Capítulo 21

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Porã sentia-se incomodado com a forma pela qual Aruanã estava lidando com Melina. A índia impertinente que um dia julgou ser uma boa parceira estava jogando sujo com tais insultos. Ele gostava de uma luta limpa e digna entre os oponentes, mesmo que ela não descendesse de seu povo merecia respeito na arena. Por mais irritado que estivesse ficando, não poderia interferir porque estavam lutando igualmente a todos os outros participantes. Também não entendia o porquê de pensar em interferir, a humana não significava nada para ele, não é mesmo? Ela era uma humana traiçoeira, não deveria ao menos dedicar-lhe qualquer atenção. Pensou consigo, mas seu lobo sentiu algo nele e pareceu zombar de suas mentiras, que não convenciam nem a si mesmo. Seu lobo nunca pareceu tão ativo em si, quanto agora.

Principalmente nas vezes que tocava ou pensava em Melina, ele não sabia como reagir a isso. Achou que talvez fosse bom liberar seu lobo um pouco, muito tempo sem dar uma volta pela floresta poderia estar lhe causando essas estranhezas. Sim, era isso que precisava fazer. Ele saiu de seus devaneios no momento em que avistou a queda abrupta de Melina ao chão, ela pareceu desnorteia-se com pancada e não preparou-se para receber a torrente de golpes de Aruanã. Porã percebeu que a jovem sangrava e sentiu-se tremer por dentro. Achou que já havia visto o suficiente então ordenou.

— Basta! Está bom por hora. Você venceu Aruanã.

Mas a Índia pareceu não dar-lhe ouvidos e continuou socando o rosto de Melina. Então ele irritou-se profundamente e se aproximou segurando o pulso da Índia dizendo novamente.

— Eu disse BASTA guerreira. Em qual parte de minha ordem sentiu dificuldade em seguir?
Ela pareceu surpresa com o toque dele e tentou desviar-se de sua indulgência.

— Mas, Porã ainda não terminei. Todos terminaram certamente sua luta. Veja que ela está bem.

Porã olhou para o rosto de Melina, com a boca sangrando e a bochecha parecendo inchar-se, ele

viu a vergonha crescente na face da jovem tomar seu rosto.

— Para você é somente Líder guerreira, agora levante-se já e retorne ao seu lugar no banco. E eu não repetirei minha ordem dessa vez Aruanã!
Ele foi incisivo.

A Índia endureceu sua postura e levantou-se a contragosto, jogando um olhar de puro desgosto a Melina. Porã agachou-se ao lado da jovem humana e a ajudou a levantar-se. No início ela pareceu normalmente bem, mas segundos após ele estabiliza-lá de pé, seu corpo pareceu perder as forças e ela já iria novamente ao chão.

— Melina, o que foi? Sente-se realmente bem? Ouvia respondê-lo fracamente.

— Sim, estou bem líder. Já pode me largar por favor!
Ele sentiu-se contrariado ao fazer o que lhe pediu, mas respeitou-a. Porém assim que largou, seu corpo novamente bambeou, então ele tomou as rédeas da situação.

— Treino encerrado por hoje, estão liberados para seguirem com sua tarde!

Dito isso, pegou-a no colo ouvindo suas reclamações enquanto a levava para Amani.

— Porã, pare por favor. Estão todos nos encarando, o que vão imaginar de nós? Eu posso andar, já disse que estou bem.

— E eu digo que não está. Não consegue ao menos manter-se firme de pé. E eu não dou a mínima para o que vão pensar de nós!

Ela pareceu entender que não teria outra opção e apenas suspirou parecendo contrariada. Assim que saiam da arena ele ainda conseguiu avistar Raoni e o questionamento sobre suas atitudes vibrando nos olhos de seu melhor amigo. Lidaria com ele depois, pensou. Chegando a tenda de Amani, a velha senhora questionou Melina sobre o ocorrido enquanto tratava de seu corte. Porã decidiu deixá-las a sós e saiu sem ser notado, mas antes que pudesse virar a esquina ouviu Melina chamando seu nome.
Ele se virou e a viu correndo em sua direção, estava com um curativo próximo aos lábios, e parecia ter um unguento em uma de suas bochechas. Mesmo com as marcas no rosto, ela continuava linda, percebeu-se divagando sobre a aparência dela e sacudiu a cabeça como se estivesse louco. Ela parou encarando-o, parecia aborrecida.

– Você pode, por favor, parar de agir como um tolo grosseiro!

– Como ousa me chamar de grosseiro mesmo depois de eu ter acabado de te ajudar?

– Porque é isso que você é. Estou grata pela sua ajuda, tanto nessa quanto na outra situação. Você saberia se não me virasse as costas em todas as oportunidades que tem. O que eu fiz de errado para não gostar de mim?

–Em momento algum eu disse que não gostava de você.

– Não são preciso palavras, quando se tem ações muito claras de sua parte.

–Isso é uma conclusão sua, agora se já terminou, tenho coisas mais importantes a fazer.

Ela pareceu avermelhar-se em constrangimento ou raiva, ele já não saberia dizer. Então arrependeu-se do modo como suas palavras soaram e quando ia reformular sua frase, ela falou primeiro.

– Com toda certeza tem, mas então vou esclarecer as coisas para que não perca mais seu importantíssimo tempo comigo. Obrigada por toda sua ajuda até agora, e não precisa mais se incomodar em me socorrer novamente, pois eu sempre soube me cuidar sozinha. Não será a primeira e nem a última vez. E toda vez em que estiver em um ambiente, me manterei tão afastada que nem se lembrará de minha existência, essa será a última vez que lhe direcionarei um olhar sequer.

Melina pronunciou todas estas palavras com uma postura inacreditável, ele ficou perplexo com a força e determinação que viu em seus olhos e sentiu em suas palavras, mesmo que elas o tivessem deixado nervoso.

Depois de praticamente estapeá-lo sem chegar a tocar sua pele de fato, ela se virou e marchou orgulhosamente de volta para a tenda, o deixando prostrado e estarrecido do lado de fora.
Ele decidiu seguir caminho para sua cabana, ao chegar lá deu de cara com Raoni o aguardando na porta. Porã estava muito chateado para conversar naquele momento, mas se dispensasse seu amigo, Raoni seria capaz de desfazer a amizade. Então apenas abriu a porta e o deixou entrar a seguir.

– Porã, dá para você me contar o que está acontecendo?

– Não sei do que está falando.

– Qual é cara, nós somos amigos. Te conheço melhor que qualquer um aqui, você tem agido estranho desde que encontramos a humana na floresta.

– Lá vem você com essa sua história fanática envolvendo Melina.

– Há agora ela é Melina para você? Não sou eu o fanático que ultimamente parece estar sempre disposto a salva-la de algo!

– Raoni tire as conclusões precipitadas da sua cabeça cara. Eu ajudaria qualquer um em risco, mesmo sendo a humana, ela é uma pessoa não é mesmo? Não bole coisas em sua mente doida.

– Ok, eu paro. Mas só porque vou estar no aguardo, para quando você vier me contar que suas conclusões mudaram.

– Não vou entrar nessa onda contigo. Você está precisando encontrar logo a sua parceira amigo, sua cabeça está sendo afetada pela demora Raoni.

– Vai se ferrar Porã, nós temos a mesma idade. Se estou atrasado para encontrar a minha, você também está. Já se passaram dois anos desde que completamos a maioridade e nada.

Porã aproveitou-se da mudança de assunto para que ele esquecesse do que o próprio não queria pensar.

–Realmente. Mas não podemos focar nisso agora, é certo que teremos nossas Parceiras de Laço. Elas chegaram no momento apropriado, agora precisamos focar nos ataques que estamos sofrendo.

Dito isso eles seguiram com outros assuntos até que Raoni cansou e despediu-se indo embora. Porã banhou-se e deitou, pensando em tudo que fora conversado entre ele e Melina, e Raoni. Ele realmente precisava admitir sua confusão de sentimentos, tendo isso como um fato aceito, decidiu que iria buscar solucionar esta interação caótica com a garota dos cachos.

A Batalha dos Lobos Where stories live. Discover now