Capítulo 44

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Os dias passaram e tornaram-se semanas, e as semanas tornaram-se meses. Melina sustentava sua imensa barriga de 8 meses enquanto ainda ajudava Amani nos afazeres da Tenda. Recusava-se a ficar deitada dentro de sua cabana como todos a induziram, sentia-se mais ansiosa lá. As coisas na aldeia funcionavam perfeitamente bem, alguns dias depois de findarem a vida do traidor Kenai, Porã armou uma busca em volta das terras da aldeia para ver se encontrariam os poucos lobisomens que restaram, mas não havia sinal deles por perto. Não querendo arriscar levar seus guerreiros a uma empreitada muito distante de sua área, Porã deu-se por satisfeito, mas não fraquejaram a patrulha de segurança. Ficariam sempre alerta.

Todos retomaram sua rotina e vida em paz, aproveitando cada momento ao lado dos seus. Melina sentia-se maravilhosa e pesadamente grande com seu menino, Calian no ventre. Amani havia afirmado aos dois que seria um menino, o sucessor e protetor de sua tribo. Eles não podiam duvidar, a velha senhora era sabiamente instruída por forças da natureza que eles não tinham total compreensão. Acabou-se tornando rotina para Melina passar uma tarde ao lado de suas amigas em sua antiga cabana. Com Porã agindo com Alfa, tinha muitas responsabilidades durante o dia, mas sempre conseguia dar uma escapulida para dar uma olhada nela e bater um papo 'de homem' como dizia com Calian em sua barriga. Ela adorava todos esses momentos.

Melina bebericava alegremente seu chá enquanto ouviam algumas histórias que Inâe contava-lhes. Todas as quatros estavam sentadas à mesa na cozinha, de repente ela sentiu algo escorrendo por suas pernas. Abaixou os olhos para vê e alarmou-se com uma poça formada aos seus pés, sua bolsa, sua bolsa havia estourado.

— O que houve Melina? seu rosto empalideceu do nada.

Iándara perguntou-a preocupação, consequentemente, chamando a atenção das outras.

— A minha bolsa estourou, Acho que chegou a hora de Calian vir ao mundo!

Disse-lhes ela nervosa e ao mesmo tempo feliz. Tudo depois disso tornou-se um borrão. As meninas todas desesperaram-se, duas ajudaram-na a ir para a cama de seu antigo quarto, a outra foi em busca de Porã e Amani.

Melina arfava e resmungava de dor quando Amani entrou pela porta. A velha a carregar uma cesta com vários utensílios, logo atrás veio Jenáh com uma bacia do que parecia ser água morna e uma toalha em seus braços. A dor pareceu dobrar-se de intensidade, ela já não se importava mais em aplacar seus gemidos. Enquanto suava e respirava fundo perguntou-lhes.

— Onde está o Porã? Eu preciso dele ao meu lado.

— Estou aqui amor, desculpe-me a demora. Corri o
mais rápido que puder.

Respondeu-lhe ele consequentemente entrando no quarto e ajoelhando-se ao seu lado, apertou-lhe a mão. Ela respirou profundamente um pouco mais aliviada por tê-lo, com ela. Amani rasgou-lhe o vestido que usava e lhe deu um pequeno graveto para morder dizendo-lhe.

— Agora Querida, precisamos que faça força sim? Ele não poderá sair sozinho, vamos lá. Contarei até três e no último você força!

Melina sacudiu a cabeça em concordância, as contrações pareciam querer parti-la ao meio.

— Então vamos lá, 1,2,3 empurra!

— ARRRGH!

Melina empurrou com toda força possível. Mas ainda sim nada. Ela havia perdido a noção das horas que ainda estava em trabalho de parto, e consequentemente perdia as forças também, sentia-se exaurida. Estava começando a preocupar-se com a demora para seu filho finalmente sair.

— Vamos minha menina, você consegue. Precisa usar toda sua força agora ou prejudicará Calian.

Ela ouviu enquanto Amani toca-lhe a testa.

— Olhe para mim amor, concentre-se em nosso laço e tente usar de minha força também ok? Você pode fazer isso por nós?

— Ook, eu consigo!

Disse ela a Porã e a Amani, concentrou-se totalmente nos olhos dele e depois disso forçou, tentando buscar entre o laço de pares deles a força necessária para trazer logo seu filho para seus braços.

— Aaargh, vem filho por favor!

Clamou ela em voz alta fazendo força total. O pequeno Calian pareceu ouvi-la, pois no momento seguinte sentiu-o saindo e um choro grave e forte de bebê circulou pelo quarto. Ela sorriu suspirando aliviada. Viu Amani pegando no colo e limpando-o na bacia de água. Depois enrolou-o e ficou-lhe a testa com um beijinho pronunciando palavras que ninguém pareceu entender, mas Melina sabia que o estava abençoando. Ela aproximou-se e deu-o em seus braços. Melina suspirou admirada com tamanha beleza e fofura concentradas em um pequeno ser humaninho daqueles, acariciou-lhe os olhos e a boquinha. Ele pareceu reconhecê-la pois acalmou-se de imediato. Ela sorriu e olhou para Porã. Surpreendeu-se quando viu uma lágrima cair dos olhos do índio, não o viu chorar nem na morte de seu pai.

Porã aproximou-se com tamanho cuidado e deu um beijo na testa de sua forte parceira e acariciou a cabecinha de seu filho. Ele era a coisa mais linda que já vira na vida depois de Melina, estava tão feliz. Ela havia lhe dado o melhor presente da vida.

— Ele é perfeito amor, tão lindo quanto você.

— E puxou seus perfeitos olhos, ele com certeza nos dará trabalho.

Respondeu ela sorrindo para o bebê que ninava em seus braços.

— Está na hora Alfa, de apresentar seu sucessor ao seu povo e a esta Terra, para que todos saibam que veio forte e abençoado.

Porã acenou em concordância para a fala de Amani, e então Melina deu-lhe Calian, ajeitando-o em seu braços. Caminhou pelo quarto com o entendimento de que tinha tudo que jamais imaginou, mas que não havia possibilidade de viver sem.

A Batalha dos Lobos Where stories live. Discover now