Capítulo 22

239 25 0
                                    

Naquela noite, Melina chegou extremamente estressada em sua cabana. Inventou uma desculpa temporária, para não encarar os questionamentos das meninas sobre o acontecido daquela tarde, tomou um banho rápido e trancou-se no quarto. Não conseguindo dormir, andava de um lado para o outro conversando consigo mesma em voz alta.

–Como pode? como pode existir um cara tão insuportavelmente arrogante como aquele índio?
– E porque eu venho me importando tanto com tudo que ele faz?
–Talvez seja por ele ter parecido tão preocupado comigo nos dois últimos momentos!
– Ora Melina, pare já com isso. Ele não fez nada demais. Ajudaria qualquer uma que estivesse em seu lugar, até mesmo a bruxa da Aruanã.
– É isso, não era nada mais que o normal. Ele era um babaca, mas não era uma pessoa ruim de coração. Era óbvio que ajudaria.

Ela concluiu sua conversa aleatória querendo evitar os sentimentos já despertos por aquele rapaz. Alguns eram desconhecidos e novos para ela, outros haviam ficado adormecidos por tanto tempo que ela já não saberia nomear as sensações. Mas decidiu que o melhor era ignorá-lo, e afastar-se o máximo possível. Ele era filho do Alfa da aldeia, e fora que foi ou ainda era envolvido com Aruanã. Não sabia nomear o que eles tinham ou tiveram, mas era nítido os sentimentos dela e todas as vezes que ela buscava a atenção dele.

Era isso, depois de colocar cada pensamento em seu devido lugar, foi que ela relaxou e deixou-se dormir.
O dia amanheceu lindo, sem uma nuvem sequer cobrindo o sol quente envolta de toda a tribo Aikaranis. Melina retomou com normalidade sua rotina do dia, começando com os afazeres na tenda. Amani havia pedido para que ela regasse diariamente as plantações ao lado da tenda. Ali tinham diversos tipos de plantas, flores, brotos e sementes. Havia uma em específico que lhe chamou muita atenção por suas características, ela era alta repleta de espinhos em seu caule, as folhas que subiamserpenteando-aeramumamisturade tons entre amarelo e roxo, e bem ao centro tinha uma rosa branca desabrochando. Ela ficou uns minutos apreciando a beleza do jardim, e então retornou para dentro para se refrescar. Assim que entrou decidiu questionar Amani sobre a flor diferenciada.

–Amani qual o nome daquela flor diferente lá fora?

–Qual flor você quer dizer querida? Há muitas diferenças por aqui.

–Aquela branca com folhas roxas e amarelas. Achei-a tão excêntrica, mas também muito bonita.

– Oh sim, aquela flor é uma das nossas plantas mais preciosas, chama-se Orfânis. Quando nosso povo adentrou este solo, ela já estava enraizada aqui. Os mais antigos dizem que ela detém o poder do renascimento.

–Como assim renascimento? A pessoa nasce de novo?

– É o que sempre foi dito querida. Se uma pessoa morrer ou estiver prestes a morrer, a planta tem o poder para curá-la.

–Minha nossa! Isso é tão incrível.

– É claro que tem ressalvas Melina. Orfânis é uma criação de nosso Ser superior, ele controla a natureza e detém o poder sobre o efeito da planta. Pode ser que não o julgue justo para renascer no
momento, daí ela não terá efeito algum. Mas se o achar digno de tal honra, aí sim a pessoa retornará à vida. Mas ainda há aldeões que têm uma versão diferente a ser contada.

– E você concorda com o que me disse, Amani?

– Eu lhe conto o que o destino me diz querida.

Sempre que Amani dizia que o ouvia coisas do destino, Melina arrepiava-se toda. A velha senhora dizia tudo com muita convicção. Elas logo se enredaram em assuntos rotineiros, e quando Melina deu por si já estava na hora de ir para o treinamento.
Antes que chegasse a arena as meninas a encontraram no meio do caminho e informaram-lhe de que não haveria treino hoje, o calor na arena aberta os desconcentrariam.

Então felizmente Porã os havia liberado aquela tarde, com rapidez elas decidiram ser uma hora hora para lhe apresentarem a cachoeira, que ficava ao meio de umas das trilhas da tribo. Melina achou uma ótima ideia, elas correram para a cabana e vestiram shorts e camisetas, logo retornando para fora. Melina não gostava muito de shorts, sempre usava a habitual calça cargo de tecido largo e simples. Era o que facilitava no dia a dia e tampava o que ela chamava de suas pernas de graveto. Ela não era corpulenta como as índias, antes mesmo de chegar a tribo, seu corpo aparentemente magro já a incomodava, mas com as calças disfarçava, e as outras índias também usavam-na diariamente. Em muitos momentos via as mulheres de vestidos, shorts ou saias longas, nada muito elaborado, mas também não eram trapos. Eram roupas bem estruturadas e bonitas para índios. Ela havia mudado totalmente sua visão sobre como viviam um povo indígena, calor que não eram todas como os Aikaranis, mas eles também não eram como nos livros que lia, eram muito melhores.

Melina divagou tanto em seus pensamentos que só se deu conta de onde estavam quando ouviu um barulho alto de queda d'água. Ela arregalou os olhos com a grande cachoeira a sua frente, era tão alta que precisava esticar o pescoço para ver o início. Ela caia como um véu por entre as grandes pedras e as folhas verdes, terminando em um lago de águas cristalinas que parecia serpentear-se por toda floresta. Algo logo lhe veio à mente, seria ela responsável pelo deságue do grande rio Bogan na cidadela? Bom, era provável que sim.

As meninas logo entraram na água, muito alegres e sorridentes. Melina as seguiu com entusiasmo, começaram com brincadeiras de uma jogar água
na outra, depois competiram por quem nadaria melhor e por último apenas ficaram banhando-se e conversando.

A Batalha dos Lobos Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt