A Batalha dos Lobos

Capítulo 18

Após a grande confusão da noite passada, Porã não teve muito tempo para pensar em suas últimas atitudes, pois precisou dar atenção às urgências da tribo. Seu pai havia convocado uma reunião de última hora, e ordenou que todo o conselho estivesse presente, incluindo ele. Estava a caminho da cabana de reuniões quando avistou Melina, indo em frente na sua direção. Porã vinha evitando suas próprias conclusões com relação a sua interação com a humana desde o ataque, ele não entendia os próprios sentimentos estranhos que estava sentindo, então optou por ignorar eles e a ela temporariamente. Depois que resolvessem os problemas da aldeia ele tiraria um tempo para pensar sobre tudo.

Então foi o que fez no momento em que a viu mais próxima. Ela parecia estar pronta para dizer-lhe algo, mas antes que pudesse ele passou direto ignorando sua presença. A atitude não o fez sentir-se bem, mas por hora teria que ser assim. Quando finalmente chegou a grande sala, todos já estavam reunidos em um grande burburinho. O Alfa Johan, estava sentado muito sério observando todo o alvoroço dos anciões, ele detestava falhar em algo, e principalmente perder em um embate. As baixas na sua tribo haviam sido razoáveis, mas nunca era bom perder um ente querido e um guerreiro. Antes que Porã pudesse se pronunciar, ouviu a ordem de seu pai.

– Calem-se! Precisamos agir com coerência agora. Líder preciso que me dê uma visão detalhada do ataque anterior, quero saber cada mínimo detalhe que você ou seus guerreiros conseguiram capturar.

–Inicialmente não foi nada anormal no ataque dos Terenis. Como sempre estavam em busca de sangue e apropriação territorial.

Os anciões e o Alfa concordaram com o ponto de vista de Porã. Então ele deu continuidade.

– O que me chamou a atenção, foi o fato de ser um grupo maior e metade deles parecem bem visualmente. Claro que ainda tinham alguns fracos e com corpos mais magros, porém a grande maioria parecia bem estável. Não foram tão fáceis de se abater.

–Sim foi o que também reparei. Pode ser que tenham encontrado uma forma de se alimentarem melhor.

Respondeu-lhe o Alfa, concordando com ele. Rudá um dos velhos anciões entrou na conversa.

– Mas do que, e onde podem estar se alimentando? As terras deles estão escassas e precárias, como foram amaldiçoados não é possível que consigam colher algo de lá.

–E se estiverem buscando por algo mais próximo ao povoado Humano? Quando encontramos Melina, ela estava sendo atacada por um deles. O local era bem mais afastado da terra deles, e não tão próximos às nossas!

– Você está falando da humana que vive conosco? Pode ser algo a se considerar, mas ainda há muitas possibilidades a serem estudadas.

Respondeu ancião Jotá à conclusão de Porã. O Alfa Johan avaliou todas as opiniões e chegou em parte a uma conclusão.

–Por hora o melhor a fazermos será reforçar a segurança ao redor de nosso território. Fazia algum tempo que eles não atacavam, se retornaram dessa forma agora, com certeza voltaram com mais frequência. Precisamos estar prontos. E por fim, iremos avaliando as opções que temos.

Todos concordaram aquiescendo, e o Alfa despachou Porã para voltar aos seus afazeres. Mas antes que o índio saísse, ouviu seu pai lhe dizer.

–E Porã, a partir de agora a humana treinará junto a todos os guerreiros. Fiquei sabendo que ela protegeu um dos nossos, mesmo não tendo experiência para protegê-se. Lhe daremos um voto de confiança, já que ela está fazendo parte de nossa tribo, precisará lutar conosco.

Porã apertou o maxilar em aborrecimento, mas acenou aceitando a ordem do Alfa, sendo assim saiu rápido da cabana. Ele ia a caminho da arena com o humor modificado, não estava acreditando que depois de ter decidido ignorar tudo com relação aquela garota, agora teria de conviver mais ao seu lado. Assim que chegou a arena avistou Koda, e cauí.

– Que cara é essa Líder? Parece que comeu um broto podre.

– Nada que seja da sua conta enxerida.

Respondeu ele arrogantemente a Koda.

–Ihh, já vi que o treino hoje será massante.

Moda concordou com a fala de Cauí. Porã não lhes deu mais confiança e seguiu para preparar o treino enquanto o restante do grupo não chegava.
Assim que todos se portaram para lhe ouvir, ele decidiu informar logo ao grupo de que Melina entraria para a rotina de treinos, e propositalmente para que as três índias que vivia com ela a avisasse, para que ele não precisasse ficar a sós com a garota.