TENSÃO

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Boa tarde, gurias. Tudo bem por ai? Espero que sim, apertem os cintos e lá vamos nós.



Após sair do mar, Valentina dizia se sentir bem melhor da ressaca, começamos a nos organizar para almoçar e ela sugeriu pedirmos algumas porções e comermos ali mesmo, todos adoraram a ideia.

- Já comeram acarajé? - ela perguntou.

- Ainda não - respondi enquanto os outros disseram que não tinham experimentado ainda, com exceção de Vanessa, que já havia comido.

- Podemos pedir uma porção para vocês experimentarem, tem abará, que é a mesma massa de feijão fradinho do acarajé, mas cozida no vapor, e queijo coalho também, caso não gostem dos outros dois - ela comentou.

- Podemos pedir uma porção de cada - Gui sugeriu.

- Pode ser - Valentina concordou - Eu vou lá na baiana fazer o pedido, depois os meninos trazem aqui.

- Pode ser.

Ela foi até a baiana mais próxima e fez os pedidos conforme combinamos e logo retornou. Um rapaz trouxe os pedidos em bandejas e entregou. Nós experimentamos aos poucos e segundo comentários, todos amaram. Era um sabor diferente, mas muito gostoso. Eu ainda não tinha provado o acarajé, apenas o abará, confesso que fiquei apreensiva, pois não estava acostumada a comer comidas tão fortes.

- Vai provar não? - Valentina me perguntou.

- Não sei, se eu não gostar você vai se decepcionar - falei.

- Não vou - ela disse rindo - Só se você não provar, aí é chato, conhecer a Bahia e não comer comida de Santo.

- Comida de Santo? - perguntei interessada.

- É originário das religiões de matriz africana. Foi criado na época das alforrias, as mulheres negras utilizavam a venda do Acarajé para, além de prover sustento, comprar alforrias. Dizem que foi Iansã que ensinou a receita a elas e hoje é patrimônio histórico cultural brasileiro - contava com simplicidade e todos prestamos atenção como se fosse uma aula.

- Tá, depois disso, eu vou ser obrigada a provar mesmo - me rendi encantada com as informações.

- Vem cá - ela pegou um pedaço do que ela estava comendo e levou até a minha boca.

Comi um pedaço muito pequeno e para a minha alegria, gostei ainda mais do que o Abará, quando falei a ela, vi sua expressão de felicidade. Enquanto isso, percebi todos olhando a cena como se derretessem.

- Ué, plateia? - perguntei constrangida.

- Desculpa, me distraí até desse paraíso com essa boiolice de vocês - Cris falou enquanto bebia o restante do seu suco.

Ficamos o restante da tarde na beira da praia, inclusive o amigo de Valentina, Tete, apareceu com um violão e sentou conosco para aproveitar o resto do dia. Combinaram o forró para mais tarde na pousada entre uma música e outra e assim foi se formando um grupo de pessoas na volta, logo alguém chegou com um pandeiro, mais um violão e o samba estava formado.

Nós cantávamos Desde que o Samba é Samba de Caetano Veloso e Gilberto Gil, depois de uma discussão ferrenha entre baianos e cariocas sobre a qual estado pertence de fato o samba, discussão essa que acabou em música e muitas risadas. Quando a música acabou tive a impressão de ouvir alguns gritos distantes, o sorriso de Valentina sumiu e ela se atentou ao mesmo som, assim como os outros.

Antes que eu pudesse identificar ela levantou e saiu correndo em direção ao mar, nós levantamos e caminhamos mais para perto da água e percebemos um grupo de crianças mais para a esquerda de onde estávamos em desespero e ao fundo alguém claramente se afogando.

Mundo de IlusõesWhere stories live. Discover now