Capítulo 40

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Já estavam todos e tudo pronto na arena, Porã fora diretamente para o centro onde Amani e Aquira aguardavam. Dessa vez seria diferente, as pinturas e alguns símbolos significativos seriam feitos somente no rosto e na altura dos olhos. Terminado os desenhos, Porã avistou Cobí aproximando-se, era incrível como ele sempre chegava silenciosamente. O homem sorria de orelha a orelha, talvez contando com a vitória certa. Ele aproximou-se mas descartou desdenhosamente as pinturas de costume de seu povo, isso não foi bem visto em meio aos aldeões. Mas o Parî não parecia importa-se com a opinião de ninguém além de si mesmo. Aquira centralizou-os em meio a arena e discursou a frase de iniciação à Luta.

— Que sejam fortes, que a luta seja limpa e honesta. E que a Terra abençoe e julgue o merecedor que permanecer de pé ao final!

Ela afastou-se e os dois começaram a rondar-se. Porã avaliava seu oponente, quando o Parî deu o primeiro passo avançando com um soco, que ele rapidamente desviou-se. Porã conseguiu notar a
ansiedade nos olhos do homem, ele poderia ter planejado aquilo por anos a fim, mas o prazer da vingança cegava-o. No início a luta foi apenas velada por tentativas de golpes fracassados de ambos os lados, até que em um momento de desleixo Cobí conseguiu acertar um forte chute no esôfago do jovem índio fazendo-o arfar por oxigênio. O homem aproveitou seu momento de acerto e partiu para cima, mas Porã não sofreria tão fácil assim, ele recuperou-se rapidamente devolvendo-lhe com um soco de esquerda que o acertou em cheio próximo aos olhos, abrindo-lhe o supercílio.

Melina suspirou aliviada. Parecia ter sentido em si mesma aquele chute. Cobí sentiu o filete de sangue escorrendo por seu rosto, aquilo deixou-o extremamente irritado, fazendo perder a paciência partindo de vez para cima do jovem à sua frente. Porã percebeu a instabilidade de seu oponente e apenas recebeu com a guarda sólida toda a sequência de golpes que o homem deferia-lhe. Eram golpes realmente fortes de acordo com o homem de sua estrutura, mas não era só força que o faria ganhar uma luta. Faltou-lhe perspicácia, e isso Porã tinha de sobra, então deixou o homem desferir-lhe todos os golpes que conseguisse, mesmo que fosse doloroso não revidar em sequência. Eles passaram uns bons minutos nesse jogo de Parî bate, e Olcan bloquea, e desvia. O homem achou graça e cantou-lhe piadas por não estar revidando.

— O que há jovem Olcan? Não tem a força que lhe é esperada? Parece-me que julguei elevadamente sua capacidade. Não consegue revidar-me um só golpe!
O homem sorria e vangloriava-se, enquanto Porã mantinha-se calado concentrado. E o que lhe deu o sinal de estar no caminho certo fora a forma pausada e arfante em que Cobí falava.

Havia chegado o momento, a hora de vingar seu pai e findar aquele desejo de vingança inútil contra seu povo. Em uma passada de perna, Porã desferiu-lhe dois socos, certeiramente jogando com força para trás. Cobí cuspiu sangue surpreso com os golpes repentinos voltando-se à postura, tentou uma cotovelada mas foi bloqueado e preso a uma chave de braço. Porã manteve a pressão mas não há ponto de matá-lo, queria que tudo ocorresse da forma como planejará. O homem debatia-se, em dado momento parecendo não aguentar soltar-se mais, Porã viu quando ele levantou as mãos no que parecia ser um sinal estranho. E de repente o clima mudou.

Ao sinal de mãos estranho de Cobí Parî, Porã e toda aldeia ouviram um som alto e agudo parecendo rugir de dentro da floresta. Esse som não lhe eram estranho, mas antes que concluísse quando o ouvira da primeira vez, a aldeia rapidamente foi tomada por um grupo de lobisomens. Os aldeões ficaram desesperados pois foram cercados dentro do campo, sem saber o que fazer ou como reagir. Cobí pareceu tossir um sorriso, e Porã soltou momentaneamente. O homem massageou o pescoço e sorriu se virando para ele com confiança, e dizendo a Porã.

— Achou mesmo que eu deixaria você me vencer? Eu não esperei por décadas atoa, e com certeza não sou do tipo que joga limpo quando quer algo. Renda-se ou verá sua parceira e sua aldeia morrendo antes que eu ordene que seja sua vez.

Porã endureceu a postura não cedendo à chantagem suja do homem e retrucou-lhe.

— Engana-se você, se achou que eu não estaria preparado para tudo. Posso ser jovem, mas não tolo.

E então ele soltou um rugido que pode ser ouvido aos quatro cantos daquela aldeia. A ação seguida ao seu rugido deixou Cobî estarrecido, flechas e lanças zuniram em meio aos pinheiros acertando cada um dos lobisomens em sequência parados ameaçando os índios que assistiam a luta. As poucas bestas que conseguiram desviar-se foram prontamente mortas pelos guerreiros que agiram rapidamente em sequência ali mesmo no campo.

Porã sabia que ainda poderiam haver outros lobisomens fora de seu território, mas lidaria com eles depois. Antes que Cobí pudesse reagir a sua surpresa, Porã deu-lhe uma rasteira fazendo cair com tudo no chão. Ele pareceu tonteado, mas ainda conseguiu levantar-se. Então sem muitas delongas, Porã o derrubou novamente e deu-lhe outra chave de braço muito mais potente. A pele do homem foi arroxeando-se e quando ele parecia estar por um fio, Porã afrouxou levemente e perguntou-lhe.

— Faça pelo menos uma vez em sua vida algo útil e honroso em respeito a sua mãe que morreu vítima de uma traição. Diga-me quem o ajudou ?
O homem soprou, e cuspiu sangue mas nada saiu. –Vamos Cobí, diga-me!

O homem viu-se sem saída e sem forças, então suas últimas palavras foram dois nomes bem conhecidos. Soprados em um sussurro.

— Quill e Kenai Sotê.

Porã não perdeu mais tempo, torceu-lhe o pescoço findando anos de uma vida refeita de ódio e rancor. Mesmo Porã tendo sentido raiva pela morte de seu pai, desejava que Cobí Parî finalmente encontrasse descanso. Ele iniciou a vida como vítima, mas decidiu tomar o pior caminho para seguir.

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