Despertar dos Véus

Capitulo 67: Amaldiçoada

Após um período considerável cobrindo Mia com um abraço aconchegante, Matias respira profundamente e se levanta da cama em que os dois estavam. Mia o questiona para onde o mesmo irá e Matias apenas lhe diz que precisa respirar, ele a assegura de que não precisa se preocupar com nada e que estará junto a ela independente da situação. Ela reconhece que Matias já se esforçou bastante e assente com a cabeça, fazendo com que ele deixe o local e caminhe para fora da casa em que residiam.

Matias alcança a calçada da casa, o tempo havia passado e já se encontrava ao final da tarde. A luz laranja do por do sol cobria seu rosto cansado e deprimido, ele, lentamente, se senta a beira da calçada, de frente para uma rua vazia e silenciosa e se permitia, pela primeira vez, derrubar as lagrimas que havia guardado perante a morte de Lucas. Matias havia ocultado por muito tempo seus sentimentos, porém mesmo que agisse com frieza e estratégia, ainda era humano e sentia com força total a morte daquele que o considerava um pai.

Seus pensamentos fluíam e em sua mente, algo o incomodava mais do que qualquer outra coisa: O sentimento de culpa. Após acontecimentos passados, a ira de Alex e o perigo em que Mia se encontrava a partir do momento que passou a acompanha-lo em sua jornada, o fazia sentir culpa de todo o mal que rondava aqueles que cofiaram nele. Ele sabia que algo precisava ser feito para que a situação mudasse, mas tinha conhecimento que independente de qualquer coisa, Mia nem Alex seriam os mesmos de antes. Matias sentia culpa por tudo, mas agia com o máximo de frieza e estratégia, afinal, ele foi e dentro dele, sempre será, um membro do grupo origem.

O nome do grupo caia como uma luva perfurante em meio a seus pensamentos, ele tinha para si que seu momento de fraqueza, ao se permitir utilizar suas habilidades para salvar Rafael na batalha contra Hannah, fazendo com que o grupo se desfizesse, foi a "origem" de tudo, de todo o mal e sofrimento. Ter se permitido chorar e sentir a dor, o fez abraçar a compaixão e carinho de Mia, a levando para o meio do furacão em que se encontravam, junto de Lucas. Mesmo em meio a pensamentos tão negativos, Matias ainda cultivava uma esperança, Mia havia sobrevivido e ele precisava que aquela onda de terror terminasse para que pudesse livra-la do problema, ele se sentia responsável pela integridade de Mia.

Enquanto isso, Mia permanecia deitada se martirizando pelos acontecimentos que ocorreram, uma dor de cabeça poderosa a incomodava ainda mais. Ela então decide tomar a decisão de ir ao banheiro daquela casa para jogar uma água no rosto. Era estranho para ela sentir dor de cabeça, afinal, a energia que fluía pelo corpo dela deveria ser o suficiente para que ela não precisasse se importar com dores e problemas tão simples e humanos. De qualquer forma, ela segue mesmo assim, se levantando com delicadeza a procura do banheiro.

A dor e os seus pensamentos a fizeram deixar de notar e sentir alguém que a observava pela janela, uma figura que moldava a realidade e vivia em prol de sua própria vida, Hendry a encarava de longe, com uma feição diferente, ele a observava como se estivesse fazendo uma análise meticulosa, como se olhasse para Lidia. Mia encontra o banheiro e se posiciona em frente a pia, ela abaixa a sua cabeça e joga água em seu rosto, lhe dando um alivio momentâneo. Porém ao levantar a cabeça de volta, no espelho em que deveria refletir o reflexo de seu rosto, algo totalmente assustador é enxergado. O reflexo não é de Mia, mas de alguém mais aterrorizante, alguém que lhe feria profundamente. O espelho refletia Demétrio.

Mia se assusta totalmente com o que via, ela, como reação, dá vários passos para trás e o fluxo de sua respiração aumenta drasticamente, evidenciando seu medo e desespero. Ela tenta piscar, coçar e fechar os olhos, mas Demétrio permanecia lá a observando com um olhar cínico e com uma expressão fria. Mia fechava seus olhos e colocava suas mãos em sua cabeça, repetindo a mesma frase diversas vezes: "Você não é real, você está morto, você não é real..."