da qual eu tanto temia: POSITIVO

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2 - Colorindo uma vida de tons cinzasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora