Capítulo 74

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Gradara.
Reino elfico.
Outono.

O castelo de Gradara se encontrava novamente barulhento, alguns criados comentavam sobre as portas terem se trancado de maneira misteriosa, enquanto os soldados mantinham suas posturas e seus olhos vigilantes ao redor. O príncipe herdeiro apenas os alertou para que ficassem atentos a qualquer movimento suspeito, alguns o haviam visto em desespero no momento em que a porta da sala real havia se fechado, mas mesmo assim mantiveram suas posturas, e seus lábios silenciosos.

Lórien se encontra na arena de treinos junto do primo, Callahan xinga alguns soldados e se afasta, deixando o príncipe herdeiro sozinho com um dos guardas na arena, os outros observam atentamente os movimentos rápidos do elfo de cabelos loiros, esse que dobra seu joelho, e usa a perna para derrubar o soldado no chão, ouvindo mais um xingamento vindo do primo, e sorrindo em direção a ele.
— Que porra aquela vagabunda tava fazendo com vocês? Deviam ir para a taberna servirem de putas para os forasteiros, invés de se aventurem como soldados de Gradara. — Callahan rosna rouco, e acende seu costumeiro cigarro, ouvindo a gargalhada do príncipe, que estende a mão e levanta o soldado no chão.
— Fique mais atento soldado, e agradeça pela rainha ruiva não está aqui. — Lórien sorrir, e volta a se por em posição de defesa, esperando por uma ataque do soldado.

A rainha ruiva por sua vez, espera seu belo rei terminar de ajeitar seu traje, o mesmo havia tomado um banho demorado, para tirar o cheiro metalico do sangue da avariel, e para pensar em suas palavras para a mulher.

Aragorn não era de conversa, e sabia que a mulher ruiva estava demasiadamente chateada com ele, embora o episódio com a irmã, a tivesse tirado o foco do rei, por algum tempo, mas assim que viu o belo rosto rosado de Raelene, pleno e sorridente, a rainha prendeu seus olhos novamente ao seu belo elfo, e esperava que o mesmo lhe dissesse algo sobre o que fez novamente com o general.

Kallea não era mulher para ser presa em uma gaiola, muito menos por estar sendo vigiada a cada passo que a mesma dava, a ruiva sempre foi livre, e mesmo com Dalibor sempre a mantendo ao seu lado, ela podia passear pelo castelo e fazer suas rondas com o Reagan, o general da guarda de Baraphion, ou com Arnoud, e isso nunca foi problema para o pai, muito menos para ela, que sempre soube de sua índole, e não se deixava levar por cantadas baratas vindas dos mesmos, e não seria diferente com Earendil, a ruiva amava o rei impaciente e isso não mudaria, do dia para a noite.
— Kallea. — Aragorn chama a atenção da mulher que gira o anel em seu dedo. — Eu não sei o que falar. — O mesmo se senta assim que termina de ajeitar as amarras de seu traje.
— Sabe sim, você pode começar a falar sobre suas atitudes. — A ruiva eleva seus olhos azuis até o rosto belo e perfeito do elfo sentado a sua frente. — Se é que isso vai fazer qualquer diferença em como você me vê... — Ela respira fundo, se afastando do elfo, esse que sente uma pontada em seu peito.
— Minha rainha... — Ele tenta tocar em sua perna, que é movida para longe de seu toque, o fazendo recolher a mão. — Me perdoe Kallea!
— Pelo, o quê? — Ela pergunta, sorrindo de forma rápida e furiosa. — Por me prender? Por não confiar em mim? Devo te perdoar pelo o que elfo?

Kallea se move, ainda mais para longe do rei, ficando no meio da cama, seus olhos se enchem de lágrimas, mas não de tristeza, e sim de raiva e decepção, porém nenhuma cai de seus olhos.
— Meu amor... — Aragorn suspira, se sentindo a pior das criaturas, por ser mais uma vez o motivo de suas lágrimas. — Me perdoe por ser assim, por não suportar que a vejam com outros olhos, por não conseguir me controlar quando vejo outro macho ao seu lado que não seja eu.
— Acha que sou uma puta? Uma meretriz como aquela a qual se enfiava em meio as pernas, naquela taberna? Olhe para mim seu infeliz, eu era virgem... Acha que apenas por que perdi a minha virgindade, vou abrir minhas pernas para todos os homens que se aproximam de mim? — Ela aponta para si mesma. — Por que não confia em mim?
— Kallea... — Ele tenta toca-la, mas ela o rejeita.
— Não... Eu era livre Aragorn, podia treinar e viver entre um bando de machos e em nenhuma vez abri minhas pernas para eles e acha que agora vou? O que você pensa de mim? — Kallea desvia os olhos para a grande janela.
— Tenho medo que a tomem dos meus braços, que a tirem de mim, que a levem para longe e que outro possa te oferecer o que eu não posso... Eu não... Eu não consigo meu amor, não consigo ver você sorrindo para alguém que não seja eu, e eu sei que isso é doentio... Mas quando eu vejo, eu perco o controle, mas eu nunca vou te ferir, tocar em você de forma agressiva. — Aragorn respira fundo, ofegante e fecha os olhos, preocupado com a reação da mulher. — Me perdoe, por ser assim, louco e possessivo demais... O que quer que eu faça para mudar isso? Para que me perdoe?
— Me deixe ser livre para caminhar pelos corredores deste castelo, que eu treine normalmente como antes... — Ela pede limpando o rosto de forma brusca, o que é impedido pelas mãos ligeiras do rei. — Me solte.
— Só se parar de se machucar!
— É você quem me machuca com tanto ciúmes! — Ela faz um pequeno bico, que é beijado pelo elfo.
— Eu prometo que vou fazer o possível para me controlar bunny... Me diga o que tenho que fazer, e o farei minha coelhinha! — Kallea estira as pernas e encosta no encosto da cama, abraçando um travesseiro e suspirando profundamente.
— Quero que simplesmente me deixe fazer o que bem quero, eu não fui criada para ser uma princesinha, ao contrário da Rae, eu era uma guerreira, tá, tive mordomias, as mesmas que ela, mas antes de tudo, eu tinha obrigações, e não pense que vou levar uma vida de dondoca apenas lidando com os criados e preparando bailes, não vou Aragorn, deixe que sua mãe cuide disso, Lórien pode ser até tão ciumento quanto você, mas a loirinha é livre para saracotear pelo castelo, e nunca o vi esmurrar ninguém, e olha que a Raelene não tem o menor pudor em estar em meio aos outros, ao contrário de mim, eu sempre me mantenho quieta, Céus... — Kallea pende a cabeça para trás, e tenta recuperar o fôlego por ter dito tudo de uma só vez.
— Eu sinto muito. — A voz de Aragorn sai como um sussurro.
— E quer saber, não vou perder meu tempo com essa merda, cansei Aragorn, você não vai mudar, e eu não vou ser sua prisioneira. — Kallea se levanta da cama, notando que o elfo havia perdido o ritmo de sua própria respiração. Aragorn abre a boca levemente, e segura o braço da mulher que já estava de pé e se afastava da cama.
— Eu não posso perder você. — Os olhos do rei fitam o rosto da mulher ruiva, e dessa vez Kallea não demonstrava sentir nada, não sofria como da última vez em que ambos se separaram, não sofria como quando via sua pequena irmã passando por maus bocados, Kallea estava inexpressiva, decidida a sair dali e não voltar mais.
— Já chega Aragorn, você diz que sou sua mulher, sua rainha, mas acho que sou mais uma prisioneira, talvez seu belo troféu, de certo só se enfiou entre meio as minhas pernas por ter se sentido desafiado com a minha presença no seu reino. — A ruiva puxa o braço bruscamente, se separando do toque do elfo, esse que fica de pé, e volta a segura-la.
— Em nenhum momento eu deixei a entender que não a amo, Kallea você não nunca foi, e nunca será um troféu para mim, o que eu sinto é puro e verdadeiro, acredite em mim. — Os dedos do elfo não apertam o braço delicado da mulher, mas sua expressão lhe dizia muito, a fazendo erguer o queixo para ele, e tornar sua expressão mais áspera, o deixando ainda mais preocupado.
— No dia em que você souber diferenciar o fato de eu ser sua mulher, e não sua prisioneira, voltamos a conversar, ou quem sabe nem mais conversaremos, eu não sou um objeto seu, meu rei, que você pode colocar onde bem quiser. — Kallea se separa mais uma vez do aperto do rei, que estende a mão em direção a porta, e a tranca com magia. — Você nunca vai mudar não é mesmo? — Ela sorrir. — Tem sorte de eu não saber usar essa porra de magia que tem dentro de mim, e tem sorte de eu ama-lo da maneira a qual eu o amo. — A mulher junta seus fios ruivos, e os prende em uma coque mal feito, no alto de sua cabeça.
— Eu vou abrir a porta, assim que me escutar, eu amo você, e não vou aceitar que se separe de mim dessa maneira, se é o que tanto quer, pois bem, treine com os soldados, faça suas rondas pela floresta, continue seu trabalho com seus próprios soldados, eu a amo demais Kallea, para vê-la partindo por algo tão hostil de minha parte. — O elfo a puxa pela cintura, tocando sua mão livre no rosto delicado da mulher, a fazendo suspirar de maneira profunda e fechar os olhos.
— Até quando? — Ela pergunta, sabendo que o rei ciumento e possessivo não mudaria assim tão fácil.
A ruiva sente as mãos trêmulas do elfo contra seu rosto e cintura.
— Faça o que quiser Kallea, só não me deixe, não vou conseguir me controlar se tentar me deixar... Se quer treinar o faça, se quer ir em patrulha faça, se quer tomar as rédeas do treinamento dos guerreiros, eu permito... Até quando viver ao meu lado e para sempre enquanto estiver respirando! — Ele diz, deslizando seu dedo indicador sobre sua bochecha. — Por favor... Me perdoe meu amor, te prometo que vou me manter no controle e quando sentir esse sentimento possessivo, o manterei quieto!
— Aragorn... — Ela tenta se soltar.
— Meu amor, serei complacente, te juro em nome de qualquer merda de Deus que você quiser ou até mesmo um pacto de sangue se assim o quiser... — Sua voz soa desesperada, apertando sua mão contra a cintura fina da ruiva, a puxando ainda mais para si.
— Quero que me respeite!
— Eu o faço, deixarei que faça o que quiser, que use o que quiser e fale com quem quiser, mesmo que isso me mate, não direi nada, não serei contra aos seus ideais Kallea! — Seus dedos vão até os fios vermelhos, desfazendo o coque bagunçado da mulher. — Te deixarei livre, assim como amo vê-la com os fios vermelhos do seu cabelo, soltos... Só não me deixe! Prometo que vou me controlar, que vou me manter calmo e que não vou surtar ao vê-la ao lado daquele general ou de qualquer outro elfo ou macho, por que confio em minha mulher! — A ruiva eleva uma sobrancelha e solta a respiração de uma só vez.
— Tá, mas não continuarei aqui, já chega, estou cheia de ouvir boatos por aí, que sou sua concubina, acha que não vejo como os criados me olham? Eles não me respeitam como sua mulher, sua rainha, me vêem apenas como a humana ruiva, ou a puta que se deita com o rei. — Kallea se solta dos braços do rei, e volta a se sentar na cama.
— Se for esse o caso. — Aragorn se senta ao seu lado, segurando sua mão fria, e a levando até seus lábios, a beijando com delicadeza. — Eu já pedi isso antes, pedi para que se casasse comigo perante Eru, e você disse sobre seus pais, mas não estou disposto a esperar que o portal da Lua seja reconstruído, eu quero torna-la minha mulher, perante aos membros importantes de Gradara, perante ao ancião, e todos nesse castelo, você será coroada como minha rainha, e será respeitada como tal. — Aragorn suspira em alívio ao notar o rosto da mulher ruiva mudar sua expressão, Kallea parecia menos zangada, o que o fez semi ajoelhar em sua frente. — Se acha que estou fazendo pouco caso do nosso amor, saiba que não estou, nunca o farei, eu a amo com a alma Kallea, esse sentimento ao qual você fez desabrochar dentro de mim, prova para qualquer criatura existente, que não precisa da porra de um coração enfiado no peito para se amar alguém. — Kallea sorrir lindamente para o elfo semi ajoelhado em seus pés.
— Se deixar de ser insuportável, e possessivo, será perfeito, meu rei. — A ruiva toca o rosto do belo elfo a sua frente, esse que fecha os olhos e sorrir para ela, levando a mão até o bolso de sua calça negra, tirando uma caixinha delicada da mesma.
— Eu devia ter feito um anel para você, mas seu dedo anelar não caberia tantos anéis, pois logo o anel de nosso casamento estará em seu dedo. — Aragorn abre a caixinha, essa possuía uma corrente de ouro, com um pingente de trisquel, possuindo em sua ornamentação algumas folhas e ramos em formato de espiral, sendo composto por pedras negras nas pontas em espiral de cada lado da trisquel, e no meio da mesma, nas folhas delicadas belas esmeraldas, chamando ainda mais atenção para a jóia. — Você é a bela ninfa marcada pela trisquel, e não seria mais justo que eu fizesse uma jóia para demonstrar sua tamanha importância para mim, e para todos nesse reino. — Kallea inclina seu corpo e se deixa levar por aquele sentimento que a consumia, beijando os lábios do elfo, sendo retribuída com a mesma intensidade.

Além Da LuaWhere stories live. Discover now