Capítulo 15

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Porã já estava acostumado com o festival de Mooji, acontecia desde que se entendia por gente. Eles formalizaram um ritual de adoração ao ser que os abençoava com uma terra próspera e mágica. Ele estava parado do outro lado da fogueira com Raoni, Koda e Cauí, eles conversavam animadamente relaxados enquanto Porã só observava os arredores. De repente sentiu um esbarrão em seu ombro e olhou para Raoni que sorria enviesado.

– Relaxe cara, hoje é dia de lazer. Vê se larga um pouco essa postura de "O grande e perfeito líder" e curta o momento.

– Eu estou curtindo Raoni, à minha maneira. Não preciso embebedar-me como vocês, seus cachaceiros.

– Pêra lá, eu não sou um cachaceiro, apenas apreciador.

Intrometeu-se Cauí na conversa deles, fazendo todos rirem e seguirem normalmente a conversa.

Antes que pudesse entrar no assunto, a atenção de Porã foi desviada para quatro índias que chegavam ao campo para aproveitar o Mooji. Ele surpreendeu-se ao reparar bem, que uma delas não era Índia de sua tribo e sim a Humana, Melina, que estava vestida como ditavam os costumes indígenas de seu povo. Ele ficou abismado com tamanha beleza dela aquela noite, não que naturalmente não fosse bonita. Ele tinha que admitir mesmo não confiando nela, desde o dia que a resgatou mesmo suja, deu-se conta de o quanto era linda. Os cabelos e os seus olhos a diferenciava das índias de sua aldeia. Ele dispersou-se dela com a movimentação a sua volta momentaneamente, e quando a vilumbrou de nova pegou-a o encarando. Ele viu a suspresa e algo mais estampado em seus olhos, ele continuou a encarando e percebeu a avaliação dela sobre seu corpo e seu rosto. Algo sobre a forma como ela o olhava, fez os pelos de seus braços arrepiarem-se.

Estava começando a estranhar todas as sensações que parecia ter, sempre que estava na presença dela. Antes que chegasse a qualquer conclusão, o contato visual foi interrompido quando as meninas a levaram para o centro onde havia uma roda de aldeões dançando. Ele observou com grande atenção como ela parecia tímida e envergonhada tentando acertar os passos de uma dança que desconhecia, e mais uma vez para surpresa dele, ela pegou rapidamente. O movimento dos braços ao redor do corpo, e o balançar de sua cintura, o estava deixando tonto e petrificado. Antes que continuasse com sua avaliação ouviu mais uma vez a voz debochada e irritante de seu melhor amigo.

– Hora se não o pego mais uma vez observando a humana. Agora vai me dizer que apreciá-la dançando faz parte das ordens de vigia-la?

— É claro que não, então tem só ela ali no meio. Há várias índias de nossa tribo.

–Então você não nega que não só a estava apreciando, como as outras também?

– Você não tem mais o que fazer ao invés de me azucrinar Raoni?

O amigo gargalhou com sua resposta, mas logo se interrompeu assim que avistou algo que o desagradou.

– Há pronto, acabou nossa paz. Prepare-se pois lá vem bomba.

Porã olhou na mesma direção em que Raoni, para entender o que o amigo dizia e logo soltou um suspiro de impaciência. Arauanã Kitê aproximou-se rapidamente dele, não dando-lhe espaço para escapar.

– Olá querido, tá gostando da noite?

Disse ela passando a mão arrastada mente por seu peito. Antes que pudesse dizer algo, foi Raoni quem respondeu-a.

– Estávamos muito bem até você se aproximar. – Eu não falei com você seu pulguento.

– Parem já vocês dois, e estou bem obrigada Aruanã.
Disse Porã os interrompendo antes que a discussão tomasse outro rumo.

Raoni nunca gostou de Aruanã, piorou depois que ele teve um breve namoro com a Índia, e a mulher tentou afasta-los com a intenção de criar uma rivalidade na amizade deles. Mas como os dois se conheciam como ninguém, as táticas dela não funcionaram. Aruanã era uma Índia mimada, e pretendida. Achava que poderia ter qualquer aos seus pés, mas Porã deu-lhe um fora assim que percebeu que ela não valia a pena. Porém a garota não parecia cair na real, pois sempre que tinha oportunidades vivia atrás dele.

– O que acha de ir dançar comigo?

Perguntou ela ainda passando a mão por seu peito de forma manhosa.

– Aruanã já resolvemos isso a muito tempo, e eu te disse bem explicado. Não haverá mais nada entre nós, chame outro índio para dançar, tem muito que aceitariam com certeza.

Disse-lhe ele tirando a mão dela de cima de si. A mulher avermelhou-se nervosa com o fora dele.

– Ok, mas ainda o verei implorando-me para voltar. E eu estarei pronta para você, Porã Olcan.
Dito isso ela virou as costas e foi para o centro onde estavam as danças. Ele bufou aliviado, e escutou as risadinhas de seus companheiros.

O festejo seguiu normalmente depois disso, fizeram as honras as bênçãos e seguiram dançando, bebendo e conversando. E não perceberam o perigo que os espreitava em meio as redondezas da floresta banhada a escuridão.

Ele foi o primeiro a sentir o perigo rastejando por sua pele, os cabelos de sua nuca eriçarem-se e ele ficou em alerta, observando ao redor. Foi quando tudo mudou rapidamente. Em questão de segundos instalou-se o caos em meio ao campo. Os lobisomens começaram a surgir de algumas trilhas e de trás de alguns pinheiros, ensandecidos em busca de sangue. Porã rugiu gritando por seus guerreiros, os que estavam mais sã mentalmente transformaram-se assim como Porã, já os outros permaneceram para lutar em forma de homem mesmo. O enorme lobo negro de Porã corria com toda velocidade abocanhando a primeira besta que encontrou, sem grandes dificuldades dizimou-o em estantes. Alguns deles eram mais fáceis de se destruir do que outros, com a falta de sangue e a fome cegando-os, ficavam enfraquecidos.

Em determinado momento em meio à luta, seu Lobo pareceu entrar em síncope farejando um cheiro característico, que não lhe era estranho. Era uma mistura de terracota e sangue fresco, ele só sentiu esse cheiro característico poucas vezes, e a primeira vez foi em um resgate em meio a floresta. Só podia ser ela, a humana. Alarmado, seu Lobo correu os olhos por todos os lados, finalmente encontrando-a próxima a mesa de bebidas.

Melina arrastava-se de lado no chão, puxando consigo uma jovem ferida ao seu colo. Mas antes que conseguisse encontrar um refúgio, foram interceptadas por um Lobisomem que avançava com rapidez para cima delas. Porã correu velozmente na intenção de impedir o ataque, chegou no momento em que a besta deferia suas garras em cima da pequena Índia sangrando entre as pernas da humana, mas o Terenis foi impedido de acertar a jovem menina pelo braço de Melina, que interceptou o seu ataque protegendo a índia com os braços entre os dois. A garota gritou com a dor das garras rasgando sua pele. O Porã enraivecido avançou com ferocidade para o lobisomem, eles entraram em uma luta árdua. Essa fera tinha um tamanho duas vezes maior que o anterior, e possui mais resistência, não seria tão fácil exterminá-la.

A Batalha dos Lobos Where stories live. Discover now